Psicanalistas avaliam que os atos de vandalismo e invasão aos prédios dos Três Poderes, em Brasília, no dia 8 de janeiro de 2023, foram motivados por uma “revolução imaginária” e anacrônica. A análise é do psicólogo e professor de filosofia da psicanálise na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Tales Ab´Sáber. Segundo ele, a ação ocorreu mesmo após o ex-presidente Jair Bolsonaro já ter deixado o país, em 30 de dezembro, e o plano estratégico de golpe, que envolvia setores das Forças Armadas, ter chegado ao fim. Ab´Sáber ressalta que, mesmo sem chances reais de sucesso, a insurreição foi resultado de condições concretas que levaram ao fanatismo da extrema-direita.
De acordo com o psicanalista, os acampamentos bolsonaristas, instalados em frente aos quartéis, alimentaram a esperança de um golpe, instigando um sentimento de revolução nos apoiadores do ex-presidente. O professor da Unifesp destaca que a omissão e ausência de Bolsonaro após a derrota nas urnas, em vez de desmobilizar seus apoiadores, favoreceram o caos e a perpetuação do movimento.
Na visão de Christian Dunker, psicanalista e professor titular do Instituto de Psicologia da USP, a imaginação dos manifestantes foi alimentada por velhos fantasmas, como o medo do comunismo, “negacionismo histórico” e falta de “acurácia política”. Dunker, que esteve em Brasília uma semana antes dos ataques, visitou os acampamentos e observou um conteúdo messiânico e falas alteradas nas pessoas presentes.
Dunker relata ter encontrado indivíduos em desespero, solitários, sem família e endividados, para quem a ideia de ruptura do sistema se tornou tentadora. Ele compara a sensação com a de uma paciente que, durante os atentados de 11 de setembro de 2001, expressou um sentimento de que a tragédia era algo que “já estava acontecendo no nosso imaginário”.
Ainda segundo Ab´Sáber, é imprescindível que o rito jurídico seja seguido e que os responsáveis sejam punidos conforme a lei, pois “as pessoas precisam saber que a lei diz que tentativa de golpe é crime”. Ele destaca que é essencial que a Constituição Federal seja valorizada psiquicamente, subjetivamente e afetivamente, para que não seja desmantelada como em outros momentos da história do Brasil. A Agência Brasil tentou contato com a defesa de Jair Bolsonaro, mas não obteve resposta até o momento, mantendo o espaço aberto para futuras manifestações.
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