Pesquisadores da Universidade de Viena, na Áustria, desvendaram o mecanismo surpreendente de regeneração em vermes marinhos da espécie Platynereis dumerilii. Esses animais, notáveis por sua capacidade de sobreviver à perda de grandes partes do corpo, utilizam um processo singular no qual células especializadas próximas a uma ferida retornam a um estado semelhante ao de células-tronco para reconstruir tecidos perdidos.
Ao contrário da maioria das espécies, que dependem exclusivamente de células-tronco para a regeneração, os vermes Platynereis recrutam diversas populações de outras células para restaurar rapidamente a região perdida. Este processo, denominado desdiferenciação, já foi observado em outras espécies, e consiste na reversão do estado de outras células, que se tornam aptas a substituir tecidos perdidos. Segundo Leonie Adelmann, bióloga molecular da Universidade de Viena, "essas células começam a retornar a um estado semelhante ao de célula-tronco em poucas horas para construir uma nova zona de crescimento o mais rápido possível".
O estudo, publicado na revista Nature Communications, empregou técnicas avançadas de análise genética, como sequenciamento de RNA de célula única e transgenese em mosaico. Essas ferramentas permitiram aos cientistas rastrear o comportamento e as mudanças nas células durante o processo de reparo, identificando a origem e o destino de cada célula.
A pesquisa revelou a existência de pelo menos duas populações distintas de células-tronco: uma responsável pela regeneração de tecidos como a epiderme e os neurônios, e outra encarregada de formar músculos e tecido conjuntivo. A capacidade de reprogramar células humanas é um campo emergente da ciência com potencial para revolucionar tratamentos médicos. O controle da diferenciação celular pode ser utilizado para tratar doenças e reparar danos significativos ao corpo. Esse estudo aponta para possíveis aplicações para o avanço da medicina regenerativa.
Florian Raible, também biólogo molecular da Universidade de Viena, comentou que o conceito de desdiferenciação foi proposto há mais de 60 anos, mas só agora os pesquisadores têm ferramentas para testar a ideia em nível molecular. As descobertas atuais oferecem uma base sólida para estudos futuros, revelando um caminho para ampliar a compreensão da regeneração em diversas espécies.
Quer receber as principais notícias do Portal N10 no seu WhatsApp? Clique aqui e entre no nosso canal oficial.