“Ou a gente acaba com eles, ou eles acabam com o Brasil. Xô, corrupção. Uma campanha do PT e do povo brasileiro.” Essa frase fez parte de uma propaganda política veiculada, em 2002, pelo Partido dos Trabalhadores, durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
O PT que naquele ano lançaria o ex-presidente Lula ao Palácio do Planalto decidiu usar ratos para acusar os governantes da época de corrupção. Na peça publicitária, os animais roíam a bandeira do Brasil e depois a levavam para um buraco. A campanha foi intitulada de “Xô, Corrupção!”.
Hoje, 16 anos depois, o Brasil vive outra vez um ano eleitoral. Mas, agora, o discurso da ética e da honestidade usado pelo PT em 2002, pode ser a maior arma dos adversários do partido que governou o país por mais de uma década.
Na próxima quarta-feira (24), a 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), em Porto Alegre-RS decidirá se mantém, ou não, a sentença do juiz Sérgio Moro, que condenou, em 2017, o ex-presidente a pouco mais de nove anos de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, no caso que ficou conhecido como “tríplex do Guarujá”.
Com base no entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) que permite o cumprimento das penas após uma decisão colegiada, Lula, se for condenado, será enquadrado na Lei da Ficha Limpa ficando impedido de concorrer a qualquer cargo público.
Caso isso aconteça, o cientista político e professor da Universidade de Brasília, Ricardo Caldas, avalia que todo o discurso construído pelo PT desde a fundação, em 1980, em nome da ética e da honestidade estará comprometido.
“Nesse cenário, havendo uma condenação, não há duvida que a principal bandeira do partido dos trabalhadores inicialmente, que era a ética, ela fica comprometida.”
Ainda de acordo com Ricardo Caldas, o surgimento de casos de corrupção nos mandatos de Lula e Dilma Rousseff causaram danos tanto à imagem da sigla, como a dos ex-presidentes.
“Foram tantos os fatos noticiados, tanto em relação à gestão do ex-presidente Lula, quanto à gestão da ex-presidente Dilma, associados por exemplo, a questão da Petrobrás, que fica muito difícil argumentar que não aconteceu nada, ou que a ex-presidente e o ex-presidente não sabiam de nada”.
Os principais escândalos, conhecidos como “mensalão” e “petrolão” levaram a condenação de ao menos nove petistas, contando os julgamentos em primeira, segunda e terceira instância. No mensalão, a Justiça considerou culpados o ex-presidente do PT, José Genoino, o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares, o ex-presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha (PT), o operador do esquema de mesada, o empresário e publicitário, Marcos Valério, além do ex-ministro José Dirceu, que também foi condenado no caso do Petrolão. Junto do ex-ministro e de Lula, que foi sentenciado em primeira instância pelo juiz Sergio Moro, foram condenados no Petrolão, o ex-deputado federal André Vargas (PT-PR), os ex-tesoureiros petistas Delubio Soares e João Vacari Neto, além do marqueteiro João Sanatana.
Na quarta-feira, a decisão dos três desembargadores que compõem a 8ª Turma do TRF-4 poderá ratificar, ou não, o nome do ex-presidente Lula na lista de petistas condenados pela Justiça brasileira.
Reportagem: João Paulo Machado (Rádio Mais)*
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