O mercado financeiro brasileiro vivenciou um dia de forte recuperação nesta quinta-feira (30), com o Ibovespa registrando sua maior alta diária em quase dois anos, um salto de 2,82%. O índice, que encerrou o dia em 126.913 pontos, alcançou seu maior patamar desde 11 de dezembro, acumulando uma valorização de 5,5% no ano. O volume de negociação também impressionou, atingindo quase R$ 18 bilhões, um aumento de 10% em relação à média diária dos últimos 12 meses, que é de R$ 16,4 bilhões.
Essa reviravolta no mercado ocorreu após uma série de eventos que contrariaram as expectativas iniciais. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central havia sinalizado a possibilidade de novas altas na taxa Selic, atualmente em 13,25% ao ano, o que, em tese, seria um sinal negativo para a bolsa de valores. No entanto, a divulgação de dados econômicos nos Estados Unidos e no Brasil, juntamente com declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mudaram o panorama.
Cenário global e impacto nos Juros
Nos Estados Unidos, o Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre apresentou um crescimento abaixo do esperado, indicando uma desaceleração da economia. Essa notícia, em vez de ser vista como negativa, foi interpretada como um sinal de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) poderia adotar uma política monetária mais branda, abrindo espaço para cortes nas taxas de juros. No Brasil, a criação de vagas de trabalho formais também ficou aquém do previsto em 2024, o que levou o mercado a acreditar que o risco de um repique inflacionário diminuiu.
Esses fatores, combinados, levaram a uma queda nas expectativas de juros futuros em ambos os países. No Brasil, a taxa de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 caiu de 15,20% para 14,85% ao ano. Para prazos mais longos, como janeiro de 2029, a taxa recuou de 15,15% para 14,77% ao ano, e para janeiro de 2036, de 14,87% para 14,65%. A queda nos juros dos títulos públicos americanos (Treasuries) também contribuiu para o enfraquecimento do dólar.
O dólar comercial fechou o dia com queda de 0,24%, cotado a R$ 5,85, acumulando a nona queda consecutiva – a maior sequência de baixa em sete anos e meio. No acumulado do ano, a moeda americana já se desvalorizou 5,3% em relação ao real.
Falado de Lula e desempenho do Ibovespa
Além dos dados econômicos, as falas do presidente Lula tiveram um papel crucial no otimismo do mercado. Lula garantiu a independência do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, e adotou um tom mais compreensivo sobre os apertos na Selic. “Não tem como o presidente do BC dar cavalo de pau em mar revolto“, afirmou Lula, sinalizando que não pressionará o BC por quedas nos juros em um cenário adverso.
O presidente também reforçou seu compromisso com a meta fiscal, mostrando preocupação com a contenção das despesas federais. E, para corroborar o discurso, o governo central cumpriu a meta fiscal em 2024, com um déficit de R$ 11 bilhões, equivalente a 0,09% do PIB, um resultado melhor do que o previsto inicialmente. É importante frisar que os resultados do Tesouro Nacional, Previdência Social e BC foram considerados, excluindo as despesas com a dívida pública e as despesas do governo federal com a calamidade do Rio Grande do Sul.
Com todos esses fatores, 83 das 87 ações que compõem o Ibovespa registraram alta, com destaque para as ações da Vale, que subiram 4,22% após Lula anunciar que pretende realizar uma reunião para discutir os obstáculos da mineração. O setor de siderurgia e mineração disparou no pregão de hoje, impulsionado também por notícias internacionais de que a equipe de Donald Trump ainda não tomou decisões sobre tarifas universais e para a China.
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