A Organização Mundial da Saúde (OMS), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e a Aliança Mundial para Vacinas e Imunização (Gavi) emitiram um alerta preocupante sobre o crescente risco que a desinformação, o aumento populacional, as crises humanitárias e a diminuição do financiamento representam para os programas de imunização em todo o mundo.
Em comunicado divulgado durante a Semana Mundial de Imunização, as agências destacaram o aumento global de surtos de doenças que podem ser prevenidas por vacinas, como sarampo, meningite e febre amarela. Além disso, doenças como a difteria, que estavam sob controle ou quase erradicadas em muitos países, correm o risco de ressurgir. O sarampo, por exemplo, tem preocupado especialistas, como vimos em "São Paulo Confirma Primeiro Caso de Sarampo em 2025, Apesar da Vacinação do Paciente", um sinal de alerta sobre a importância da vigilância contínua.
Em resposta a essa situação alarmante, as organizações estão apelando para uma ação política urgente e contínua, juntamente com investimentos significativos para fortalecer os programas de imunização e proteger os avanços alcançados na redução da mortalidade infantil nos últimos 50 anos. No Brasil, o "Programa Saúde na Escola intensifica vacinação em municípios por todo o país" é um exemplo de iniciativa para aumentar a cobertura vacinal.
Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, enfatizou o impacto vital das vacinas, afirmando em sua conta na rede social X (Twitter): “As vacinas salvaram mais de 150 milhões de vidas ao longo das últimas cinco décadas. São mais de 4 milhões de vidas salvas a cada ano. Com imunização para todos, tudo é possível”.
Segundo Ghebreyesus, uma criança nascida hoje tem 40% mais chances de sobreviver ao primeiro ano de vida em comparação com 50 anos atrás, graças às vacinas. Ele também mencionou o desenvolvimento de novas vacinas contra a malária e o câncer cervical, que estão salvando ainda mais vidas. No entanto, ele alertou que os cortes recentes no financiamento para a saúde global colocam em risco esses avanços. “Surtos de doenças preveníveis por meio de vacinas estão aumentando em todo o mundo, ameaçando milhões de vidas. As vacinas não protegem apenas a vida de cada indivíduo, protegem comunidades, sociedades e economias”, completou.
Ressurgimento do Sarampo
A OMS expressou preocupação particular com o ressurgimento do sarampo, observando um aumento contínuo nos casos desde 2021, acompanhado por uma diminuição na cobertura vacinal desde a pandemia de covid-19. Em 2023, foram registrados mais de 10 milhões de casos de sarampo, um aumento de 20% em relação a 2022. As agências preveem que essa tendência de alta continuará em 2025, com surtos se intensificando globalmente. Nos últimos 12 meses, 138 países relataram casos de sarampo, com 61 registrando surtos classificados como grandes ou disruptivos – o maior número desde 2019.
Aumento de casos de Meningite na África
Na África, os casos de meningite também aumentaram significativamente em 2024, e essa tendência continua em 2025. Nos primeiros três meses deste ano, foram notificados mais de 5,5 mil casos suspeitos e quase 300 mortes em 22 países, em comparação com cerca de 26 mil casos e quase 1,4 mil mortes em 24 países no ano passado.
Febre Amarela em Ascensão
Os dados da OMS indicam um aumento nos casos de febre amarela na região africana, com 124 casos confirmados em 12 países em 2024. Esse aumento ocorre após um declínio significativo nos casos na última década, impulsionado por estoques globais de vacinas e pelo uso da vacina contra a febre amarela em programas de imunização de rotina. Na região das Américas, surtos de febre amarela têm sido confirmados desde o início deste ano, com um total de 131 casos em pelo menos quatro países, incluindo o Brasil.
Impacto dos Cortes no Financiamento
A OMS alertou que esses surtos estão ocorrendo em meio a cortes no financiamento global. Uma pesquisa recente da OMS com 108 escritórios, principalmente em países de baixa e média renda, revelou que quase metade deles enfrenta interrupções moderadas ou graves em suas campanhas de vacinação, imunização de rotina e acesso a suprimentos devido à redução do financiamento de doadores. A vigilância de doenças, incluindo doenças preveníveis por meio da vacinação, também está sendo afetada em mais da metade dos países pesquisados.
Crianças Não Vacinadas
Os números revelam que o número de crianças que não receberam vacinas de rotina tem aumentado nos últimos anos, mesmo com os esforços dos países para alcançar aqueles que não foram imunizados durante a pandemia. Estima-se que, em 2023, cerca de 14,5 milhões de crianças não receberam todas as doses da vacinação de rotina, um aumento em relação aos 13,9 milhões em 2022 e aos 12,9 milhões em 2019. Mais da metade dessas crianças vive em países que enfrentam conflitos, fragilidade ou instabilidade, onde o acesso aos serviços básicos de saúde é frequentemente interrompido.
Catherine Russell, diretora executiva do Unicef, ressaltou a gravidade da situação: “A crise global no financiamento está limitando severamente nossa capacidade de vacinar mais de 15 milhões de crianças vulneráveis contra o sarampo em países frágeis e afetados por conflitos”. Ela acrescentou que os serviços de imunização, a vigilância de doenças e a resposta aos surtos em quase 50 países já estão sendo interrompidos, com retrocessos em um nível semelhante ao que foi visto durante a pandemia de covid-19. “Não podemos nos dar ao luxo de perder terreno na luta contra doenças evitáveis”, concluiu.
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