Danos cerebrais podem levar a alterações significativas na personalidade e, em casos raros, pacientes desenvolvem uma compulsão por fazer piadas, uma condição conhecida como Witzelsucht. Este distúrbio neurológico faz com que a pessoa seja incapaz de reprimir o desejo de fazer gracejos, trocadilhos infantis e piadas, mesmo em situações inapropriadas.
Um estudo de caso de 2016 descreve um homem de 69 anos que, após sofrer um derrame, desenvolveu essa necessidade compulsiva por humor. A compulsão era tamanha que ele acordava sua esposa durante a noite apenas para contar piadas. Ela gentilmente pediu que ele as escrevesse, o que resultou em cerca de 50 páginas de piadas, a maioria com conteúdo sexual ou escatológico.
O termo Witzelsucht, que significa 'vício em piadas' em alemão, foi introduzido em 1890 pelo neurologista Hermann Oppenheim. Ele observou que danos no lobo frontal direito, causados por lesões ou doenças, levavam a um comportamento excessivamente humorístico. Em 1929, o neurocirurgião alemão Otfrid Foerster, ao realizar uma cirurgia cerebral com um paciente acordado, identificou uma área do cérebro que, quando estimulada, levava o paciente a fazer trocadilhos em latim, grego, hebraico e alemão.
Embora o conhecimento sobre a região do cérebro envolvida no humor tenha avançado, ainda não se sabe a frequência com que a Witzelsucht ocorre, nem como ela pode ser tratada eficazmente. Estudos de caso são raros, mas o neurologista Mario Mendez, da UCLA, é um dos principais pesquisadores sobre o tema. Ele e seus colegas receberam as 50 páginas de piadas do paciente citado, e desde 2005, relataram outros casos de Witzelsucht.
A Witzelsucht frequentemente se sobrepõe ou coexiste com outra condição neurológica chamada moria, caracterizada por uma alegria patológica. Ambas as condições estão associadas a danos no circuito orbitofrontal, envolvido na tomada de decisões e no comportamento social. Lesões nessa área podem levar à falta de tato e comportamento inapropriado.
Um estudo recente, de Mendez e sua colega Leila Parand, relata o caso de um homem de 63 anos que, após ser baleado na cabeça, perdeu parte do lobo frontal direito e do córtex orbitofrontal esquerdo. Curiosamente, o paciente, que antes sofria de depressão e pensamentos suicidas, passou a apresentar um estado de alegria constante, afirmando: "Vocês nunca me verão em um estado miserável”.
Segundo seus médicos, o paciente se mostrava despreocupado, fazendo piadas e comentários leves constantemente, e não levava sua situação a sério. Em um comportamento curioso, ele chegava a "inflar" sua craniotomia para surpreender e divertir as pessoas ao redor.
Não há tratamento padrão para Witzelsucht ou moria. Inicialmente, inibidores seletivos de recaptação de serotonina são prescritos, mas frequentemente não são eficazes. Outras opções incluem medicamentos psicoativos anticonvulsivantes ou antipsicóticos atípicos. Embora alguns desses medicamentos possam aliviar os episódios de riso, a compulsão por piadas é mais difícil de tratar.
Psiquiatras afirmam que pesquisas sobre moria e Witzelsucht têm contribuído para a compreensão de pacientes com doenças neuropsiquiátricas. Esses sintomas revelam as bases neurais de fenômenos mentais complexos, como o humor, a criatividade e a alegria. estudo de caso de 2016. Outro artigo, introduzindo o termo em 1890. Já este estudo, é de 1929.
Outras pesquisas sobre o assunto, foram feitas desde 2005, e ainda este estudo aponta que as duas condições se sobrepoem ou coexistem. E ainda este relato sobre um caso específico de perda do lobo frontal após ferimento.
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