O crescente envolvimento de Elon Musk na política americana e internacional tem levantado sérias questões sobre o futuro da Tesla, sua principal empresa de carros elétricos. Investidores demonstram preocupação com o impacto das ações políticas do bilionário, especialmente após o apoio explícito ao ex-presidente Donald Trump e a partidos de extrema direita na Europa. Essa aproximação levanta debates, especialmente quando consideramos que Trump ameaça impor tarifas recíprocas, o que poderia afetar a economia global.
Um dos momentos que acentuou essa preocupação foi a aparição de Trump ao lado de Musk e de um Tesla Model S vermelho em frente à Casa Branca. O ex-presidente declarou a intenção de comprar o veículo elétrico para uso de sua equipe, pagando o preço integral.
O endosso ocorreu em meio a um cenário de críticas ao envolvimento político de Musk e após uma significativa queda nas ações da Tesla. A situação é ainda mais complexa considerando que a infraestrutura de recarga de veículos elétricos cresce no Brasil, um mercado importante para a Tesla.
Reação do mercado e protestos
A busca por apoio político por parte de Musk sugere que protestos, boicotes de consumidores e até atos de vandalismo contra veículos, estações de recarga e fábricas da Tesla têm afetado o empresário e assustado investidores. Trump chegou a classificar os incidentes como “terrorismo doméstico”.
Analistas questionam se a queda nas vendas da Tesla está diretamente ligada ao posicionamento político de Musk. Na Alemanha, por exemplo, onde Musk manifestou apoio ao partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD), as vendas da Tesla registraram uma queda de 76% em fevereiro em relação ao ano anterior. Em contraste, as vendas de veículos elétricos em geral no país aumentaram quase um terço no mesmo período.
Tendências similares foram observadas em outros mercados, como França (queda de quase 45% nas vendas da Tesla nos dois primeiros meses do ano) e Austrália (queda de mais de um terço nos quatro meses desde a reeleição de Trump). Na Califórnia, principal mercado de veículos elétricos nos EUA, as vendas da Tesla caíram pelo quinto trimestre consecutivo.
Consumidores parecem estar se afastando da marca, com proprietários da Tesla expressando sua oposição à guinada política de Musk por meio de adesivos em seus veículos, com frases como “Tesla vintage – edição pré-loucura” e “Comprei este carro antes de Elon enlouquecer”.
Seth Goldstein, analista da Morningstar, afirmou que Musk parece acreditar que pode dizer o que quiser sem que a Tesla sofra consequências, mas ressalta que a empresa agora enfrenta maior concorrência.
Uma pesquisa recente da Strategic Vision revelou que, embora eleitores republicanos e democratas prefiram veículos elétricos, nenhum deles escolheu a Tesla como sua marca favorita.
Daniel A. Crane, professor de direito da Universidade de Michigan, observou que a Tesla era fortemente associada a preocupações ambientalistas e atraía eleitores de esquerda. No entanto, nos últimos anos, Musk teria “queimado suas pontes” com esses grupos.
Crane também argumenta que, apesar da crença de Musk de que a Tesla pode contar com o apoio da direita, os eleitores do movimento “Make America Great Again” (MAGA) tendem a ser mais céticos em relação aos veículos elétricos.
Queda nas ações e envolvimento no governo Trump
A intensa concorrência no mercado de veículos elétricos tem provocado uma significativa queda nas ações da Tesla. Nos últimos três meses, as ações da empresa perderam quase metade de seu valor. Musk também viu sua fortuna diminuir em US$ 144 bilhões no mesmo período. E
Além de seu papel como CEO da Tesla, Musk tem atuado como conselheiro próximo de Donald Trump, liderando o Departamento de Eficiência Governamental (Doge). Sua atuação tem gerado relatórios diários sobre a redução de gastos públicos, o que tem sido elogiado por alguns eleitores, mas criticado por ativistas, acadêmicos e legisladores que questionam a falta de supervisão adequada.
Contratos governamentais e conflitos de interesse
A crescente influência de Musk no governo Trump tem gerado preocupações sobre possíveis conflitos de interesse, especialmente devido aos contratos de suas empresas com o governo federal, que somam entre US$ 18 bilhões e US$ 22 bilhões. Além disso, as empresas de Musk foram investigadas ou multadas mais de 30 vezes por diversas agências do governo americano.
Investidores questionam se Musk não está dedicando tempo demais à política, em detrimento da gestão da Tesla. Brad Lander, controlador da cidade de Nova York, defende que Musk deveria deixar o cargo de CEO da Tesla, permanecendo apenas no conselho.
Dan Ives, analista da Wedbush Securities, acredita que Musk precisa abandonar seu compromisso com o governo Trump e focar em seu papel como CEO da Tesla para estancar a queda das ações da empresa.
Uma pesquisa do Morgan Stanley revelou que 85% dos investidores acreditam que o envolvimento de Musk na política tem um impacto negativo sobre os negócios da Tesla.
O próprio Musk admitiu estar enfrentando dificuldades para conciliar seus compromissos, mas parece ter reforçado seu apoio à presidência de Trump, planejando injetar US$ 100 milhões em grupos pró-Trump.
Ao ser fotografado ao lado de Trump com carros da Tesla na Casa Branca, Musk afirmou que permanecerá em Washington enquanto for útil, mas manterá o cargo de CEO da Tesla.
Quer receber as principais notícias do Portal N10 no seu WhatsApp? Clique aqui e entre no nosso canal oficial.
