Um novo estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Washington em St. Louis sugere uma ligação complexa entre gordura corporal e saúde cerebral, indicando que a gordura abdominal profunda pode ser um indicador precoce da doença de Alzheimer, até 20 anos antes dos primeiros sintomas de demência aparecerem.
Embora um Índice de Massa Corporal (IMC) elevado na meia-idade seja um fator de risco significativo para demência, a pesquisa aponta que a medição geral de gordura corporal não é o melhor preditor de declínio cognitivo. A pesquisa, apresentada na reunião anual da Radiological Society of North America, focou em um tipo específico de gordura: a gordura visceral, aquela localizada profundamente no abdômen, ao redor dos órgãos.
De acordo com a autora principal, Mahsa Dolatshahi, o resultado crucial do estudo é a associação entre uma maior proporção de gordura visceral na faixa dos 40 ou 50 anos e a presença de placas de proteína amiloide no cérebro. Essas placas, embora não sejam sempre um sinal definitivo de Alzheimer, podem indicar um estágio inicial de declínio cognitivo.
Dolatshahi destaca que, diferente de estudos anteriores que relacionavam o IMC à atrofia cerebral ou risco aumentado de demência, esta pesquisa associa um tipo específico de gordura à proteína característica do Alzheimer em indivíduos cognitivamente normais.
O estudo utilizou ressonância magnética (MRI) para caracterizar a gordura corporal com maior precisão, revelando insights importantes sobre como a obesidade pode aumentar o risco de Alzheimer. Resultados iniciais, publicados em um estudo piloto com 32 adultos (de 40 a 60 anos) com cognição normal, mostraram que indivíduos com maior gordura visceral apresentaram maior patologia amiloide no córtex cerebral direito e córtex mais fino em algumas áreas associadas ao Alzheimer.
A pesquisa foi expandida, incluindo dados de 80 indivíduos, mostrando que a proporção de gordura visceral para gordura subcutânea na barriga está ligada ao aumento de amiloide no cérebro, representando 77% do efeito do IMC alto no acúmulo de amiloide.
A equipe também observou que níveis mais baixos de colesterol HDL (‘bom colesterol’) estavam associados a maiores níveis de amiloide no cérebro dos participantes. A produção de colesterol é influenciada pela gordura visceral, e estudos anteriores já vincularam os níveis de colesterol à demência.
Curiosamente, um estudo recente sugeriu que altos níveis de colesterol HDL podem aumentar o risco de demência em até 42% em adultos mais velhos. Além disso, uma maior proporção de gordura visceral também foi associada à redução nos níveis de insulina. Outro estudo recente descobriu que a resistência à insulina está associada à redução mais rápida do volume cerebral, aumentando significativamente o risco de problemas cognitivos posteriormente na vida.
Embora a relação entre a saúde do corpo e do cérebro seja complexa, e mais pesquisas sejam necessárias para compreender completamente o desenvolvimento do Alzheimer em indivíduos com IMC mais elevado, a pesquisa reforça a importância da atividade física regular e de uma dieta saudável como medidas protetoras para a saúde do cérebro e do corpo.
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