Saúde e bem-estar

Exposição ao som excessivo em festas de fim de ano acende alerta para a saúde auditiva

O excesso de ruído durante as comemorações de fim de ano é uma preocupação crescente entre especialistas que estudam os impactos da poluição sonora na saúde. Mesmo exposições eventuais a altos níveis de som podem causar danos, particularmente ao sistema auditivo, resultando em zumbidos ou perda de audição.

Karla Vasconcelos, professora de fonoaudiologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), explica que a poluição sonora é caracterizada por altos níveis de intensidade sonora em diversos ambientes, incluindo academias, trânsito, fábricas, bares, indústrias e shows. Ela enfatiza que a associação comum entre diversão e música alta pode levar a prejuízos à saúde, especialmente a auditiva. A percepção de zumbido após exposição a ruídos intensos pode persistir, afetando a rotina profissional e social e impactando a saúde mental.

Vasconcelos argumenta que a poluição sonora deve ser tratada como uma questão de saúde pública, pois causa problemas que vão além da perda auditiva, como irritabilidade, distúrbios do sono e doenças metabólicas, cardiovasculares e digestivas. O estresse causado pela exposição a sons elevados também perturba o sossego, podendo levar a situações trágicas.

Para Rafael Andrade, coordenador do Comitê de Acústica Ambiental da Associação Brasileira para a Qualidade Acústica (ProAcústica), a poluição sonora são emissões sonoras que causam desequilíbrio ambiental e riscos à saúde e bem-estar. Ele destaca que, por não deixar marcas visíveis, a poluição sonora é muitas vezes negligenciada, devido à falta de consciência sobre suas consequências a longo prazo.

Impactos na Saúde

Embora os danos causados pelo ruído sejam frequentemente associados à perda auditiva, Andrade ressalta que diversos efeitos negativos podem surgir antes da perda auditiva propriamente dita, com impactos fisiológicos e psicológicos. A dificuldade de ouvir causada pelo excesso de barulho é conhecida como Perda Auditiva Induzida por Níveis de Pressão Sonora Elevados (PAINPSE).

A exposição ao ruído eleva os níveis de estresse, liberando hormônios como o cortisol. Altos níveis de cortisol no organismo podem aumentar a pressão arterial e o risco de problemas cardiovasculares, como arritmias e infartos. Do ponto de vista psicológico, o ruído pode causar irritabilidade, ansiedade, problemas de memória e concentração. Crianças em fase escolar são particularmente vulneráveis, pois o ruído pode prejudicar o aprendizado e o desenvolvimento cognitivo. A qualidade do sono também é afetada, resultando em fadiga.

Níveis de Ruído

A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que ruídos acima de 75 decibéis (dB) são prejudiciais à audição. No Brasil, a legislação estabelece que o nível máximo de ruído para trabalhadores em jornadas de 8 horas é de 80 dB. O tempo máximo de exposição varia de acordo com a intensidade sonora. Uma tabela da Universidade de São Paulo (USP) indica que, para ruídos de 85 dB, o tempo máximo é de 8 horas; 90 dB, 4 horas; 95 dB, 2 horas; 100 dB, 1 hora; 105 dB, 30 minutos; e 110 dB, 15 minutos. Karla Vasconcelos adverte que fogos de artifício e shows podem ultrapassar os 120 dB.

Qualquer som de alta intensidade pode danificar as células ciliadas do sistema auditivo, responsáveis pela decodificação de energia mecânica em estímulos elétricos. Essas células não se regeneram, tornando o dano permanente.

De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2,3 milhões de brasileiros (1,1%) têm deficiência auditiva. A exposição prolongada a sons acima de 85 decibéis é um dos fatores que podem levar a essa condição.

Recomendações

Para preservar a saúde auditiva, recomenda-se reduzir o volume de fones de ouvido e utilizar protetores auriculares em locais ruidosos. Existem protetores que mantêm a qualidade do som, ideais para shows. Em festas em casa, evite som alto para facilitar a comunicação e evitar problemas com a vizinhança. Não durma com a televisão ou música ligadas, pois esses ruídos prejudicam o sono.

Andrade também destaca a poluição sonora urbana e de veículos, recomendando a instalação de janelas antirruído. Ele reforça a importância de cobrar o poder público para gerenciar o tráfego nas cidades, visando um melhor ambiente acústico urbano.

O que diz a Lei

O artigo 42 da Lei de Contravenções Penais prevê punição para quem perturbar o trabalho ou sossego alheio com gritaria, algazarra ou instrumentos sonoros. A Lei de Crimes Ambientais pune com um a quatro anos de prisão quem causar poluição que prejudique a saúde. Vasconcelos enfatiza a importância da educação e conscientização da população para garantir o respeito às regulamentações.

Ministério da Saúde

O Ministério da Saúde alerta que ouvir sons altos por longos períodos pode causar perda auditiva temporária ou permanente e zumbido. A OMS estima que mais de 1 bilhão de pessoas entre 12 e 35 anos correm risco de perder audição por exposição a música alta e outros sons recreativos.

O padrão global para audição segura em eventos recomenda nível sonoro máximo de 100 decibéis, monitoramento dos níveis de som por pessoal treinado, otimização da acústica do local, proteção auditiva individual para o público, acesso a zonas de silêncio e treinamento para os trabalhadores. O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamento gratuito e integral para a saúde auditiva, desde a prevenção até a reabilitação.

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Brunna Mendes

Gestão Hospitalar (UFRN), 28 primaveras, sagitariana e apaixonada por uma boa leitura, séries, filmes e Netflix.

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