Política

Redução da Jornada de Trabalho: Debate acirrado no Congresso Nacional

A polêmica proposta de redução da jornada de trabalho no Brasil, sem cortes salariais, dominou os debates na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados na última terça-feira (3). O encontro, convocado pelo deputado Mário Negromonte Jr. (PP-BA), presidente do colegiado, reuniu representantes de diferentes setores, expondo visões contrastantes sobre o impacto econômico e social da medida.

A ideia central gira em torno do fim da escala 6×1 (seis dias de trabalho por um de descanso), defendida por alguns como forma de melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores, aumentando a satisfação e, consequentemente, a produtividade. Por outro lado, o argumento contrário destaca o aumento significativo de custos para os empregadores como principal entrave.

O deputado Negromonte se mostrou otimista quanto à possibilidade de um consenso. Segundo ele, “É o momento de amadurecer isso e buscar um entendimento melhor para ambas as partes. O trabalhador precisa ter saúde mental e qualidade de vida, mas sem afetar a geração de emprego e renda”.

Contexto Legal e a Proposta de Erika Hilton

A Constituição Federal, atualmente, estabelece a jornada de trabalho em até oito horas diárias e 44 horas semanais, permitindo a escala 6×1. No entanto, a mesma legislação prevê a possibilidade de redução mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho. A média de horas trabalhadas no Brasil (39 horas semanais) supera a média global (38,2 horas).

A deputada Erika Hilton (Psol-SP) propôs uma lei que reduziria a jornada para oito horas diárias e 36 semanais, com quatro dias de trabalho e três de descanso. Para que a proposta avance, é necessário o apoio de 171 deputados.

Impacto Econômico: Visões Divergentes

A Confederação Nacional da Indústria (CNI), representada por Sylvia Lorena, apresentou cálculos alarmantes. Segundo a superintendente de Relações do Trabalho da CNI, a redução para 32 horas semanais (como interpretou a proposta de Erika Hilton), resultaria em um aumento de custos para a indústria na ordem de R$ 113 bilhões ao ano. Para o setor público, a estimativa seria de R$ 70,8 bilhões.

Sylvia Lorena argumentou que, neste momento, a prioridade deve ser o crescimento econômico sustentável, o equilíbrio fiscal e investimentos em educação e tecnologia – pilares para a geração de empregos de qualidade. Ela destacou que países que adotaram jornadas reduzidas o fizeram após um longo processo de aumento de produtividade, cenário diferente do Brasil.

A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), representada pelo advogado Roberto Lopes, alertou para a necessidade de se considerar as especificidades regionais e a diversidade de atividades do setor comercial (combustíveis, bares e restaurantes, turismo, segurança etc.). Lopes lembrou ainda da Lei 12.790/13, que já prevê jornada de seis horas para comerciários e permite reduções por meio de negociação coletiva.

A Perspectiva Sindical e a Busca por Produtividade

Contrariando os argumentos da CNI e da CNC, o coordenador-geral de Relações do Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego, Marco Antonio Costa, destacou os benefícios da redução da jornada, como aumento da produtividade, melhoria da saúde mental e equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Para Costa, “A redução da jornada não deve ser vista apenas como um ajuste técnico, mas como uma política de valorização do trabalho humano”.

O deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), autor da PEC 221/19 (que propõe a redução gradual da jornada de 44 para 36 horas em dez anos), defendeu uma transição gradual, com redução de uma hora por ano, minimizando o impacto inflacionário. Já o secretário de Assuntos Jurídicos da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Valeir Ertle, afirmou que a redução da jornada é uma luta histórica das centrais sindicais, defendendo, no mínimo, uma jornada de cinco dias de trabalho e dois de descanso.

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Rafael Nicácio

Co-fundador e redator do Portal N10, sou responsável pela administração e produção de conteúdo do site, consolidando mais de uma década de experiência em comunicação digital. Minha trajetória inclui passagens por assessorias de comunicação do Governo do Estado do Rio Grande do Norte (ASCOM) e da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), onde atuei como estagiário. Desde 2013, trabalho diretamente com gestão de sites, colaborando na construção de portais de notícias e entretenimento. Atualmente, além de minhas atividades no Portal N10, também gerencio a página Dinastia Nerd, voltada para o público geek e de cultura pop. MTB Jornalista 0002472/RN E-mail para contato: [email protected]

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