Após anunciar a implementação de tarifas sobre produtos da China, México e Canadá, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou que tarifas recíprocas poderiam ser adotadas a partir de 2 de abril. O Brasil foi mencionado por Trump ao tratar do tema, com o mandatário alegando que o país, juntamente com a União Europeia, China, México e Canadá, cobra tarifas consideradas injustas dos EUA no comércio exterior. Recentemente, Trump ameaçou impor tarifas de até 100% a países do Brics que criarem moeda própria.
A medida de Trump tem como pano de fundo a alegação de que esses países estariam se aproveitando dos Estados Unidos, e a imposição de tarifas recíprocas visaria reequilibrar as relações comerciais. Essa postura já havia sido sinalizada por Trump em meados de fevereiro, quando o economista-chefe da XP, Caio Megale, alertou que o Brasil estaria em uma posição desfavorável nesse cenário, devido às tarifas de importação relativamente elevadas praticadas pelo país.
Os Estados Unidos representam o segundo maior parceiro comercial do Brasil, ficando atrás apenas da China. Em 2024, foram o destino de 12% das exportações brasileiras, totalizando US$ 40,4 bilhões, e a origem de 15,5% das importações nacionais, que somaram US$ 40,7 bilhões, segundo dados da equipe econômica do Bradesco. O saldo comercial com os EUA foi praticamente nulo, com a corrente de comércio representando 3,6% do PIB brasileiro no ano passado.
Entre os principais produtos exportados pelo Brasil para os Estados Unidos, destacam-se óleos brutos e combustíveis de petróleo, produtos de ferro e aço, aeronaves, café e celulose. Já as importações brasileiras provenientes dos EUA incluem motores e máquinas não elétricas, óleos combustíveis e brutos de petróleo, aeronaves e gás natural.
O Bradesco ressalta que, apesar de ser um importante parceiro comercial, o Brasil historicamente taxou as importações vindas dos Estados Unidos. Dados do Banco Mundial indicam que a tarifa média atual é de 11,3% (dado de 2022, o mais recente disponível), sendo mais alta para bens de consumo e quase nula para combustíveis. Em contrapartida, as tarifas impostas pelos Estados Unidos aos produtos brasileiros são consideravelmente inferiores, com uma média de 2,2%, sendo um pouco mais elevada para bens de consumo e quase zerada para bens de capital e combustíveis.
Diante desse cenário, a implementação de tarifas recíprocas poderia impactar negativamente o Brasil, devido à diferença nas tarifas praticadas. Para avaliar os possíveis efeitos na balança comercial, no câmbio e na inflação, o Bradesco simulou três cenários hipotéticos:
- Cenário 1: Os Estados Unidos adotam a reciprocidade, elevando sua tarifa média de 2,2% para 11,3%. Nesse caso, o Bradesco estima uma redução de cerca de US$ 2,0 bilhões nas exportações brasileiras (5% do total). A depreciação do real necessária para compensar essa perda seria de aproximadamente 1,5%, com um impacto potencial de menos de 0,1 ponto percentual no IPCA.
- Cenário 2: Os Estados Unidos aumentam as tarifas de importação de produtos brasileiros para 25%. Essa medida poderia reduzir as exportações brasileiras em US$ 6,5 bilhões, com maior impacto em bens intermediários e combustíveis. Para compensar essa perda, seria necessária uma depreciação do real de 4%, elevando a inflação doméstica em até 0,25 ponto percentual.
- Cenário 3: O Brasil retalia, ampliando as tarifas sobre produtos norte-americanos para 25%. Nesse cenário, as importações brasileiras recuariam cerca de US$ 4,5 bilhões, com um impacto máximo potencial na inflação de 0,3 ponto percentual, sendo 1/3 direto e 2/3 indireto.
As novas tarifas de 25% impostas pelos Estados Unidos sobre as importações do México e do Canadá entraram em vigor recentemente, juntamente com novas taxas sobre os produtos chineses, desencadeando guerras comerciais que podem afetar o crescimento econômico e aumentar os preços para os norte-americanos, que ainda sofrem com anos de inflação alta.
O presidente-executivo da Target, Brian Cornell, disse à CNBC que a gigante do varejo aumentará os preços “nos próximos dias” de alguns produtos sazonais de mercearia, como abacates do México.
A varejista de eletrônicos Best Buy também alertou sobre possíveis aumentos de preços. A presidente-executiva da empresa, Corie Barry, disse a analistas em uma ligação telefônica que a China continua sendo a principal fonte de produtos vendidos pela empresa, com o México em segundo lugar.
“Estimamos que as tarifas podem levar a um aumento anual de quase US$ 1.000 por família no custo dos produtos”, disse a economista-chefe da Nationwide Mutual, Kathy Bostjancic.
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