Igreja Católica: ritos fúnebres e o processo de eleição do novo Papa

Igreja Católica: ritos fúnebres e o processo de eleição do novo Papa
Imagem de tatlin por Pixabay

Após o falecimento do Papa Francisco, a Igreja Católica entra em um período formalmente conhecido como “Sé Vacante”. Este intervalo é marcado por ritos específicos e preparativos tanto para o funeral do pontífice quanto para a subsequente eleição de seu sucessor.

Francisco faleceu aos 88 anos, após 12 anos de papado. Com a sua morte, parte da cúpula do governo do Vaticano perde suas funções, com as decisões mais urgentes sendo encaminhadas para o Colégio dos Cardeais.

Durante a Sé Vacante, o Cardeal Camerlengo assume um papel de liderança, supervisionando a transição e ajudando na organização do Conclave, o encontro secreto onde o novo Papa será eleito. Atualmente, o Cardeal Kevin Joseph Farrell ocupa a posição de Camerlengo.

Ritos e cerimônias iniciais

O Vaticano anunciou que os ritos fúnebres de Francisco começarão nas próximas horas. Entre os eventos programados estão:

  • 14h (Horário de Brasília): Missa solene na Basílica de São João de Latrão, em Roma, conduzida pelo Cardeal Baldo Reina.
  • 15h (Horário de Brasília): Ritos finais de constatação do falecimento e a deposição do corpo no caixão, na capela privada do Papa, sob a direção do Camerlengo Farrell.

Diferentemente da tradição, o sepultamento de Francisco ocorrerá na Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma, e não na Basílica de São Pedro, no Vaticano. A última vez que um Papa foi sepultado ali foi em 1903, com Leão XIII.

Próximos passos: do funeral ao Conclave

Os procedimentos fúnebres seguem a “Ordem das Exéquias do Sumo Pontífice”, um ritual litúrgico detalhado aprovado por Francisco em abril de 2024. O primeiro passo é a confirmação oficial da morte pelo Camerlengo, que tradicionalmente chamava o Papa pelo nome três vezes. Após a confirmação, o Camerlengo remove e destrói o “Anel do Pescador”, simbolizando o fim do papado. O aposento papal é então selado.

O corpo é preparado em um caixão de madeira revestido de zinco e levado para a Basílica de São Pedro para o velório. Francisco determinou que tanto o caixão quanto a cerimônia fossem mais simples em comparação com seus antecessores.

O sepultamento deve ocorrer entre quatro e seis dias após o falecimento, seguido por nove dias de missas contínuas, os chamados “novendiales“, em memória do Papa.

O Conclave: eleição do novo Papa

A eleição do novo Papa começa de 15 a 20 dias após a morte de Francisco. Durante este período, o Vaticano convoca o Colégio dos Cardeais, composto por religiosos de todo o mundo. Atualmente, o colégio possui 252 cardeais, dos quais 138, com menos de 80 anos, estão aptos a votar. Para entender melhor esse processo, confira este artigo sobre após a morte de Francisco, entenda o processo de escolha do novo Papa.

Antes do Conclave, o Colégio dos Cardeais participa das “Congregações Gerais”, reuniões para discutir questões governamentais da Igreja e organizar o Conclave. Uma das primeiras decisões é definir o dia e a maneira como o corpo do Papa será exposto aos fiéis na Basílica de São Pedro.

Governança da Igreja durante a Sé Vacante

Durante a Sé Vacante, o Camerlengo administra os bens e o tesouro do Vaticano, enquanto o Colégio dos Cardeais discute assuntos inadiáveis da Igreja. No entanto, o Colégio está impedido de realizar mudanças estruturais profundas na Igreja.

