Do “Trampolim da Vitória” ao Parque Digital: o plano para reconectar Parnamirim com o futuro

Durante a Segunda Guerra Mundial, a Base Aérea de Parnamirim foi uma das mais importantes do hemisfério sul
Do “Trampolim da Vitória” ao Parque Digital: o plano para reconectar Parnamirim com o futuro
Parque Tecnológico 'Parnamirim Aeroporto Digital'

O anúncio feito pela prefeita Professora Nilda, durante encontro com oficiais da Aeronáutica, é ambicioso: transformar o antigo espaço do Aeroporto Augusto Severo em um Parque Tecnológico de referência regional. Batizado de Parnamirim Aeroporto Digital, o projeto será instalado no terreno que, durante décadas, gerou receita, empregos e visibilidade para o município.

Mas a verdade é que a cidade — que já teve um aeroporto internacional funcionando em plena capacidade — passou os últimos anos apenas acumulando promessas e perdendo relevância logística. O Parque Tecnológico pode ser um passo ousado. Pode, inclusive, ajudar a recuperar parte da economia local. Mas ainda é preciso lembrar o que foi perdido — e o que nunca foi recuperado.

O Aeroporto Internacional Augusto Severo, fechado em 2014 após a inauguração do Aeroporto de São Gonçalo do Amarante, representava muito mais do que voos e desembarques. Ele movimentava hotéis, restaurantes, locadoras, comércios e uma cadeia econômica que orbitava naturalmente seu entorno. Além disso, mantinha Parnamirim em posição estratégica na logística aérea nacional.

Com o fechamento do terminal civil e a transferência das operações para o novo aeroporto privado, Parnamirim ficou com o esqueleto: o antigo terminal virou espaço ocioso, de uso eventual por órgãos militares. A economia local murchou, e a ausência de um plano sólido de reocupação da área virou bandeira de campanha.

A herança do “Trampolim da Vitória”

Durante a Segunda Guerra Mundial, a Base Aérea de Parnamirim foi uma das mais importantes do hemisfério sul. De lá decolaram aviões aliados, reabasteceram aeronaves, circularam tropas. O mundo conheceu Parnamirim. Décadas depois, o município tenta recuperar essa aura com um novo propósito: a inovação tecnológica com foco em aviação e startups.

O projeto anunciado agora é esse: criar um polo de tecnologia e conhecimento na mesma área que um dia foi o centro da mobilidade aérea do estado.

A prefeita Nilda, ladeada por membros da Força Aérea e pelo secretário Kelps Lima, firmou parceria com a Aeronáutica para ocupação planejada do espaço. O projeto prevê instalação de empresas de tecnologia, centros de pesquisa e instituições de ensino, com foco prioritário em inovação aeronáutica, mas também com espaço para outros segmentos criativos e digitais.

Estamos dando um passo firme e ousado rumo ao futuro. Nosso sonho é fazer com que o nome de Parnamirim volte a ecoar no mundo, agora como uma cidade inteligente, inovadora e conectada às novas economias”, declarou a prefeita Nilda.

É uma aposta simbólica e pragmática. O município perdeu um aeroporto civil, mas tenta, agora, transformar a perda em oportunidade, retomando o protagonismo com outra lógica: a da inovação.

O eco das promessas de campanha

Durante a campanha municipal de 2024, o retorno do aeroporto Augusto Severo foi assunto comum entre candidatos. De diferentes espectros, muitos prometeram “correr atrás” da reativação do terminal para voos comerciais, chegando a citar articulações junto à Infraero e ao Governo Federal.

Na prática, a reativação nunca avançou — e o Parque Tecnológico agora aparece como alternativa viável ao retorno econômico perdido com o fim da operação comercial do aeroporto.

A diferença? O parque depende exclusivamente do município e da Aeronáutica. Não exige concessões federais, nem disputa com o aeroporto privado de São Gonçalo. Mas também carrega outro risco: o da estagnação por falta de continuidade, recursos ou adesão real do setor privado.

A iniciativa da Prefeitura é válida. Merece reconhecimento. Mas ela precisa sobreviver à gestão atual. Parques tecnológicos exigem continuidade política, articulação com universidades e incentivo fiscal claro para atrair empresas.

Parnamirim já perdeu demais com a falta de planejamento nos últimos anos. Agora, o desafio não é apenas abrir salas para startups. É criar um ecossistema vivo, que funcione além das solenidades e dos anúncios.

Nesse sentido, a liderança técnica do secretário Kelps Lima pode ser um diferencial. Mas é preciso incluir também a sociedade civil, instituições de ensino como IFRN e UFRN, e criar uma governança que garanta perenidade ao projeto.

Se o parque vingar, será a correção histórica de um erro logístico nacional. Se não, será apenas mais um capítulo do livro das oportunidades desperdiçadas.

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