Um novo estudo publicado no Journal of Child Psychology and Psychiatry sugere uma possível ligação entre o uso de gasolina com chumbo e o aumento de transtornos de saúde mental na Geração X (indivíduos nascidos entre 1966 e 1986) nos Estados Unidos.
A pesquisa estima que cerca de 151 milhões de casos adicionais de transtornos mentais entre a população americana poderiam ser atribuídos à exposição ao chumbo presente na gasolina. Os transtornos mais afetados foram ansiedade e depressão, além de TDAH (transtorno do déficit de atenção e hiperatividade) e aumento no neuroticismo, com diminuição da consciência.
O chumbo, em suas diversas formas, foi utilizado em inúmeros produtos cotidianos por milênios. Os romanos, por exemplo, o adicionavam ao vinho como adoçante. No entanto, seu uso mais disseminado foi como aditivo na gasolina, a partir de 1921, quando engenheiros da General Motors descobriram que melhorava o desempenho dos motores.
Apesar de preocupações sobre a segurança da gasolina com chumbo terem surgido imediatamente, com relatos de doenças e mortes entre trabalhadores envolvidos na produção do aditivo tetraetilchumbo, o cirurgião-geral dos EUA desconsiderou essas preocupações na época, alegando falta de evidências de efeitos negativos em níveis de exposição baixos.
O debate naquela época foi amplamente influenciado por estudos patrocinados pela indústria, como descrito no livro de 2009, Lead Wars: The Politics of Science and the Fate of America’s Children. Ao mesmo tempo, tintas com chumbo eram comercializadas como as melhores disponíveis, devido à sua lavabilidade e brilho.
A eliminação gradual da gasolina com chumbo começou na década de 1970, impulsionada pela invenção do conversor catalítico (incompatível com gasolina com chumbo) e pela crescente evidência científica dos efeitos nocivos do chumbo na saúde. Nos EUA, a tinta com chumbo para uso residencial foi proibida em 1978. O Reino Unido baniu a gasolina com chumbo em 1999, e a Argélia foi o último país a fazê-lo, em 2021.
A redução gradual do chumbo no meio ambiente permitiu estudos que aprofundaram a compreensão dos seus impactos. Um estudo na Suécia, por exemplo, comparou crianças nascidas perto de rodovias (maior exposição a emissões de chumbo) com crianças em áreas mais distantes. Observou-se que a exposição ao chumbo reduziu o desempenho escolar, aumentou o risco de atividades criminosas e diminuiu a renda ao longo da vida. Esses efeitos sobre criminalidade, nível de educação e comportamentos de risco também foram encontrados nos EUA.
O chumbo age no organismo mimetizando o cálcio, afetando sistemas que dependem do cálcio para funcionar. Está associado à perda de função cognitiva, além de doenças renais e cardiovasculares, hipertensão e problemas de fertilidade. Um estudo nos EUA explorou o fato de que a gasolina com chumbo ainda era permitida em corridas da Nascar, encontrando maior taxa de mortalidade por doenças cardiovasculares em idosos que viviam perto de circuitos de corrida durante as provas. Esse estudo reforça a associação entre a exposição ao chumbo e problemas de saúde.
O estudo do Journal of Child Psychology and Psychiatry se baseia em pesquisas anteriores em Chicago e na Nova Zelândia. Os pesquisadores calcularam a fração das mudanças na saúde mental dos americanos nascidos em diferentes anos que podem ser atribuídas ao chumbo, considerando a exposição infantil ao chumbo e as emissões de chumbo ao longo dos anos. Embora não seja uma abordagem perfeita, o estudo fornece uma primeira estimativa dos efeitos da gasolina com chumbo na sociedade americana.
Como o chumbo não era usado apenas na gasolina, seu legado prejudicial é provavelmente ainda maior, e outras aplicações de chumbo estão crescendo, conforme aponta este artigo. Mesmo no Reino Unido, onde não há dados nacionais representativos sobre exposição ao chumbo, partículas de chumbo provenientes da gasolina ainda são encontradas nas ruas de Londres, sugerindo impactos significativos na saúde física e mental.
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