O Brasil registrou um aumento significativo nos pedidos de recuperação judicial, atingindo a marca de 2.273 solicitações em 2024, o maior número já registrado no país. O crescimento de 61,8% em relação a 2023 superou o recorde anterior de 2016, quando 1.863 empresas recorreram a essa medida. O levantamento da Serasa Experian aponta que as Micro e Pequenas Empresas (MPEs) foram as mais afetadas, representando a maior parte dos pedidos.
Entre as solicitações registradas no ano passado, 1.676 partiram de MPEs, enquanto as médias empresas responderam por 416 pedidos e as grandes companhias por 181. O setor de Serviços foi o mais impactado, com 928 solicitações, seguido pelo Comércio, que somou 575. Em um movimento contrário, os pedidos de falência tiveram uma leve retração de 3,5% na comparação com 2023.
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De acordo com a análise da Serasa Experian, fatores como as taxas de juros elevadas e uma inflação acima da meta de 4,5% contribuíram para o aumento do endividamento das empresas, levando muitas delas à necessidade de recorrer à recuperação judicial. O cenário desafiador exige medidas estratégicas para garantir a sustentabilidade dos negócios, e especialistas alertam para a importância de uma gestão contábil eficiente.
Segundo Gustavo Vieira, diretor da Rui Cadete, a contabilidade deve ser encarada como um pilar estratégico dentro das empresas. “A contabilidade vai muito além de cumprir obrigações fiscais. Ela precisa fornecer informações precisas para a tomada de decisões. Um planejamento financeiro bem estruturado permite antecipar desafios, identificar oportunidades de redução de custos e garantir uma gestão mais saudável. Sem esse suporte, muitas empresas acabam entrando em um ciclo de endividamento que, a longo prazo, pode levar à necessidade de recuperação judicial”, destaca.
Grandes marcas enfrentam dificuldades financeiras
Nos últimos anos, diversas empresas conhecidas passaram por processos de recuperação judicial como alternativa para reorganizar suas finanças. Entre os casos mais recentes estão Avon e Gol Linhas Aéreas, que entraram com pedidos nos Estados Unidos. No Brasil, gigantes como Americanas, Casas Bahia, 123 Milhas, Oi, Marisa, Nexpe (antiga Brasil Brokers) e Tok&Stok também recorreram a essa medida. A Bombril foi uma das últimas a ter seu pedido de recuperação judicial aceito pela Justiça.
O aumento de pedidos entre grandes empresas reforça a necessidade de um controle financeiro mais rígido. Segundo Vieira, a chamada “contabilidade construtiva” pode ajudar a evitar esse cenário. “Muitas empresas chegam ao ponto de pedir recuperação judicial porque faltou planejamento e controle adequado ao longo do tempo. A contabilidade construtiva trabalha para evitar que os problemas financeiros se agravem a esse ponto”, explica.
Apesar de ser um instrumento essencial para empresas em crise, a recuperação judicial não pode ser vista como uma solução definitiva, alerta Vieira. “Uma empresa em dificuldades precisa repensar sua gestão financeira e operacional. O acompanhamento contábil não deve acontecer apenas em momentos de crise, mas como parte de uma estratégia contínua de crescimento e estabilidade”, conclui.