Uma pesquisa recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Síntese de Indicadores Sociais, revelou dados preocupantes sobre a situação de jovens no Brasil, especialmente as mulheres negras. O estudo, divulgado em 4 de dezembro de 2024, apontou que 45,2% dos jovens entre 15 e 29 anos que não estudam nem trabalham são mulheres pretas e pardas. Este é o maior índice registrado desde o início da pesquisa em 2012, superando o recorde anterior de 44% em 2015. Em 2020, durante a pandemia de Covid-19, o índice chegou ao seu ponto mais baixo da série, em 41,6%.
A disparidade é gritante quando comparamos com outros grupos. Em 2023, enquanto as mulheres negras representavam quase metade dos jovens inativos, as mulheres brancas representavam 18,9%, os homens brancos 11,3% e os homens pretos e pardos 23,4%. Os dados restantes referem-se a jovens amarelos, indígenas ou sem declaração de cor.
O número absoluto de mulheres negras nessa situação é alarmante: 4,6 milhões. Dentre elas, 23,2% são consideradas desocupadas pelo IBGE, ou seja, fazem parte da força de trabalho, mas estão sem emprego. A maioria, 76,8%, está fora da força de trabalho, indicando que sequer estão buscando emprego ativamente.
Segundo a pesquisadora do IBGE, Denise Guichard Freire, “São mulheres que têm que ficar em casa, tomando conta de filho, de algum parente, que não têm alguma rede de apoio. São essas mulheres pretas e pardas que não conseguem nem ir em busca de uma colocação.”
É importante ressaltar que a pesquisa do IBGE considera como ‘estudo’ apenas a frequência em instituições de ensino formais, excluindo cursos pré-vestibular, técnicos de nível médio e qualificação profissional. “A análise se restringe aos jovens que não estudavam e não estavam ocupados, em vez do grupo ampliado que inclui também os que não se qualificavam”, esclareceu o instituto.
No geral, o número total de jovens (15 a 29 anos) que não estudavam e não trabalhavam em 2023 foi de 10,3 milhões, representando 21,2% da população nessa faixa etária. Embora seja o menor índice desde 2012, a proporção ainda é significativamente alta. O pico foi registrado em 2020, no primeiro ano da pandemia, com 26,7% da população jovem inativa. Em 2022, este número caiu para 22,3%, representando uma redução de 5,8% ou 633 mil pessoas entre 2020 e 2022.
Denise Freire aponta dois fatores para explicar essa queda: o primeiro é demográfico, com uma redução na população jovem brasileira; o segundo está relacionado à recuperação do mercado de trabalho, com aumento na oferta de empregos. A pesquisadora destaca que, embora haja uma redução geral, o decréscimo na participação de jovens negras (1,6%) foi significativamente menor comparado com outras categorias: jovens brancas (-11,4%), jovens brancos (-6,5%) e jovens negros (-9,3%).
Para a pesquisadora, é fundamental que políticas públicas sejam direcionadas para este grupo. “É o grupo que tem a maior dificuldade de sair em busca de colocação no mercado de trabalho ou voltar a estudar. São as pessoas para as quais devemos ter um olhar mais atento para políticas públicas”, conclui Denise Freire.
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