Sem reprovação: Unicef defende novo modelo de educação no Nordeste

Um seminário em Natal discutiu alternativas para melhorar os índices educacionais do Nordeste, com foco em um modelo que elimina a reprovação escolar. A representante do Unicef, Erondina Silva, destacou a distorção idade-série como o principal problema, relacionando-a diretamente ao fracasso escolar. Ela apontou que a reprovação se naturalizou, afetando principalmente estudantes das periferias, pretos, indígenas e de baixa renda, com o apoio, em alguns casos, até mesmo familiar. Segundo Erondina Silva, "Isso é uma cultura, está no nosso imaginário, inclusive das famílias. O pai, às vezes, fala: Vai ser melhor para ele", lamentando os mais de 4,3 milhões de estudantes com essa distorção.

O programa 'Avexadas para Aprender', implementado pelo governo do Rio Grande do Norte, em parceria com a Undime e o Itaú Social, no âmbito da estratégia 'Trajetórias de Sucesso Escolar' do Unicef, busca combater esse cenário. O programa tem como metas principais reduzir o desânimo escolar, evitar a evasão e diminuir a distorção idade-série, atuando em diversas frentes pedagógicas e socioemocionais.

Desde sua criação em janeiro de 2024, o programa tem evoluído. Em junho, por exemplo, o foco se estendeu ao desenvolvimento da língua portuguesa, alfabetização e multiletramento, incluindo o uso de tecnologias digitais no processo de ensino e aprendizagem.

Outro projeto destacado foi a 'Agência de Notícias na Escola', da Bahia, uma iniciativa da Secretaria de Educação do estado e do Instituto Anísio Teixeira (IAT). Criada em 2023, a agência estimula a produção jornalística escolar, fomentando o pensamento crítico, a cidadania e o trabalho colaborativo, alinhado à Base Nacional Comum Curricular (BNCC). O projeto distribui em média R$ 20.000,00 por escola para a aquisição de equipamentos como notebooks, câmeras e microfones, além de oferecer formação e assessoria técnica e pedagógica.

Com uma abordagem baseada no "aprender fazendo" (learning by doing), a iniciativa cresceu de 50 para 81 escolas participantes em apenas um ano, abrangendo 74 municípios. A professora Charlene de Jesus, graduada em Letras e mestre em Linguagens, que participa do projeto, destacou os benefícios do programa, incluindo o desenvolvimento de habilidades de pesquisa, escrita e argumentação, e o fortalecimento da autoestima dos alunos.

Charlene relatou como o projeto promove uma mudança na dinâmica da sala de aula, criando um ambiente de troca de conhecimento e valorizando a produção dos alunos: "A gente tem que parar de diminuir o aluno. Essa educação que não permite mais eu me colocar em patamar acima do aluno. Eu sou mediadora daquele conhecimento, porque tenho mais experiência, mas ele fazem uma troca que é imensa".

O seminário, promovido pela Secretaria de Educação, do Esporte e do Lazer do Rio Grande do Norte, com apoio do Instituto Cultiva e do Consórcio Nordeste, reuniu autoridades governamentais e representantes dos nove estados da região, para discutir e divulgar ações que visam a melhoria dos indicadores educacionais e o fortalecimento das comunidades escolares.