O ex-presidente Jair Bolsonaro foi formalmente intimado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) enquanto estava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital DF Star, em Brasília. A citação, realizada por uma oficial de Justiça, foi registrada em vídeo e gerou repercussão imediata nas redes sociais e na imprensa nacional.
A intimação diz respeito ao inquérito que apura uma suposta tentativa de golpe de Estado, investigando ações de Bolsonaro e outros aliados após o resultado das eleições de 2022. A entrega da notificação foi feita no último dia 23 de abril, após autorização médica.
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Na gravação divulgada, Bolsonaro aparece deitado na cama da UTI, se manifestando contra as acusações e desabafando sobre o momento que vive. “Eu nunca aceitei os benefícios do outro lado e estou aqui. O que eu pretendo fazer? Continuar lutando. Não vou sair do Brasil, não vou fugir do Brasil, fique tranquilo. Não vai ter motivo para decretar [prisão] preventiva minha. O que eu quero é ajudar meu país, só isso. Isso é demais?”, afirmou, em referência direta ao andamento do processo.
A equipe médica que acompanha Bolsonaro informou que ele se recupera de uma cirurgia para desobstrução intestinal, mas o próprio ex-presidente, ao vivo em uma transmissão anterior, já havia sinalizado estar apto a receber visitas, o que foi levado em conta pelo STF. Segundo a Corte, “a divulgação de live realizada pelo ex-presidente na data de ontem (22/4) demonstrou a possibilidade de ser citado e intimado hoje (23/4)”.
A intimação marca a formalização da abertura da ação penal contra os investigados do chamado “Núcleo 1”, grupo que inclui Bolsonaro. De acordo com o STF, “a citação dos réus (Núcleo 1), informando o início da ação penal e a intimação para apresentação de defesa, foi determinada em 11 de abril. Todos os réus já haviam sido citados entre os dias 11 e 15 de abril”.
Em sua manifestação gravada, o ex-presidente utilizou termos fortes para criticar a condução do processo. Ele comparou decisões do STF a atos de regimes autoritários. “Eleição sem Jair Bolsonaro é uma negação da democracia. O tribunal do Hitler também cumpriu a missão: botar os judeus na câmara de gás. Todos pagaram seu preço um dia. Não vai ser diferente aqui no Brasil”, disse.
Ainda durante o vídeo, Bolsonaro mencionou diretamente o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF, propondo um debate público. “Sua Excelência, ministro Alexandre de Moraes, eu sei que não faz parte do rito, mas por que Vossa Excelência, já que tem tanta certeza de que eu sou um golpista, que tal nós dois irmos a público, em TV aberta, discutirmos esse processo todo, senhor Alexandre de Moraes? Todo esse processo, nós dois. Não é igual àquelas delações do [Mauro] Cid, aquelas secretas, que vão mudando a cada novo depoimento. Nós dois. Já tem tanta certeza assim de que eu sou um criminoso, vamos lá”, declarou.
O ex-presidente também criticou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), especialmente o ministro Benedito Gonçalves, relator do processo que o tornou inelegível. Em um momento de crítica à atuação dos magistrados, afirmou: “Imagina se eu tivesse o poder do Alexandre de Moraes. Eu ia quebrar o sigilo do ministro Benedito e perguntar para ele o que é ‘missão dada é missão cumprida’. Eu ia buscar, trazer o Alexandre de Moraes para depor também. Assim como outras autoridades do Supremo, perguntar o seguinte: ‘Interferimos, sim, mas foi pelo bem do Brasil’? Me tiraram da Presidência para botar esse cara que está aí, afundando o Brasil”.
Sobre as investigações em andamento, Bolsonaro se queixou do volume e diversidade de acusações contra ele. “Eu estou sendo acusado de tudo: de joias, de vacina, de baleia… tudo. Eu só quero meia hora. Lógico que eu vou me defender, mas eu quero meia hora para falar do meu Brasil. Eu tenho uma proposta para o Brasil”, disse, afirmando estar disposto a participar de transmissões ao vivo para esclarecer os fatos.
A fala de Bolsonaro também fez referência a outros investigados, como a ativista Débora, que segundo ele estaria sendo vítima de injustiça. “É uma covardia o que estão fazendo comigo, com essas pobres coitadas como a Débora, presas, 17 anos de cadeia. Tentativa de golpe? Sem arma, sem tropa, sem liderança, sem dinheiro, em um domingo onde Lula saiu cedinho para fugir do clima. É um crime que estão fazendo contra a democracia brasileira”, disparou.
A defesa de Jair Bolsonaro ainda não apresentou manifestação formal ao STF após a citação. O prazo para resposta começa a contar a partir da data de intimação.
– A mando de Alexandre de Moraes (vídeo – 11 min), oficial de justiça adentra UTI para notificar Jair Bolsonaro.
– Peço divulgação / obrigado. pic.twitter.com/VtY0jptfKP
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) April 23, 2025