Um estudo recente revelou que um exame de triagem de DNA livre de células (cfDNA), comumente utilizado para detectar anormalidades fetais, também pode identificar cânceres maternos não diagnosticados. A pesquisa, publicada no *New England Journal of Medicine*, analisou pacientes com resultados de teste confusos e descobriu que quase metade delas apresentava cânceres ocultos.
É importante esclarecer: o estudo analisou apenas gestantes com resultados de exames difíceis de interpretar; aquelas que receberam um diagnóstico de câncer representavam uma minoria mínima de todas as gestantes. No entanto, entre as pacientes diagnosticadas com câncer, um número significativo não apresentava sintomas ou apresentava sintomas atribuídos à gravidez, sugerindo a necessidade de uma triagem mais rigorosa para o câncer durante o atendimento obstétrico. A alta letalidade de cânceres relacionados ao tabagismo no Brasil, por exemplo, destaca a importância da prevenção e detecção precoce, como discutido neste artigo sobre alta letalidade de cânceres relacionados ao tabagismo.
O estudo e seus resultados
A equipe de pesquisadores, liderada pela geneticista Amy Turriff dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos EUA, concluiu que: "Nossos resultados apoiam o uso de ressonância magnética (RM) de corpo inteiro na avaliação de gestantes que recebem resultados de sequenciamento de cfDNA pré-natal sugestivos de câncer. Uma investigação mais aprofundada dos padrões de sequenciamento de cfDNA ajudaria a identificar o subgrupo de pessoas com resultados não relatáveis que podem ter câncer."
O teste de cfDNA analisa o material placentário presente no sangue da gestante. Ele detecta números cromossômicos incomuns de forma segura para a mãe e o feto, analisando fragmentos de DNA fetal degradados sem a necessidade de procedimentos invasivos como a amniocentese. Aproximadamente 10% do cfDNA circulante é placentário; os 90% restantes são da mãe.
Estudos anteriores já haviam demonstrado que pacientes com câncer podem apresentar assinaturas de cfDNA incomuns. O estudo da Dra. Turriff e sua equipe envolveu 107 gestantes entre dezembro de 2019 e dezembro de 2023, cujos testes de cfDNA pré-natal retornaram resultados anormais, impossíveis de serem interpretados claramente como uma anormalidade fetal. Após exames de ressonância magnética e outros testes de diagnóstico padrão, foi constatado que 52 delas apresentavam câncer não detectado anteriormente: 32 com cânceres sanguíneos (31 dos quais eram linfomas) e 20 com tumores. Um paciente tinha um tumor do tamanho de uma toranja; outras duas apresentavam raros cânceres de vias biliares.
A RM foi, de longe, a melhor ferramenta de detecção. Diagnósticos padrão, como exame físico e histórico do paciente, tiveram utilidade limitada, segundo os pesquisadores.
De forma preocupante, 29 das 52 pacientes com câncer eram assintomáticas. Outras 13 pacientes apresentavam sintomas de câncer atribuídos à gravidez. Dez das 52 pacientes ou não reconheceram seus próprios sintomas, ou os investigaram e receberam resultados de exames tranquilizadores. Entre as 55 pacientes do estudo que não tinham câncer, o diagnóstico mais comum foi de fibromas uterinos — condição benigna, mas que ainda pode causar complicações durante a gravidez e, portanto, deve ser gerenciada pelo médico. A importância do diagnóstico precoce é crucial, como destacado na história de Flora e sua luta contra o câncer infantil.
Um estudo de 2022 na Holanda sobre testes de cfDNA pré-natal e câncer apresentou resultados semelhantes. Embora esses casos sejam extremamente raros, os pesquisadores defendem a inclusão da triagem de câncer em resultados incomuns de cfDNA, especialmente considerando o alto número de pacientes assintomáticas ou com sintomas ignorados. A realização de uma ressonância magnética para detecção de câncer deve ser integrada às práticas médicas ao se deparar com resultados de cfDNA anormais e de difícil interpretação. O investimento em prevenção, como demonstrado pelas obras de ampliação do Inca no Rio, é fundamental para o combate à doença.
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