Uma pesquisa recente do Instituto Datafolha, encomendada pela Fundação Itaú e pelo Todos Pela Educação, revelou dados preocupantes sobre a percepção das famílias brasileiras em relação à educação pública. O estudo, que entrevistou 4.969 pais e responsáveis por crianças e adolescentes de 6 a 18 anos em escolas municipais, apontou que um em cada três responsáveis acredita que seus filhos não estão aprendendo o esperado para a idade.
Desempenho escolar e abandono: A pesquisa destacou a preocupação com a permanência dos alunos na escola. Mais da metade dos entrevistados (51%) concordou que muitos estudantes estão abandonando os estudos. Esse índice é ainda mais preocupante entre famílias com renda de até um salário mínimo (53%), enquanto entre as famílias com renda superior a cinco salários mínimos, o percentual cai para 37%. A situação se agrava nos anos finais do ensino fundamental (6º ao 9º ano), onde 57% dos responsáveis expressaram preocupação com o abandono escolar.
Qualidade da aprendizagem: A qualidade do aprendizado também é uma grande preocupação. Entre os responsáveis por alunos dos anos iniciais (1º ao 5º ano), 36% acham que seus filhos não estão aprendendo o suficiente. Nos anos finais, esse número aumenta para 41%.
Necessidade de melhorias: O estudo revela a necessidade de reforço escolar em diversas áreas. A esmagadora maioria (91%) dos entrevistados defende o fortalecimento do ensino de matemática. Para se ter uma ideia da dificuldade enfrentada pelos estudantes brasileiros, um estudo recente mostrou que mais da metade deles não domina conhecimentos básicos da matéria, ficando abaixo do nível considerado baixo. Confira mais detalhes sobre este dado alarmante em nossa matéria sobre o Problema da poltrona: matemático resolve enigma de décadas. Mais de 80% também apoiam a ampliação de atividades artísticas, esportivas e culturais, além da inclusão de temas sobre diversidade étnico-racial. A coordenadora de Políticas Educacionais do Todos Pela Educação, Natália Fregonesi, ressaltou a importância desses dados, afirmando: “Acho que esses dados mostram um cenário, de fato, de preocupação. Os pais desses estudantes veem que existem diversos desafios olhando para o contexto da escola, que têm estudantes que estão abandonando, que esses estudantes não estão muito motivados para ir para a escola, que eles não estão aprendendo”.
Fregonesi reforça ainda a gravidade da situação em matemática, dizendo: “Esse ponto de melhoria do ensino da matemática é um ponto que apareceu muito forte na pesquisa. Acho que é algo bastante perceptível para os pais que acompanham esses estudantes em casa, que veem as dificuldades. É um ponto que de fato precisa ser priorizado e isso está na percepção dos pais, mas está também nos resultados educacionais. Então, quando a gente olha para os índices educacionais do Brasil, a gente vê que existe uma lacuna muito grande, especialmente em matemática, em que o país não consegue avançar”. Ela cita os resultados alarmantes do Estudo Internacional de Tendências em Matemática e Ciências (TIMSS).
Soluções propostas: A pesquisa também investigou as prioridades para as próximas gestões municipais. A expansão das escolas em tempo integral liderou as sugestões (30%), seguida pela melhoria da infraestrutura escolar (20%), melhoria das condições de trabalho dos professores (17%) e investimentos na alfabetização (17%). Fregonesi explica a importância das escolas em tempo integral, afirmando: “Nas escolas de tempo integral, para além das atividades curriculares que já tem na escola regular, se abre uma possibilidade de oferecer outras atividades e outras disciplinas para esses estudantes. Então, é possível ter mais momentos, por exemplo, de reforço de matemática, é possível ter mais momentos de aulas voltadas para habilidades artísticas”. O governo federal lançou em 2023 o Programa educação em tempo integral, com a meta de alcançar 3,2 milhões de matrículas até 2026. A pesquisa também indicou que 70% dos pais afirmam que seus filhos se sentem acolhidos pelos professores, e 86% concordam que um maior acompanhamento do desenvolvimento dos alunos e uma melhor formação docente são essenciais para a melhoria da aprendizagem. Para saber mais sobre os desafios e investimentos na educação, leia a nossa reportagem sobre o orçamento de 2025: Orçamento 2025: senador pede mais recursos para educação básica e universidades.
Metodologia: A pesquisa foi realizada entre julho e agosto de 2024, combinando entrevistas presenciais em diferentes regiões do Brasil com entrevistas telefônicas por amostragem aleatória de números de telefone celular.
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