Em um discurso à nação, o presidente francês Emmanuel Macron abordou a crescente tensão na Europa, classificando a Rússia como uma ameaça direta e defendendo uma maior união entre os países do continente em apoio à Ucrânia. Macron surpreendeu ao anunciar que pretende discutir com líderes europeus a possibilidade de colocar o arsenal nuclear francês à disposição dos aliados, como forma de dissuasão.
O presidente francês também teceu críticas à postura do governo Trump, mencionando o alinhamento com Moscou e a imposição de tarifas comerciais contra aliados tradicionais, como o Canadá. Macron enfatizou o fim de um período de tranquilidade pós-Guerra Fria.
A ameaça russa: Macron destacou o contínuo rearmamento da Rússia, que, segundo ele, planeja expandir seu Exército significativamente até 2030, com o acréscimo de 300 mil soldados, 3.000 tanques e 300 aviões de combate.
Diante desse cenário, Macron defendeu a necessidade de fortalecer a capacidade de dissuasão da Europa, oferecendo o arsenal nuclear francês como um elemento central dessa estratégia. “Respondendo ao chamado histórico do futuro chanceler Alemão [Friedrich Merz], decidi abrir o debate estratégico sobre a proteção de nossos aliados no continente europeu por meio de nossa dissuasão (nuclear). Aconteça o que acontecer, a decisão sempre esteve e permanecerá nas mãos do Presidente da República, chefe das Forças Armadas.”
Com a saída do Reino Unido da União Europeia, a França se tornou o único país do bloco a possuir armas nucleares. A proposta de Macron visa garantir a segurança e a estabilidade do continente em um momento de incertezas.
Sobre os Estados Unidos, Macron expressou o desejo de que o país continue ao lado das potências ocidentais, mas ressaltou a importância de a Europa estar preparada caso isso não ocorra. Ele classificou a guerra tarifária iniciada pelo governo Trump como “incompreensível” e prometeu uma resposta à taxação de produtos europeus.
“O futuro da Europa não precisa ser decidido em Washington ou Moscou. E sim, a ameaça volta a vir do Leste e a inocência, por assim dizer, dos últimos 30 anos, desde a queda do Muro de Berlim, acabou agora.”
Contexto do conflito Rússia-Ucrânia
A guerra entre Rússia e Ucrânia, iniciada em 2022, tem gerado instabilidade e preocupação em toda a Europa. O conflito teve início após a derrubada do presidente ucraniano Viktor Yanukovich, pró-Rússia, em 2014, e a subsequente anexação da Crimeia e do Donbas pela Rússia.
A Europa tem se posicionado ao lado da Ucrânia, fornecendo apoio militar e financeiro para conter o avanço russo. A postura dos Estados Unidos, no entanto, tem sido objeto de debate, especialmente após a reaproximação entre o governo Trump e Vladimir Putin.
Dissuasão nuclear: Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, as potências militares têm investido em arsenais nucleares como forma de dissuadir ataques de inimigos. A lógica por trás dessa estratégia é que o poder destrutivo das armas nucleares desencoraja qualquer agressão, garantindo a paz por meio do equilíbrio do terror.
A Campanha Internacional para Abolição das Armas Nucleares (ICAN) estima que existam mais de 12 mil bombas nucleares no mundo, concentradas principalmente na Rússia e nos Estados Unidos. A França, segundo a ICAN, possui 290 bombas nucleares, fruto de um programa nuclear iniciado nos anos 1950.
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