Novos estudos indicam que a alimentação tem um papel crucial na proteção contra a demência, ou no aumento do risco de desenvolvê-la. Com o envelhecimento da população mundial, a incidência de demência tem crescido, e a Organização Mundial da Saúde (OMS) projeta que, em 2050, cerca de 152 milhões de pessoas serão diagnosticadas com alguma forma da doença. Essa perspectiva preocupa, já que afeta milhões de indivíduos e sobrecarrega os sistemas de saúde e cuidadores.
Diante da ausência de cura, a prevenção se torna a melhor estratégia. Pesquisas recentes apontam para a importância de reduzir a inflamação intestinal como forma de evitar a demência. Um desses estudos, publicado na revista Alzheimer’s & Dementia, revelou que dietas ricas em alimentos inflamatórios, como grãos processados, carne vermelha e gorduras saturadas, elevam o risco de demência em 84%. O estudo, que acompanhou 1.487 pessoas com idade média de 69 anos por até 22,3 anos, coletou dados sobre seus hábitos alimentares e a ocorrência de demência e doença de Alzheimer.
Os participantes com menores índices de inflamação na dieta mostraram maior proteção contra a demência. Por outro lado, aqueles com dietas pró-inflamatórias apresentaram maior risco de demência e Alzheimer. A pontuação da inflamação foi calculada com base no equilíbrio entre fatores pró-inflamatórios (gorduras saturadas, ingestão calórica total e carboidratos) e anti-inflamatórios (fibras, ômega-3 e vitaminas A, C, D e E). Os autores do estudo concluíram: “Embora esses resultados promissores precisem ser replicados e validados, nossos resultados sugerem que dietas que se correlacionam com baixos índices inflamatórios dietéticos podem prevenir a demência em idade avançada.” Artigo científico
Outro estudo, também publicado na Alzheimer’s & Dementia, analisou o impacto da dieta MIND (Mediterranean-DASH Intervention for Neurodegenerative Delay) em mais de 5.200 adultos mais velhos de Chicago, sendo 60% deles afrodescendentes, durante oito anos. Os resultados indicaram que a dieta MIND, que é rica em alimentos com ação antioxidante e anti-inflamatória, está associada a uma menor taxa de declínio cognitivo. A dieta já havia sido relacionada a melhor desempenho cognitivo, menor risco de demência e sintomas de Alzheimer, além de menos incapacidade.
O estudo atual reforçou esses resultados em uma amostra mais diversa. Embora a dieta MIND tenha beneficiado a todos, os participantes afrodescendentes precisaram de maior adesão para obter o mesmo nível de proteção contra o declínio cognitivo. Os autores observaram que “adultos mais velhos afrodescendentes e hispânicos têm maior incidência e prevalência de demência em comparação com adultos brancos”, sugerindo a influência de fatores socioeconômicos, biológicos e ambientais.
A dieta MIND preconiza o consumo de:
- ≥3 porções de grãos integrais diariamente
- ≥1 porção de vegetais não folhosos diariamente
- ≥6 porções de vegetais folhosos semanalmente
- ≥5 porções de nozes semanalmente
- ≥4 refeições com feijão semanalmente
- ≥2 porções de frutas vermelhas semanalmente
- ≥2 refeições com aves semanalmente
- ≥1 refeição com peixe semanalmente
- Uso de azeite de oliva e abacate para adição de gorduras
E estabelece limites para o consumo de:
- ≤5 porções de doces e bolos semanalmente
- ≤4 porções de carne vermelha (boi, porco, cordeiro, etc.) semanalmente
- ≤1 porção de queijo e frituras semanalmente
- ≤1 colher de sopa de manteiga ou margarina diariamente
Os dois estudos apontam para a mesma conclusão: dietas pró-inflamatórias aumentam o risco de demência, enquanto dietas anti-inflamatórias o reduzem. Apesar de as pesquisas demonstrarem apenas uma associação, e não uma relação de causa e efeito, as descobertas sugerem um passo simples e potencialmente eficaz para reduzir o risco de demência, minimizando também o fardo futuro sobre os sistemas de saúde. Artigo Científico
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