O presidente Luiz Inácio Lula da Silva expressou preocupação com as tarifas unilaterais impostas pelos Estados Unidos, classificando-as como um 'tarifaço' com potencial para gerar um 'efeito devastador' na economia global. A declaração foi feita durante entrevista a jornalistas brasileiros em Tegucigalpa, Honduras, onde participou da Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac). A fala de Lula acontece em um momento em que o setor automotivo brasileiro teme impactos do ‘tarifaço’ de Trump e importações chinesas.
Lula criticou especificamente o aumento de tarifas contra a China, ao mesmo tempo em que houve redução para outros 75 países, interpretando a medida como um confronto direto e um risco ao multilateralismo. A situação se assemelha a quando o dólar atingiu R$ 6 e Ibovespa caiu após Trump anunciar tarifa de 104% sobre produtos chineses.
'Me parece que tá ficando cada vez mais visível que é uma briga pessoal [de Trump] com a China. Ora, querer fazer negociação individual é colocar fim no multilateralismo. E o multilateralismo é muito importante para a tranquilidade econômica que o mundo precisa. Não é aceitável a hegemonia de um país, nem militar, nem cultural, nem industrial, nem tecnológica e nem econômica sobre os outros', afirmou o presidente.
O governo brasileiro, segundo Lula, adotará uma postura de reciprocidade caso as tarifas se mantenham após o período de negociações. 'Vamos utilizar todas as palavras de negociação que o dicionário permitir. Depois que acabar, nós vamos tomar as decisões que entendermos serem cabíveis', garantiu. Anteriormente, Lula já havia afirmado que o Brasil possui reservas para mitigar impactos de decisões de Trump.
Críticas à Tentativa de Veto na Celac
Lula também criticou a tentativa de alguns países de vetarem a aprovação da declaração final na Cúpula da Celac. Argentina e Paraguai tentaram impedir a aprovação do texto, que foi aprovado com a ressalva da contrariedade dos dois países.
'É muito importante que a gente distribua sempre a ideia do consenso, mas o consenso não pode ser o direito de veto. Você não pode ter 40 países e um só decidir que não gosta de alguma coisa e não assinar um documento. É melhor você assinar o documento e colocar no rodapé que tal país não quis assinar. É mais democrático e as coisas andam, evoluem', defendeu Lula.
Apoio à Candidatura Feminina na ONU
Lula manifestou confiança na proposta do Brasil de que a Celac apresente uma candidatura única de uma mulher da América Latina e Caribe para o cargo de secretária-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em 2026. Ele ressaltou a importância das lideranças femininas no cenário mundial atual.
'Eu acho que vai dar certo porque as mulheres estão em ascensão, ocupando espaço cada vez melhores, as mulheres estão provando que têm mais competência que os homens em muitas coisas, têm mais sensibilidade. O século 21 pode ser verdadeiramente o século das mulheres', concluiu Lula.
O presidente também afirmou que o Brasil está aberto a negociações para evitar conflitos comerciais, buscando soluções através do diálogo antes de considerar medidas retaliatórias.
'Ou nós vamos para a Organização Mundial do Comércio (OMC) brigar, onde é o direito da gente brigar, ou a gente vai dar reciprocidade. É o mínimo que se espera de um país, que tenha dignidade e soberania', concluiu. Recentemente, a AGU acionou PF e PGR contra deputado Gilvan da Federal por declarações sobre Lula. Além disso, pesquisas apontam que Lula lidera intenções de voto para 2026.
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