Educação ambiental e a recuperação da Mata Atlântica

No município de Cachoeiras de Macacu, Rio de Janeiro, um projeto de educação ambiental busca conscientizar a população sobre a importância da preservação da Mata Atlântica. O projeto Guapiaçu, uma iniciativa da Ação Socioambiental (ASA) em parceria com a Petrobras, combina reflorestamento com atividades educativas, utilizando o Parque Estadual dos Três Picos como um laboratório a céu aberto.

Educação em Ação: A educadora ambiental Ríllary Lemos, integrante do Projeto Guapiaçu, realiza experimentos simples com estudantes e visitantes do parque, analisando a qualidade da água dos córregos. Ela utiliza testes com detergente para detectar a presença de sabão, mede o oxigênio dissolvido e o pH da água. “Aqui a gente tem três dos experimentos que nós fazemos. Tem o detergente que é para analisar se tem a presença de algum tipo de sabão na água, tem o oxigênio dissolvido para ver os níveis de oxigenação daquela água e tem o PH [que mede o nível de acidez] que é o mais simples que a gente faz e só precisa de um reagente”, explica Ríllary. Para ela, o mais importante é despertar a conscientização sobre a importância da preservação dos recursos hídricos e da mata ciliar, exemplificando os efeitos de sua ausência em enchentes recentes na região. “A maior preocupação é sensibilizar eles a olharem para os rios porque aqui a gente tem muito costume de ignorar, porque é algo comum para a gente. Então, a gente faz com que eles parem na beira do rio e comecem a analisar aquele rio. Se ali está sem a mata ciliar [vegetação às margens dos rios] ou não. Isso é importante de se perceber. A gente teve um episódio de chuvas aqui no início do ano e teve uma enchente. A gente percebeu que muito lugar não tinha mata ciliar e ficou muito degradado. Eles conseguiram entender o porquê de ficar degradado”, relata.

Importância do Rio Macacu: Cachoeiras de Macacu destaca-se pelo seu potencial hídrico. O rio Macacu, que nasce na Serra dos Órgãos a cerca de 1.700 metros de altitude, é o principal rio que deságua na Baía de Guanabara. A bacia hidrográfica do rio Guapi-Macacu, formada pela união do rio Macacu com o rio Guapimirim, abastece cerca de dois milhões de pessoas em cinco municípios da região.

Parque Estadual dos Três Picos: O Parque Estadual dos Três Picos, maior parque estadual do Rio de Janeiro, estendendo-se por Cachoeiras de Macacu, Nova Friburgo, Teresópolis, Guapimirim e Silva Jardim, desempenha um papel crucial na preservação da Mata Atlântica. Dois terços de suas florestas e 60% de suas águas estão localizados na porção de Cachoeiras de Macacu. Criado em 2002, o parque tem como objetivo principal a preservação dos remanescentes da Mata Atlântica, bioma com o maior número de espécies de plantas e animais ameaçados de extinção no Brasil. A gestora do Parque, Maria Alice Domingos Picoli, ressalta a importância da parceria com a comunidade: “A gente conta muito com essas pessoas que vivem nos limites do parque né? A gente precisa fazer essa rede, fazer essa parceria com todo mundo pra gente conseguir preservar. Porque nós não somos ilhas, né? A gente não consegue fazer isso de forma fragmentada, a gente precisa se unir”, afirma Picoli. Cerca de 70% da população brasileira vive em áreas de Mata Atlântica, mas o Inpe registra um desmatamento histórico de 71,6% do bioma.

A Lei da Educação Ambiental: A partir de 2025, a educação ambiental será integrada aos currículos escolares em todo o país, conforme a Lei 14.926/2024, que altera a Política Nacional de Educação Ambiental de 1999. As escolas deverão incluir em seus projetos pedagógicos atividades relacionadas a riscos e emergências socioambientais e outros aspectos da questão ambiental e climática.

Resultados Visíveis: Em Cachoeiras de Macacu, o reflorestamento realizado pelo Projeto Guapiaçu em áreas de lazer, como a Prainha do rio Guapiaçu, já demonstra resultados positivos. Angelita Ferraz, após 26 anos, retornou à Prainha e descreveu a transformação: “Tá muito lindo, tá bem arborizado, com muita sombra. Para cá, onde eram as árvores, era uma grande praia, por isso era chamado de prainha. Era uma grande praia de areia. O rio era mais largo e ali nós chamávamos de Poço da Lua. Nós vínhamos para cá, ficávamos acampados aqui, comendo camarão, tocando viola”, relata, emocionada ao descrever a experiência de um mergulho com a paisagem renovada: “Não tem palavras. Se eu for falar, eu vou ficar chorando. É uma sensação muito gostosa, é gratificante olhar, ver tudo isso aqui”, finaliza.

*A equipe viajou a convite da Petrobras