Em uma manobra para contornar as tarifas impostas pelo então presidente dos EUA, Donald Trump, sobre produtos chineses, a Apple fretou seis jatos cargueiros para transportar aproximadamente 1,5 milhão de iPhones da Índia para os Estados Unidos.
A estratégia, mantida inicialmente em sigilo, permitiu à empresa evitar sobretaxas de até 145% que seriam aplicadas a importações originadas da China, principal base de fabricação da companhia. Segundo a Reuters, os aviões, cada um com capacidade de 100 toneladas, começaram a operar em março, com um deles decolando na semana em que as novas tarifas entraram em vigor. A operação movimentou 600 toneladas de aparelhos, considerando que o peso embalado de um iPhone 14 com carregador é de cerca de 350 gramas.
Essa ação da Apple reflete uma reorganização da cadeia produtiva global de tecnologia, motivada pelas tensões comerciais entre Washington e Pequim. Analistas já haviam alertado sobre a alta dependência da Apple da China e os riscos financeiros associados. Com as novas tarifas, estimava-se que o preço do iPhone 16 básico poderia subir de US$ 799 para US$ 1.637,95.
Inicialmente, a decisão de enviar os aparelhos da Índia visava aproveitar a alíquota de 26% vigente para produtos indianos, consideravelmente menor que a imposta à China. Posteriormente, Trump suspendeu por 90 dias a aplicação de tarifas sobre países fora do eixo chinês, mantendo, no entanto, uma taxação universal de 10%. A China foi a única excluída dessa trégua, sujeita ao peso integral das sobretaxas. O impacto dessas tarifas foi tão significativo que chegou a afetar o setor automotivo brasileiro.
Rapidez na operação
Para assegurar o sucesso da operação, a Apple negociou com as autoridades aeroportuárias indianas no terminal de Chennai, buscando acelerar o processo alfandegário. O tempo médio de liberação, de 30 horas, foi reduzido para seis, garantindo que os voos partissem dentro do prazo antes da aplicação das tarifas. A elevação das tarifas pressionou a Apple a agir rapidamente.
A Índia, consolidando-se como um polo estratégico para a Apple, desempenhou um papel importante na resposta da companhia ao novo cenário comercial. A maior fábrica da Foxconn em território indiano, localizada em Chennai, passou a operar inclusive aos domingos para dar conta de um aumento de 20% na produção, conforme planejado pela Apple.
No ano anterior, a Foxconn produziu 20 milhões de iPhones na Índia, incluindo modelos como os iPhone 15 e 16. Atualmente, estima-se que 20% das importações de iPhone para os EUA já partem da Índia, de acordo com a consultoria Counterpoint Research. O restante ainda é proveniente da China, que mantém a dominância na produção global. A dependência da China e as ameaças de Trump, aceleraram a busca por alternativas.
Além da Foxconn, a Apple conta com a parceria da indiana Tata na fabricação de iPhones. Juntas, as empresas operam três fábricas no país e têm mais duas unidades em construção. Esse esforço de descentralização da produção chinesa foi impulsionado por tensões políticas e por interesses econômicos da Apple em diversificar seus centros de montagem.
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