Um estudo abrangente do Instituto Nacional do Câncer (Inca), publicado na renomada revista científica The Lancet Regional Health Americas, expõe um cenário preocupante em relação ao câncer de cabeça e pescoço no Brasil. A pesquisa, que analisou 145 mil casos diagnosticados entre 2000 e 2017, revela que oito em cada dez pacientes recebem o diagnóstico em estágios avançados da doença.
O estudo, intitulado “Disparidades no estágio do diagnóstico de tumores de cabeça e pescoço no Brasil: uma análise abrangente de registros hospitalares de câncer”, não apenas apontou o alto índice de diagnósticos tardios, mas também identificou uma correlação entre o nível de educação do paciente e a gravidade da doença. Segundo o levantamento, pessoas com menor escolaridade apresentam maior probabilidade de serem diagnosticadas em estágios mais avançados do câncer.
O câncer de cabeça e pescoço abrange tumores que se desenvolvem em diversas regiões, incluindo boca, orofaringe, laringe (onde se localizam as cordas vocais), nariz, seios nasais, nasofaringe, pescoço, tireoide, couro cabeludo e pele do rosto e pescoço, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço. No entanto, o estudo do Inca focou especificamente nos casos de cavidade oral, orofaringe, hipofaringe e laringe.
A pesquisa constatou que a maioria dos pacientes diagnosticados com esse tipo de câncer tem 60 anos ou mais. Entretanto, uma parcela significativa de casos mais graves foi observada em indivíduos mais jovens, entre 30 e 50 anos, principalmente aqueles com baixa escolaridade ou sem ensino básico completo. Essa descoberta sugere que pessoas em situação de vulnerabilidade social podem estar mais suscetíveis a desenvolver a doença em estágios avançados. Os dados também indicam uma maior incidência de casos graves em homens, fumantes e consumidores de bebidas alcoólicas.
Além disso, o estudo revelou desigualdades regionais na prevalência do estágio mais avançado da doença, com a Região Norte apresentando os maiores índices. Diante desse cenário, os pesquisadores defendem a implementação de medidas que facilitem o acesso ao diagnóstico precoce. De acordo com a epidemiologista do Inca Flávia Nascimento de Carvalho, responsável pela pesquisa, “o foco agora é tornar mais rápido o acesso às consultas e aos exames especializados, com menos burocracia, a partir do encaminhamento realizado pelas equipes de atenção primária”.
A boa notícia é que as chances de cura do câncer de cabeça e pescoço podem chegar a 90% quando o tratamento é iniciado precocemente. Os sinais de alerta incluem desconforto na garganta, feridas que não cicatrizam, alterações na voz ou rouquidão persistente e nódulos na região do pescoço.
Um caso emblemático de sucesso no tratamento desse tipo de câncer é o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que teve um câncer de laringe diagnosticado e tratado com sucesso em 2011.
A pesquisa completa pode ser acessada na publicação original: The Lancet Regional Health Americas.
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