O cinema brasileiro volta a ocupar lugar de destaque no cenário internacional. “O Agente Secreto”, sexto longa-metragem dirigido por Kleber Mendonça Filho, foi oficialmente selecionado para a Competição Oficial da 78ª edição do Festival de Cannes, que acontece entre os dias 13 e 24 de maio de 2025, na França. Estrelado pelo renomado ator Wagner Moura, o filme terá sua première mundial em um dos palcos mais prestigiados do cinema global, concorrendo à Palma de Ouro, principal prêmio do festival.
O anúncio da seleção foi feito em coletiva de imprensa nesta quinta-feira (10), em Paris, com a presença do diretor artístico do festival, Thierry Frémaux, e da presidente Iris Knobloch. Esta é a terceira vez que um longa de Kleber Mendonça Filho integra a disputa pela Palma de Ouro — os anteriores foram “Aquarius” (2016) e “Bacurau” (2019), este último codirigido com Juliano Dornelles.
Uma trama de suspense no Brasil dos anos 70
Ambientado no ano de 1977, “O Agente Secreto” apresenta um thriller político e psicológico, centrado em Marcelo (Wagner Moura), um especialista em tecnologia que retorna ao Recife tentando deixar para trás um passado nebuloso. Ao chegar à cidade natal, ele se depara com um ambiente tenso e imprevisível, onde nada é o que parece.
Com duração de 158 minutos e fotografia em formato Scope (2.40:1), o longa mergulha o espectador em um Brasil marcado pela ditadura militar, mas também repleto de nuances e camadas humanas. O elenco é extenso e conta com nomes como Gabriel Leone, Maria Fernanda Cândido, Udo Kier, Hermila Guedes, Thomás Aquino, Alice Carvalho e Edilson Filho.
O filme é uma coprodução internacional que reúne empresas do Brasil (CinemaScópio), França (MK Productions), Holanda (Lemming) e Alemanha (One Two Films). A distribuição no Brasil será feita pela Vitrine Filmes, enquanto a MK2 se encarrega do mercado internacional.
Um olhar para o passado, com ecos no presente
Ao Portal N10, Kleber Mendonça Filho explicou a origem do projeto:
“Esse filme é resultado de um desejo grande de continuar filmando o Brasil e o Recife, desta vez no contexto histórico do mundo de 50 anos atrás, de um Brasil do passado. Eu também tinha vontade de fazer um filme de mistério e de suspense, em que o Recife fosse o cenário principal. Eu era criança nos anos 1970, mas me lembro com alguma clareza do ano de 1977, quando eu tinha nove anos. Creio que ‘77 foi o primeiro ano que me marcou ainda como criança. Naquela época, o Brasil era muito diferente, mas, de certa forma, também muito parecido com o de hoje”.
O diretor celebrou a estreia em Cannes como um marco na trajetória da obra:
“É a combinação perfeita: encerra a realização do filme e inaugura a sua trajetória. Estou feliz com ‘O Agente Secreto’, honrado com o convite e quero que as pessoas vejam o filme no exterior e no Brasil. É uma história muito brasileira e, por isso mesmo, é um filme do mundo todo”.
Uma parceria aguardada com Wagner Moura
A estreia marca também a primeira colaboração entre Kleber Mendonça Filho e Wagner Moura, considerada uma das mais aguardadas do cinema brasileiro. O ator, atualmente em Londres gravando outro projeto, comentou sobre a experiência:
“Filmar ‘O Agente Secreto’ foi uma das melhores experiências que tive em sentidos diversos. Trabalhar com Kleber era quase uma obsessão desde que vi ‘O Som ao Redor’. Estar em Recife, 25 anos depois de estrear ali ‘A Máquina’, a peça de João Falcão, e viver essa cidade incrível com Kleber, Emilie e seus amigos, que agora também são meus, sobretudo saber que para além da alegria de estar no Nordeste falando minha língua, eu estava fazendo um filmaço. E Cannes é a minha primeira memória de ter conversado com Kleber, no ano de 2003, quando estive lá com o filme ‘Cidade Baixa’, dirigido por Sergio Machado, e ele estava cobrindo o festival como crítico de cinema. Tudo fazendo um sentido lindo danado”.
Segundo o próprio Kleber, o papel de Marcelo foi concebido pensando em Wagner:
“Este filme foi criado especialmente para Wagner depois de anos tentando ajustar os ponteiros para trabalharmos juntos. O roteiro foi escrito ao longo de três anos até que chegou a hora de enviá-lo e ver se ele se interessaria. A reação dele foi sensacional. Além de ser um grande ator, eu passei a conhecer a grande pessoa e hoje o amigo Wagner”.
Produção internacional e equipe técnica de peso
As filmagens ocorreram entre junho e agosto de 2024 em três cidades brasileiras: Recife, Brasília e São Paulo. A montagem foi realizada durante oito meses por Eduardo Serrano (“Aquarius”, “Bacurau”) e Matheus Farias (“Retratos Fantasmas”), com a pós-produção de som e imagem finalizada em Berlim e Paris.
A produtora Emilie Lesclaux detalhou a jornada de realização do filme:
“Começamos a pré-produção em janeiro do ano passado e fomos até o mês de maio. Iniciamos as filmagens em junho, com duração de dez semanas, seguidas por muitos meses de montagem. Agora estamos na pós-produção de som e imagem, feita em Berlim e Paris. Estrear no Festival de Cannes é muito importante na nossa trajetória e mal posso esperar para ver o filme recém finalizado na tela do Grand Théâtre Lumière e poder dividir essa alegria com a nossa equipe e elenco”.
Cannes: duas décadas de história com Kleber Mendonça Filho
Com “O Agente Secreto”, Kleber Mendonça Filho completa 20 anos de relação com Cannes. Tudo começou em 2005, quando o curta “Vinil Verde” foi selecionado para a Quinzena dos Realizadores. Desde então, foram cinco participações no festival, consolidando o diretor como um dos principais nomes do cinema contemporâneo latino-americano.
Ficha técnica
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Direção e Roteiro: Kleber Mendonça Filho
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Produção: Emilie Lesclaux
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Fotografia: Evgenia Alexandrova
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Montagem: Eduardo Serrano e Matheus Farias
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Som Direto: Moabe Filho, Pedrinho Moreira
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Desenho Sonoro e Edição de Som: Tjin Hazen
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Mixagem: Cyril Holtz
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Direção de Arte: Thales Junqueira
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Figurino: Rita Azevedo
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Caracterização: Marisa Amenta
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Distribuição no Brasil: Vitrine Filmes
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Distribuição Internacional: MK2
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