Em um feito histórico para a robótica brasileira, a equipe MinervaBots, da Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sagrou-se campeã mundial na categoria “Mini Sumô” do All Japan Robot Sumo Tournament, realizado no Japão. A final da competição, que ocorreu no dia 8 de dezembro, foi disputada contra outra equipe brasileira, a Kimauánisso Robotics Team, do Instituto Mauá de Tecnologia. O torneio reuniu 63 robôs de diversas nacionalidades.
O robô Zé Pequeno, um dos mais tradicionais da equipe, foi o responsável pela vitória de 2 a 0. A competição de sumô robô consiste em uma batalha em que dois robôs, também chamados de “sumobots”, são posicionados em uma arena circular, com o objetivo de empurrar o adversário para fora, em uma dinâmica similar à luta de sumô tradicional. A disputa aconteceu na arena Ryōgoku Kokugikan, em Tóquio, palco de grandes eventos esportivos de artes marciais.
Participação Feminina e Liderança
A equipe MinervaBots, que participa do torneio desde 2012, foi representada pelas alunas Anne Victória Rodrigues da Costa, de engenharia mecânica, e Lígia Bonifácio, de engenharia eletrônica e de computação. Lígia, integrante do grupo há dois anos, compartilhou a emoção da conquista: “Chegar lá como finalistas mundiais foi uma grande conquista, mas também um grande desafio. Eu e a Anne estávamos apreensivas. A competição foi dura, exigiu que mudássemos estratégias e recalculássemos rotas, mas confiamos no trabalho de toda a equipe e conseguimos vencer adversários fortíssimos”, disse.
A equipe conta com cerca de 30 participantes, além de uma gestão interna formada exclusivamente por alunos. Lígia enfatizou que a participação no torneio é resultado de um trabalho de uma década: “São 12 anos de pessoas que trabalharam com dedicação para que hoje pudéssemos alcançar o título mundial. Foi incrível entrar na arena com a certeza de que não estávamos representando apenas a equipe atual, mas toda a trajetória construída por aqueles que vieram antes de nós”.
A vitória, para a estudante de engenharia de eletrônica e computação, é uma forma de reconhecer a importância das mulheres na área tecnológica. “Ser mulher na engenharia não é fácil. E os desafios que enfrentamos até aqui nos prepararam para esse momento. Durante o torneio, fomos surpreendidas com o incentivo constante, inclusive de membros do staff e de outras competidoras. Pudemos observar muitas mulheres de todas as idades se enxergarem em nós, e isso foi muito significativo”, lembra. De acordo com o IBGE, mulheres representam apenas 15% dos concluintes de cursos de computação e tecnologias da informação e comunicação (TIC).
Lígia destaca que a conquista vai além do troféu: “Queremos que ela sirva de inspiração para meninas e mulheres que desejam entrar na ciência, na tecnologia e em competições de alto nível como essa”. Para ela, o título conquistado é uma prova de que mulheres “não só podem, como devem ocupar espaços na engenharia e na tecnologia”.
Anne, que começou a fazer parte da MinervaBots em 2022, foi a responsável por operar o robô Zé Pequeno nas competições. O robô, projetado em 2014, passou por inúmeras atualizações para se manter competitivo. “Nossa conquista com o robô Zé Pequeno não só honrou todo o suor e trabalho de tantas gerações que já passaram pela MinervaBots, como também serviu de incentivo e reafirmação para que, cada vez mais, meninas brasileiras enxerguem, assim como eu, as exatas e a robótica enquanto o seu lugar”, disse Anne.
O professor da Escola Politécnica da UFRJ e orientador da equipe, Vitor Ferreira Romano, ressaltou a importância da vitória para o campo tecnológico nacional. “É um evento de nível mundial, com tradição, e ter conseguido o primeiro lugar nesse torneio, enquanto universidade pública e federal, nos deixa muito felizes. Isso incentiva também os alunos a participarem mais desses eventos e acreditarem em si”, afirmou.
Anne complementou que o Brasil está se tornando uma referência tecnológica: “Entre os oito melhores robôs do mundo, ranqueados no segundo dia da competição de acordo com o desempenho ao longo do torneio, quatro eram brasileiros, reiterando o crescimento do país no âmbito da robótica competitiva. Com o devido incentivo e visibilidade para a robótica nacional, tenho certeza que podemos chegar ainda mais longe”.
Representatividade Nacional e Inovação
O professor Anderson Harayashiki Moreira, do Instituto Mauá de Tecnologia, expressou orgulho pela presença de duas equipes brasileiras na final do torneio: “Isso mostra que, com os incentivos e o suporte adequados, conseguimos competir em pé de igualdade com as maiores equipes do mundo”.
A equipe Kimauánisso, fundada em 2004, participou do torneio com 11 robôs, divididos nas categorias “Sumô 3 kg” e “Mini Sumô 500 g”. A equipe conquistou o segundo e terceiro lugar na categoria “Sumô Mini 500 g – Rádio Controlado”, o segundo lugar em “Sumô Mini 500 g – Autônomo” e o oitavo lugar na categoria principal, “Sumô 3 kg – Autônomo”. Moreira destacou o esforço da equipe em inovação: “Nosso processo de desenvolvimento envolve, em média, seis meses, desde o início do projeto até a fabricação e a programação dos robôs. Normalmente, aposentamos robôs mais antigos para abrir espaço para novos projetos que incorporam as últimas inovações.”
O torneio de sumô robô, realizado anualmente no Japão, tem como objetivo incentivar a inovação tecnológica e a criatividade, além de promover a troca de experiências entre estudantes e profissionais da área.
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