O Brasil comemora quatro décadas da criação de seus dois primeiros parques tecnológicos ainda em operação: São Carlos (SP) e Campina Grande (PB). Atualmente, segundo dados da plataforma InovaData, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o país conta com 64 parques em funcionamento, 29 em implantação e 8 em planejamento.
Apesar desse expressivo número, a concentração geográfica é um desafio. A maioria dos parques está localizada nas regiões Sul e Sudeste, principalmente em regiões metropolitanas. Sheila Pires, diretora de Apoio aos Ecossistemas de Inovação do MCTI, destaca a importância desses polos para o desenvolvimento nacional em áreas estratégicas como transição energética e bioeconomia. Ela afirma: "Há um espaço muito propício para que esses ambientes de inovação sejam mais do que parceiros. Mas que eles sejam protagonistas para que a gente possa alcançar o que essas políticas estão buscando, que é maior sustentabilidade, desenvolvimento e inclusão. Enfim, tornar o Brasil reconhecido pelo seu talento, pela sua inovação, pela sua tecnologia e um país que tenha uma indústria competitiva, de ponta".
A interiorização é apontada como crucial para a expansão do sistema. A região Norte, por exemplo, possui apenas um parque tecnológico, no Pará (PCT-Guamá), enquanto outros nove estados carecem dessa infraestrutura de inovação. A presidente da Associação Nacional das Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), Adriana Ferreira de Faria, destaca o impacto econômico das cerca de 3 mil empresas abrigadas nesses parques, com um faturamento de R$ 15 bilhões e mais de 75 mil empregos gerados no ano anterior. Segundo ela, os investimentos públicos nos últimos 30 anos na ordem de R$ 7 bilhões demonstram o retorno positivo desses investimentos. Ela complementa: "Quando esses parques atingirem a maturidade, que normalmente ocorre com 20, 25 anos, esses números serão infinitamente melhores".
A história dos parques tecnológicos brasileiros remonta a 1984, quando Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque, então presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), vislumbrou a necessidade de conectar pesquisa e mercado, inspirando-se em modelos internacionais que já se consolidavam nos EUA e na Europa. Sylvio Goulart Rosa Júnior, professor da USP e envolvido na criação do Parque de São Carlos, explica: "[Lá fora] estava sendo feito um esforço de governos para criar pontos de ligação entre as universidades, os centros de pesquisa, e o mercado, para fazer um sistema de transferência de tecnologia, de conhecimento, via apoio às startups, as empresas de base tecnológica. O Lynaldo compreendeu a importância disso, que o Brasil não podia ficar de fora desse esforço".
O Parque de São Carlos, criado em 16 de dezembro de 1984, foi pioneiro na incubação de empresas, como a Opto Eletrônica, em 2 de janeiro de 1985, a primeira incubadora da América Latina. Essa empresa, originária do Instituto de Física da USP em São Carlos, permanece ativa até hoje, tendo sido a primeira do hemisfério sul a produzir laser e a primeira no Brasil a fabricar leitores de código de barras para supermercados. Goulart ressalta a transformação social e econômica de São Carlos, uma cidade de 250 mil habitantes com alta concentração de doutores e um ecossistema robusto de inovação. Ele descreve: "Em alguns grupos de pesquisa [das universidades], a pesquisa dá o título [acadêmico], dá a patente e, algumas vezes, dá a empresa. O cara sai com uma empresa da universidade e a gente incuba".
Embora a institucionalização dos parques tecnológicos tenha ocorrido na década de 1980, São José dos Campos (SP) se considera o berço do primeiro polo tecnológico do Brasil, abrigando a Embraer, o ITA e o INPE, instituições criadas entre as décadas de 1940 e 1960. O Parque de Inovação Tecnológica de São José dos Campos (PIT), criado em 2006, abriga quase 400 empresas, principalmente do setor aeroespacial, além de polos universitários e órgãos governamentais como o Cemaden. Angela Moura, gerente de marketing da Tria Software, empresa instalada no PIT, destaca: “Para nós, é muito estratégico ter uma sala no PIT porque nos possibilita uma troca com outras grandes empresas de tecnologia, um ambiente de muita inovação e muita colaboração. E a gente sabe que isso é essencial para impulsionar nosso desenvolvimento”.
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