Pesquisadores da Universidade do Sul da Califórnia fizeram uma descoberta surpreendente sobre a neurogênese em adultos – a formação de novos neurônios no cérebro adulto – e sua relação com a capacidade de aprendizado. Contrariando a crença de que a maior parte da formação neuronal ocorre na infância, estudos demonstram que algumas regiões cerebrais continuam a gerar novos neurônios ao longo da vida adulta, embora em ritmo muito menor. A função exata desse processo, no entanto, permanecia em debate científico.
Um estudo recente, publicado por uma equipe multidisciplinar de pesquisadores em células-tronco, neurocientistas, neurologistas, neurocirurgiões e neuropsicólogos, investigou a relação entre a neurogênese em adultos e a função cognitiva. Para isso, analisaram dados de pacientes com epilepsia refratária a medicamentos, que se submeteram a avaliações cognitivas antes e doaram tecido cerebral durante procedimentos cirúrgicos para tratar suas crises convulsivas.
A pesquisa revelou uma forte associação entre o número de novos neurônios no cérebro adulto e a capacidade de aprendizado verbal – ou seja, o aprendizado por meio da audição. Em outras palavras, pacientes com maior quantidade de novos neurônios apresentaram menor declínio cognitivo, especialmente na área de aprendizado verbal. Esta descoberta contraria estudos em modelos animais, como camundongos, onde a neurogênese está mais ligada ao aprendizado espacial através da exploração visual. A equipe observou que, em humanos, essa correlação não se mostrou presente.
Os pesquisadores utilizaram marcadores de neurogênese em exames microscópicos de tecido cerebral para estabelecer a relação entre o número de novos neurônios e a função cognitiva. A pesquisa destaca a importância do aprendizado auditivo, fundamental para a vida diária de muitas pessoas e sujeito a declínios com a idade e doenças neurológicas como a epilepsia e o Alzheimer. Com o aumento da população idosa, a incidência de declínio cognitivo e seu impacto nos sistemas de saúde se torna uma preocupação global.
A equipe, considerando a importância da descoberta para o desenvolvimento de tratamentos para restaurar a cognição, iniciou um ensaio clínico (https://clinicaltrials.gov/study/NCT05179083?term=NCT05179083) para investigar o aumento da produção de novos neurônios e a melhoria da cognição em pacientes com epilepsia por meio de exercícios aeróbicos. O estudo está atualmente na Fase 1, focando na segurança do método, com dois pacientes já tendo concluído a etapa com sucesso. A meta é recrutar mais oito participantes para concluir esta fase.
Este estudo ressalta a necessidade de pesquisas em neurogênese em humanos, considerando as diferenças observadas entre modelos animais e seres humanos. A compreensão da regeneração cerebral poderá contribuir para a promoção da saúde do cérebro ao longo da vida, considerando que os medicamentos atuais para epilepsia focam principalmente na redução de crises, sem abordar adequadamente o declínio cognitivo que os pacientes frequentemente experimentam.
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