Com a morte do Papa, muitos dos principais funcionários do Vaticano renunciam a seus cargos, incluindo o Cardeal Secretário de Estado e chefes dos Dicastérios da Cúria Romana. Permanecem em suas funções:

  • O Penitenciário-Mor.
  • O Cardeal Vigário-Geral para a Diocese de Roma.
  • O Cardeal Arcipreste da Basílica do Vaticano.
  • O Vigário-Geral para a Cidade do Vaticano.
  • O Esmoleiro Apostólico.

Como funciona o Conclave?

A palavra “conclave” vem do latim cum clavis, significando “fechado à chave”. Durante o Conclave, os cardeais eleitores são isolados no Vaticano, em uma área conhecida como “zona de Conclave”, e fazem um juramento de segredo absoluto sobre o processo.

Atualmente, 138 cardeais com menos de 80 anos são elegíveis para participar da eleição.

Durante o período de eleição, os cardeais ficam impedidos de se comunicar com o mundo exterior para evitar influências externas na votação. As votações ocorrem na Capela Sistina, e para ser eleito, um cardeal precisa de dois terços dos votos. As cédulas são secretas e queimadas após cada votação.

Até quatro votações podem ser realizadas por dia: duas pela manhã e duas à tarde. Após três dias de votação sem sucesso, há uma pausa de 24 horas para orações. Se após 34 votações não houver consenso, os dois cardeais mais votados disputam um “segundo turno”, ainda necessitando de dois terços dos votos para a eleição.

Uma vez eleito, o cardeal é questionado se aceita o cargo. Se aceitar, escolhe um nome papal e veste as vestes papais na “Sala das Lágrimas”. O novo Papa é então anunciado à multidão na Praça de São Pedro com a frase “Habemus Papam” (“Temos um Papa”).

O significado da fumaça

A fumaça que emana da chaminé da Capela Sistina é um sinal tradicional para indicar o resultado da votação. Fumaça branca sinaliza a eleição de um novo Papa, enquanto fumaça preta indica que nenhuma decisão foi tomada e uma nova votação será realizada.

Em 2013, o Vaticano esclareceu que a fumaça preta é produzida por uma mistura de clorato de potássio, antraceno e enxofre, enquanto a branca resulta da queima de clorato de potássio, lactose e colofônio.

Além da fumaça branca, a eleição do novo Papa é confirmada pelo toque dos sinos da Basílica de São Pedro.

Legado e impacto do Papa Francisco

O Papa Francisco deixa um legado de transformação na Igreja Católica, marcado por suas declarações revolucionárias e sua defesa dos pobres e marginalizados. Suas palavras e ações tiveram um impacto significativo em diversos setores da sociedade, desde a política até a cultura. 

Uma de suas frases mais marcantes foi proferida durante uma viagem de volta do Rio de Janeiro, em 2013, quando questionado sobre a homossexualidade, respondeu: “Se uma pessoa é gay, busca o Senhor e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?“. Esta declaração, entre outras, demonstrou uma postura mais aberta e inclusiva em relação a temas controversos.

Outras frases notáveis do Papa Francisco incluem:

  • “Como eu gostaria de uma Igreja pobre… e para os pobres.”
  • “Algumas pessoas acreditam que para sermos bons católicos temos que nos reproduzir como coelhos, mas não.”
  • “O abuso infantil é uma doença.”
  • “Em vez de justiça social, spray de pimenta.”
  • “Quem pensa em construir muros e não em construir pontes não é cristão.”
  • “Ontem, crianças foram bombardeadas. Isto não é uma guerra. É crueldade.”

Perspectivas sobre o futuro da Igreja

Com a morte do Papa Francisco, surgem especulações sobre quem será seu sucessor e qual rumo a Igreja Católica tomará. Frei Betto, frade dominicano, comentou que o próximo Papa “tende a ser de centro à direita”, refletindo uma safra de sacerdotes mais conservadora no Vaticano atualmente.

Ele também destacou o legado de Francisco como defensor dos direitos humanos e dos mais vulneráveis, afirmando que “nenhum chefe de Estado na Europa era tão respeitado quanto Francisco”.

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