O Brasil apresenta um índice elevado de nascimentos prematuros, ultrapassando a média global. Em 2023, aproximadamente 12% dos partos no país ocorreram antes das 37 semanas de gestação, resultando em cerca de 300 mil bebês prematuros. Este número coloca o Brasil entre os dez países com maior incidência de prematuridade anual, superando a média mundial de 10%.
Segundo Denise Suguitani, diretora executiva da Associação Brasileira de Pais, Familiares, Amigos e Cuidadores de Bebês Prematuros, muitos casos poderiam ser evitados. Ela ressalta que a prematuridade está fortemente ligada a fatores socioeconômicos, como acesso à saúde e educação. “A gestação na adolescência, por exemplo, eleva o risco de parto prematuro, enquanto um bebê planejado tem menor chance de nascer antes do tempo. O acesso e a qualidade do pré-natal também são cruciais”, afirma Suguitani.
Causas e prevenção da prematuridade
A obstetra Joeline Cerqueira, da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), destaca que diversas condições identificadas no pré-natal podem ser tratadas para prevenir o parto prematuro, incluindo:
- Infecções, especialmente urinárias e sexualmente transmissíveis.
- Ruptura prematura da bolsa amniótica.
- Síndromes hipertensivas durante a gestação.
A especialista enfatiza a importância de iniciar o pré-natal o mais cedo possível, realizar todos os exames recomendados e avaliar riscos pré-existentes. Um exame crucial é a medição do colo do útero por volta da 22ª semana de gestação, pois um colo curto aumenta o risco de prematuridade. Nestes casos, a progesterona via vaginal pode ser utilizada para prevenir contrações precoces.
A ruptura prematura da bolsa amniótica é mais comum em gestantes adolescentes, idosas, com malformações uterinas, desnutridas, ou que consomem álcool, tabaco ou outras substâncias durante a gravidez. Gestações múltiplas e problemas na inserção da placenta também elevam o risco. Mesmo em casos irreversíveis, o monitoramento frequente e o uso de medicamentos para acelerar a maturidade dos órgãos do bebê podem prolongar a gestação.
Infecções bacterianas, principalmente urinárias e sexualmente transmissíveis, são grandes causas de prematuridade. Infecções sexualmente transmissíveis podem ser detectadas por exames laboratoriais e prevenidas com sexo seguro. Infecções urinárias, comuns na gestação, podem não apresentar sintomas, mas desconfortos abdominais e aumento repentino da frequência urinária podem indicar alerta. O tratamento com antibióticos pode prevenir partos prematuros.
A hipertensão é um fator crítico, responsável por uma parcela significativa dos partos prematuros e a principal causa de morte materna e perinatal no Brasil. Estima-se que 15% das gestantes desenvolvam pressão alta durante a gravidez, sendo que um quarto dos partos prematuros ocorrem devido a esse problema. A aferição da pressão arterial durante o pré-natal é essencial, e a profilaxia com AAS e cálcio pode prevenir casos graves.
Cesarianas e a prematuridade
O alto número de cesarianas no Brasil, que atingiu quase 60% dos nascimentos em 2023, também contribui para a prematuridade, segundo Denise Suguitani. Muitas cesáreas eletivas, agendadas sem indicação médica, podem levar a partos com bebês prematuros, mesmo que o agendamento seja feito após as 39 semanas, devido a imprecisões no cálculo da idade gestacional. Bebês nascidos antes do tempo podem apresentar dificuldades para mamar e respirar.
Consequências e acompanhamento
A viabilidade fetal geralmente começa a partir das 25 semanas, com um peso mínimo de 500 gramas. No entanto, a mortalidade entre prematuros extremos é alta, variando de 30% a 45%, e menos da metade dos sobreviventes não desenvolvem sequelas. A cada semana de gestação, a taxa de sobrevivência aumenta e o risco de complicações diminui, mas mesmo bebês nascidos poucos dias antes do termo podem apresentar atrasos no desenvolvimento.
Um exemplo é o caso de Yngrid Antunes Louzada, que teve um parto prematuro devido a uma infecção urinária. Seus gêmeos, Lucas e Isis, nasceram com 27 semanas e precisaram de 52 dias de cuidados intensivos. Apesar dos riscos, ambos se desenvolveram bem, mas precisaram de acompanhamento com fisioterapia, terapia ocupacional e fonoaudiologia por cerca de dois anos e meio. Esse acompanhamento foi facilitado pelo sistema de saúde da Marinha, onde as crianças nasceram.
Denise Suguitani reitera que mesmo os prematuros saudáveis precisam de acompanhamento especializado para identificar e tratar precocemente possíveis riscos no desenvolvimento. Ela destaca ainda a importância da assistência social para as famílias, pois o impacto da prematuridade pode levar ao abandono do bebê ou à separação familiar, sobrecarregando a mãe com as demandas de consultas e terapias.
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