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Mauro Cid detalha à PF ‘minuta do golpe’, gabinete do ódio e venda de joias no governo Bolsonaro

Segundo o relato de Cid, Bolsonaro pretendia sondar o posicionamento das Forças Armadas em relação à conjuntura política da época.

Em acordo de colaboração premiada com a Polícia Federal (PF), o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), revelou detalhes sobre a apresentação de uma minuta golpista aos comandantes das Forças Armadas, a atuação do chamado “gabinete do ódio” e a venda de joias recebidas pelo ex-presidente.

Cid afirmou que Bolsonaro apresentou a minuta golpista – um esboço de decreto para contestar o resultado das eleições de 2022 – aos chefes militares, buscando apoio para a medida. A reunião, ocorrida no Palácio da Alvorada, contou com a presença do então comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, do Exército, general Freire Gomes, e da Aeronáutica, brigadeiro Batista Júnior.

Segundo o relato de Cid, Bolsonaro pretendia sondar o posicionamento das Forças Armadas em relação à conjuntura política da época. O delator indicou divergências entre os comandantes: Garnier teria se mostrado favorável a uma intervenção militar, enquanto Batista Júnior se opôs veementemente a qualquer tentativa de golpe, e Freire Gomes adotou uma postura mais ponderada.

Os grupos de influência em torno de Bolsonaro

Cid identificou três grupos distintos que influenciavam o ex-presidente:

  • Conservador: Aconselhava Bolsonaro a aceitar o resultado das eleições e liderar a oposição. Faziam parte desse grupo o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o então Ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, e o então Comandante da Aeronáutica, o Brigadeiro Batista Junior.
  • Moderado: Entendia que não havia alternativa após a eleição e rejeitava a ideia de um novo regime militar. Esse grupo era formado por generais da ativa, como o general Freire Gomes, comandante do Exército na época, e Paulo Sergio Nogueira, então ministro da Defesa.
  • Radical: Defendia a tese de fraude nas urnas. Entre os integrantes, Cid citou o general Eduardo Pazzuelo, ex-ministro da Saúde, e o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto. Filipe Martins, ex-assessor internacional de Bolsonaro, também foi apontado como um dos mais radicais, favorável a um golpe de Estado e a prisão de autoridades como os ministros do STF Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes e o então presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Atuação do ‘Gabinete do Ódio’

Cid também detalhou o funcionamento do chamado “gabinete do ódio”, um grupo que atuava no Palácio do Planalto e era responsável pela estratégia de comunicação digital de Bolsonaro, adotando um tom agressivo contra adversários políticos. O grupo era composto por Tércio Arnaud Tomaz, José Mateus (Sales Gomes) e Mateus (sobrenome não identificado por Cid).

O ex-ajudante de ordens afirmou que o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente, comandava as ações do grupo nas redes sociais, determinando o conteúdo a ser divulgado. A existência desse gabinete paralelo já havia gerado divergências dentro da família Bolsonaro. 

Venda de joias e entrega de valores a Bolsonaro

Em sua delação, Mauro Cid confessou ter entregado US$ 86 mil em espécie a Jair Bolsonaro, provenientes da venda de joias recebidas como presentes durante o mandato presidencial. Os valores foram obtidos com a venda de relógios Rolex e Patek Philippe em uma loja na Filadélfia (US$ 68 mil) e de outras joias em Miami (US$ 18 mil).

O dinheiro foi entregue em diferentes ocasiões para evitar rastreamento bancário. Cid relatou que Bolsonaro alegou que precisava do dinheiro para pagar despesas como multas, processos judiciais e custos de transporte de seu acervo pessoal. 

O general da reserva Mauro César Lourena Cid, pai de Mauro Cid, auxiliou na venda das joias e na entrega dos valores a Bolsonaro. Os repasses foram feitos em Nova York, Brasília e Miami.

Denúncia da PGR e possível Ação Penal

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, denunciou Bolsonaro e outras 33 pessoas por crimes como tentativa de abolição violenta do estado democrático de direito, golpe de estado, organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.

Caso o Supremo Tribunal Federal (STF) aceite a denúncia, os acusados se tornarão réus em uma ação penal. A denúncia da PGR contra Bolsonaro por tentativa de golpe gera reações de aliados e militares gerou diversas reações.

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Brunna Mendes

Gestão Hospitalar (UFRN), 28 primaveras, sagitariana e apaixonada por uma boa leitura, séries, filmes e Netflix.

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