Uma bebê de oito meses morreu e uma mulher de 50 anos permanece internada em estado grave em uma UTI, em Natal, após consumirem açaí recebido por delivery. A suspeita de envenenamento motivou a abertura de inquérito pela Polícia Civil do Rio Grande do Norte, que ainda aguarda laudos periciais para confirmar a real causa da morte e do agravamento do quadro clínico das vítimas.
A tragédia aconteceu no bairro Felipe Camarão, na Zona Oeste da capital potiguar, e envolve Geisa de Cássia Tenório Silva, de 50 anos, e a bebê Yohana Maitê Filgueira Costa, filha da prima de Geisa. Ambas passaram mal logo após consumirem açaí com granola, parte de uma série de entregas misteriosas que chegaram à casa de Geisa entre os dias 13 e 15 de abril.
A primeira entrega, no domingo (13), incluía um urso de pelúcia, chocolates e uma mensagem de amor pronta. “Minha mãe mesmo foi quem recebeu. […] Ela recebeu nesse primeiro dia, comeu os chocolates e nada aconteceu”, relatou Yago Smith, filho de Geisa.
No dia seguinte, segunda-feira (14), outra encomenda foi deixada por um motoentregador, desta vez com açaí e granola. Geisa consumiu o alimento e dividiu a granola com a pequena Yohana, que ela chamava de “sobrinha de consideração”. Cerca de 30 a 40 minutos depois, a bebê começou a apresentar sintomas severos.
“Ela foi tomar o açaí e dividiu a granola que vem no açaí com Yohana. Após meia hora, 40 minutos, Yohana começou a passar muito mal. Minha prima levou ela para a UPA e ela veio a óbito. Minha mãe passou mal e a gente achou que era emocional, até então”, relatou Yago.
A mãe da bebê, Danielle Priscila Silva, contou que a filha morreu dentro da ambulância, ainda na UPA de Cidade da Esperança, antes de conseguir ser transferida para o Hospital Maria Alice Fernandes. “Os sinais vitais dela estavam baixos, o batimento do coraçãozinho baixo. […] Na UPA mesmo, dentro da ambulância, minha filha veio a óbito”, disse.
Reações e agravamento do quadro
Geisa também foi levada à mesma UPA e recebeu apenas uma medicação para acalmar, já que os médicos acreditavam, naquele momento, que os sintomas estavam relacionados ao abalo emocional. “Na terça-feira ela acordou muito bem como se nada tivesse acontecendo, somente triste pela notícia do falecimento”, contou Yago.
Mas, no dia seguinte, terça-feira (15), mais uma entrega foi feita no local. Geisa, sem desconfiar de nada, voltou a consumir o açaí que guardara no congelador. Poucos minutos depois, começou a apresentar sintomas mais graves: sudorese intensa, tremores nas mãos, incapacidade de falar e espasmos.
“Ela estava suando bastante, tremendo a mão, não tinha força nem pra falar nada, espumando, e aí começaram a desconfiar que aquilo era caso de envenenamento”, explicou Yago.
Geisa foi levada às pressas novamente à UPA e, diante da gravidade do quadro, foi transferida e entubada na UTI do Hospital Regional de Macaíba.
Investigação em curso
Diante da suspeita, os próprios médicos orientaram a família a procurar a Polícia Civil. Segundo o churrasqueiro José Cícero Tenório, outro filho de Geisa, ele foi até a Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), onde fez o boletim de ocorrência.
“Disseram que eu procurasse a delegacia para poder fazer o exame toxicológico, porque na UPA não faz. Foi onde eu cheguei na DHPP. E aí eles já levaram tudo, as amostras, e foi levado para o Itep, para aprofundar essa investigação. Passou uns 40 minutos após eu fazer o BO, vieram em casa e levaram a amostra do açaí, levaram a amostra dos papéis que vieram, as cartas, só não levaram o urso”, detalhou José Cícero.
A Polícia Civil confirmou que testemunhas foram ouvidas e que busca agora identificar o motoentregador que realizou as corridas, além de rastrear quem enviou os alimentos.
Em nota, a corporação informou que “o alimento consumido foi encaminhado para análise toxicológica, mas o laudo pericial ainda não foi concluído. Existe a possibilidade de envenenamento, contudo, qualquer afirmação nesse sentido, neste momento, seria precipitada”.
A família, em estado de choque, tenta entender quem poderia estar por trás dos envios. Até o momento, não há suspeitos identificados.
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