Um novo estudo da Universidade de Birmingham sugere que o consumo de cacau rico em flavanóis pode atenuar os efeitos negativos de uma refeição rica em gordura e situações de estresse na saúde cardiovascular.
A pesquisa, um ensaio clínico randomizado e duplo-cego, envolveu 23 adultos jovens e de meia-idade. Os participantes consumiram dois croissants de manteiga com manteiga salgada e queijo cheddar, acompanhados de um copo de leite integral. Metade do grupo ingeriu uma bebida de cacau rica em flavanóis – antioxidantes presentes em alimentos vegetais como frutas vermelhas, chá, maçãs, peras e algumas nozes – enquanto a outra metade consumiu uma bebida de cacau com baixo teor de flavanóis.
Em seguida, todos realizaram um teste de matemática mental, considerado um evento estressante. Em uma segunda sessão, os grupos inverteram as bebidas de cacau consumidas.
Após a refeição rica em gordura e o evento estressante, os pesquisadores observaram aumento no diâmetro das artérias braquial (que leva sangue oxigenado para o corpo) e carótida (que leva sangue oxigenado para o cérebro) em todos os participantes. No entanto, a artéria braquial dos participantes que consumiram cacau com baixo teor de flavanóis demorou até 90 minutos para recuperar a capacidade de resposta às mudanças no fluxo sanguíneo, um sinal de comprometimento associado a um aumento de 9 a 13% no risco de eventos cardiovasculares futuros.
O grupo que consumiu cacau rico em flavanóis apresentou uma resposta significativamente melhor da artéria braquial, mostrando proteção contra os efeitos negativos da refeição gordurosa e do estresse.
“Para o nosso conhecimento, este é o primeiro estudo a mostrar que o cacau rico em flavanóis pode atenuar a diminuição induzida pelo estresse na dilatação mediada pelo fluxo braquial após uma refeição rica em gordura”, afirmam os autores, liderados pela fisiologista Rosalind Baynham, em publicação no estudo Food and Function.
A dose de flavanóis utilizada no experimento equivale a duas xícaras de chá verde, 5,5 colheres de sopa de cacau não processado ou 300 gramas de frutas vermelhas. A maioria das pessoas que seguem uma dieta ocidental não consome a quantidade diária recomendada de flavanóis, que é equivalente a cerca de duas xícaras de chá preto ou verde, segundo recomendação de pesquisadores da UC Davis (link para o estudo).
Embora sejam necessários mais estudos, a pesquisa sugere que o consumo de cacau rico em flavanóis pode ser uma estratégia para minimizar os impactos de escolhas alimentares menos saudáveis em situações de estresse, especialmente na saúde cardiovascular.
“Para aqueles que tendem a procurar um agrado quando estão estressados ou que dependem de alimentos convenientes porque trabalham em empregos de alta pressão ou têm pouco tempo, incorporar algumas dessas pequenas mudanças pode fazer uma grande diferença”, destaca a psicóloga biológica Jet Veldhuijzen van Zanten, da Universidade de Birmingham, em declaração divulgada pela universidade.
É importante notar que o estudo não encontrou impacto do cacau rico em flavanóis no fluxo sanguíneo ou oxigenação do cérebro após o estresse. Experimentos futuros com amostras maiores podem esclarecer esse resultado, considerando que estudos anteriores sobre flavanóis sugeriram benefícios cognitivos.
“Esta pesquisa mostra que beber ou comer um alimento rico em flavanóis pode ser usado como uma estratégia para mitigar parte do impacto de escolhas alimentares mais pobres no sistema vascular”, diz a cientista nutricional Catarina Rendeiro, também da Universidade de Birmingham.
“Isso pode nos ajudar a tomar decisões mais informadas sobre o que comemos e bebemos durante períodos de estresse.”
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