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Cientistas desenvolvem método inovador para converter células da pele em neurônios

Descoberta pode impulsionar tratamentos para lesões na medula espinhal e doenças neuromusculares

Imagine poder transformar uma célula da pele diretamente em um neurônio funcional, sem precisar passar pelo longo e complexo processo de conversão para células-tronco. Parece ficção científica, mas uma equipe de pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) tornou isso possível. O estudo, publicado na revista Cell Systems, revela uma técnica inovadora que simplifica drasticamente a reprogramação celular e pode abrir novos caminhos para terapias regenerativas.

A revolução da conversão direta

Até agora, a principal estratégia para reprogramação celular envolvia a conversão de células somáticas (como as da pele) em células-tronco pluripotentes induzidas (iPSCs). Essas células têm a capacidade de se diferenciar em qualquer outro tipo celular, incluindo neurônios. No entanto, esse método pode levar semanas e muitas células acabam presas em estados intermediários, dificultando sua completa diferenciação.

Para contornar esses desafios, a equipe do MIT desenvolveu uma abordagem que elimina a necessidade de passar pelo estágio de células-tronco, permitindo a conversão direta das células da pele em neurônios motores. O método, que inicialmente foi testado em células de camundongos, demonstrou ser altamente eficiente, produzindo mais de 10 neurônios a partir de uma única célula da pele.

A professora Katie Galloway, principal autora do estudo e especialista em engenharia biomédica e química, explica o impacto dessa inovação:

“Nosso objetivo era alcançar um nível de eficiência que nos permitisse avaliar se essas células poderiam ser candidatas viáveis para terapias de substituição celular. Esse tipo de tecnologia tem o potencial de transformar a medicina regenerativa.”

Como funciona o processo?

A técnica utiliza apenas três fatores de transcrição—NGN2, ISL1 e LHX3—para conduzir a conversão direta das células da pele em neurônios. Além disso, os pesquisadores adicionaram dois genes responsáveis por estimular a proliferação celular, aumentando significativamente o rendimento do processo.

Nos experimentos com células de camundongos, os cientistas começaram com um conjunto de seis fatores de transcrição e foram eliminando-os progressivamente até identificarem a combinação mínima necessária para uma conversão eficaz. A simplificação desse protocolo foi crucial para aumentar a taxa de sucesso e tornar o processo mais acessível para aplicações futuras.

Outro fator determinante para a eficiência do método foi o uso de um único vetor viral modificado para entregar todos os três genes necessários, garantindo que cada célula expressasse as proteínas na quantidade correta. Essa precisão reduziu os erros no processo de reprogramação, um problema comum nas abordagens anteriores.

Com essa otimização, o rendimento da conversão celular aumentou em mais de 1.100%, um avanço considerável em relação às técnicas convencionais.

Integração no cérebro e possíveis aplicações terapêuticas

Para avaliar se os neurônios gerados poderiam ser integrados a um organismo vivo, os pesquisadores implantaram as células reprogramadas no cérebro de camundongos, especificamente no estriado, uma região envolvida no controle motor. Após duas semanas, os cientistas observaram que muitas das células haviam sobrevivido e começado a formar conexões com os neurônios nativos dos animais.

Além disso, testes in vitro demonstraram que esses novos neurônios eram eletricamente ativos e capazes de se comunicar com outras células nervosas. Esses achados são promissores para o desenvolvimento de terapias para doenças como esclerose lateral amiotrófica (ELA), lesões na medula espinhal e outros distúrbios neurodegenerativos que afetam a mobilidade.

Atualmente, já existem ensaios clínicos em andamento utilizando neurônios derivados de iPSCs para tratar pacientes com ELA. No entanto, a abordagem direta desenvolvida pelo MIT pode acelerar significativamente esse processo, fornecendo uma quantidade maior de neurônios funcionais para terapias regenerativas.

“Se conseguirmos aumentar a eficiência do processo em células humanas, isso pode facilitar a produção em larga escala de neurônios motores para tratar uma ampla gama de condições neurológicas,” destaca Galloway.

Embora os testes com células de camundongos tenham mostrado resultados impressionantes, a conversão em células humanas ainda apresenta desafios. A taxa de sucesso atual varia entre 10% e 30%, e o processo leva aproximadamente cinco semanas para ser concluído—um tempo ligeiramente menor do que o necessário para gerar neurônios a partir de iPSCs, mas que ainda pode ser melhorado.

Para otimizar esse método, os cientistas estão explorando diferentes combinações de fatores de transcrição e novos vetores virais para aumentar a eficiência e reduzir o tempo de conversão. Além disso, o próximo grande passo será testar a aplicação dessa tecnologia em modelos animais de doenças neuromusculares, avaliando sua viabilidade para terapias de reposição celular em humanos.

A pesquisa recebeu financiamento do Instituto Nacional de Ciências Médicas Gerais e do Programa de Bolsas de Pesquisa da Fundação Nacional de Ciência dos EUA, reforçando o impacto e a relevância dessa descoberta no campo da biotecnologia e da medicina regenerativa.

A possibilidade de converter células da pele diretamente em neurônios motores sem passar pelo estágio de células-tronco representa um marco na biomedicina. Se a eficiência do método puder ser aprimorada para células humanas, ele poderá revolucionar o tratamento de doenças neurológicas e abrir novos caminhos para a terapia celular personalizada.

Com a promessa de gerar grandes quantidades de neurônios funcionais de forma rápida e eficiente, essa tecnologia pode ser um divisor de águas no combate a doenças até então consideradas irreversíveis, como a ELA e lesões na medula espinhal.

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Romário Nicácio

Administrador de redes, estudante de Ciências e Tecnologia (C&T) e Jornalismo, que também atua como redator de sites desde 2009. Co-fundador do Portal N10 e do N10 Entretenimento, com um amplo conhecimento em diversas áreas. Com uma vasta experiência em redação, já contribuí para diversos sites de temas variados, incluindo o Notícias da TV Brasileira (NTB) e o Blog Psafe. Sua paixão por tecnologia, ciência e jornalismo o levou a buscar conhecimentos nas áreas, com o objetivo de se tornar um profissional cada vez mais completo. Como co-fundador do Portal N10 e do N10 Entretenimento, tenho a oportunidade de explorar ainda mais minhas habilidades e se destacar no mercado, como um profissional dedicado e comprometido com a entrega de conteúdo de qualidade aos seus leitores. Para entrar em contato comigo, envie um e-mail para [email protected].

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