A Região Norte do Brasil enfrenta uma grave crise de saúde pública, com taxas de nascimentos prematuros acima da média nacional e global. Em 2023, aproximadamente 35 mil bebês nasceram antes do tempo na região, representando 12,61% do total de partos – o índice mais alto do país. Estados como Roraima, Acre e Amapá lideram essa estatística alarmante, com percentuais de prematuridade que ultrapassam os 14%. O Pará também preocupa, registrando 12,45% de partos prematuros, superando a média nacional de 12%.
Fatores Socioeconômicos e Ambientais
A professora Aurimery Chermont, da Faculdade de Medicina da UFPA, aponta que a prematuridade na região é um problema multifatorial. Ela destaca que a falta de educação sexual e de informações sobre a importância do pré-natal são barreiras significativas, especialmente para gestantes jovens. Além disso, as condições sanitárias precárias e a insegurança alimentar em comunidades mais isoladas contribuem para o cenário preocupante.
Acesso Limitado à Saúde
Um dos principais desafios é a dificuldade de acesso aos serviços de saúde. Muitas gestantes enfrentam barreiras geográficas, como longas distâncias e a necessidade de transporte fluvial, o que dificulta a realização do pré-natal. A falta de exames e medicamentos nas unidades de saúde também são fatores determinantes para a descontinuidade do acompanhamento médico. A professora Chermont ressalta: “O nosso maior problema é a educação para a prevenção. Principalmente entre as gestantes mais jovens. Elas não fazem pré-natal por um motivo simples: ignorância.”
Gestação na Adolescência e Desigualdades Sociais
A região também registra altos índices de gestação na adolescência. Em 2023, 19% dos partos foram de mães com até 19 anos, superando a média nacional de 12%. Essa estatística é um reflexo das desigualdades sociais e da falta de oportunidades na região, além das dificuldades de acesso a serviços de saúde e educação. Adicionalmente, a Região Norte apresenta a menor proporção do país de residências com esgotamento sanitário e abastecimento de água, além de cerca de 30% da população em situação de insegurança alimentar.
Estratégias e Investimentos para a Saúde Materno-Infantil
Aline Hennemann, assessora técnica da Coordenação-Geral de Atenção à Saúde das Crianças, enfatiza que o pré-natal de qualidade é uma ferramenta fundamental para combater a prematuridade. Ela defende uma abordagem integral, que considere o contexto social e familiar das gestantes, bem como outras causas possíveis para partos prematuros. Para isso, o Ministério da Saúde lançou a Rede Alyne, uma estratégia de cuidado para gestantes e bebês que destina recursos para qualificar o pré-natal e oferece benefícios financeiros para ambulatórios de bebês egressos de UTI neonatal.
O investimento inicial de 400 milhões de reais em 2024 deve aumentar para um bilhão de reais em 2025. O programa também visa superar as desigualdades regionais, qualificando profissionais de saúde em áreas remotas, como territórios indígenas. A assessora ressalta os desafios enfrentados em locais com dificuldade de acesso, como a Terra Indígena Yanomami, onde a desnutrição infantil, que começa durante a gestação, é um dos maiores problemas. Para regiões como esta, o ministério busca qualificar profissionais selecionados pelo programa Mais Médicos, que muitas vezes são os únicos disponíveis nesses locais.
A Rede Alyne visa o fortalecimento da atenção básica, priorizando a educação preventiva e a expansão do acesso ao pré-natal. A qualificação de profissionais de saúde e o incentivo à implantação de serviços especializados em obstetrícia são ações que visam reduzir os altos índices de prematuridade na região. O governo busca, por meio dessas iniciativas, garantir um acompanhamento adequado para as gestantes, desde a gravidez até o pós-parto, garantindo a saúde e o bem-estar de mães e bebês.
Em 2023, o Brasil registra alta taxa de partos prematuros, acima da média global.
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