O governo da Groenlândia manifestou forte descontentamento com a planejada visita de uma delegação dos Estados Unidos, liderada por Usha Vance, esposa do vice-presidente J.D. Vance. A visita, agendada para esta semana, foi descrita pelo primeiro-ministro interino, Mute Egede, como uma “provocação” e “interferência estrangeira”.
Egede expressou sua indignação através de uma declaração no Facebook, onde afirmou que não haverá reuniões com a delegação americana, que, segundo ele, também inclui o conselheiro de Segurança Nacional, Mike Waltz, e o secretário de Energia, Chris Wright. “É necessário ressaltar que nossa integridade e nossa democracia devem ser respeitadas sem qualquer interferência estrangeira. Os americanos foram claramente informados que só poderá haver reuniões após a posse do novo governo“, declarou Egede.
A delegação americana tem programado permanecer na Groenlândia de quinta-feira (27) a sábado (29), com o objetivo de participar de eventos como uma corrida de cães de trenó. Além disso, Waltz e Wright pretendem visitar Pituffik, uma base militar dos EUA considerada crucial para o sistema de alerta de mísseis balísticos do país.
Usha Vance, em um vídeo divulgado pelo consulado dos EUA na Groenlândia, buscou minimizar a controvérsia, afirmando que sua visita visa “celebrar a longa história de respeito mútuo e cooperação” entre as duas nações.
Entretanto, em entrevista ao jornal local “Sermitsiaq”, Egede, que permanece no cargo interinamente após a derrota de seu partido nas recentes eleições, lamentou a postura dos EUA: “Até recentemente, podíamos confiar nos americanos, que eram nossos aliados e amigos, e com quem gostávamos de trabalhar de perto, mas esse tempo acabou“.
O provável sucessor de Egede, Jens-Frederik Nielsen, líder do partido de centro-direita vencedor das eleições, já havia criticado as declarações de Donald Trump sobre a possibilidade de anexação da Groenlândia, classificando-as como “inapropriadas”.
Brian Hughes, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, buscou suavizar a situação, afirmando que a visita tem como objetivo “construir parcerias que respeitem a autodeterminação da Groenlândia e promovam a cooperação econômica”. Hughes acrescentou: “Esta é uma visita para aprender sobre a Groenlândia, sua cultura, história e povo, e para participar de uma corrida de trenós puxados por cães que os Estados Unidos têm orgulho de patrocinar, pura e simplesmente“.
As tensões em torno da Groenlândia não são novas. Donald Trump já expressou diversas vezes o interesse em assumir o controle do território, que pertence à Dinamarca, levantando preocupações sobre a soberania da ilha. A Groenlândia, a maior ilha do mundo, é considerada estratégica para a segurança americana devido à sua localização e recursos naturais.
Em entrevista ao jornal local Sermitsiaq no domingo, Egede criticou as nações ocidentais por se oporem inadequadamente aos EUA, afirmando: “Nossos aliados na comunidade internacional sentem vontade de se esconder em um pequeno canto e quase sussurram seu apoio, o que não tem efeito.”
O primeiro-ministro dinamarquês, Mette Frederiksen, disse que seu governo viu a viagem no contexto das reivindicações territoriais do governo Trump sobre a Groenlândia, acrescentando que a cooperação de Copenhague com os EUA está condicionada às “regras fundamentais da soberania”.
Em fevereiro, o vice-presidente afirmou que Copenhague “não está fazendo seu trabalho” e “não está sendo um bom aliado” de Washington.
Ele declarou ainda: “Se os interesses americanos exigirem que tenhamos mais interesse territorial na Groenlândia, é isso que o Presidente Trump vai fazer, porque ele não se importa com o que os europeus gritam conosco”.
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