O Brasil registrou o quarto maior crescimento econômico entre os países do G20 no terceiro trimestre de 2024, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A expansão foi de 0,9% em relação ao segundo trimestre, um resultado positivo que coloca o país atrás apenas da Indonésia (1,5%), Índia (1,3%) e México (1,1%), empatando com a China (0,9%). Em comparação com o mesmo período de 2023, o crescimento foi ainda mais expressivo, alcançando 4%, ficando atrás apenas da Índia (5,4%), Indonésia (5%) e China (4,6%). Os Estados Unidos, maior economia mundial, registraram uma alta de 2,7%, ocupando a sétima posição.
Apesar do desempenho positivo, especialistas alertam para a necessidade de aumento da produtividade e do nível de investimentos para garantir a sustentabilidade desse crescimento. A economista Juliana Trece, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV), destaca que “Realmente esse crescimento está sendo forte não só no terceiro trimestre, mas ao longo do ano”. No entanto, o professor adjunto de economia Caio Ferrari, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), pondera que, mesmo com esse crescimento, o Brasil não alcançará, pelo menos a curto prazo, países como o Canadá e a Itália no ranking global de economias. Segundo Ferrari, a diferença na produção entre o Brasil e essas nações é significativa (em torno de US$ 200 bilhões, ou aproximadamente R$ 1,2 trilhão).
Um levantamento da Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda corrobora os dados do IBGE, confirmando o desempenho do PIB brasileiro. Com o resultado surpreendente do terceiro trimestre, a SPE indica que a projeção do Ministério da Fazenda para o crescimento do PIB em 2024, atualmente em 3,3%, deverá ser revisada para cima. O Boletim Focus, do Banco Central, por sua vez, estima um crescimento de 3,22% para este ano, aumento em relação à previsão de 3,10% de quatro semanas atrás.
O gargalo dos investimentos: A baixa taxa de investimento brasileira é um ponto crítico, segundo a economista Juliana Trece. No terceiro trimestre, a taxa ficou em 17,6%, superior à observada no mesmo período de 2023 (16,4%), mas ainda inferior à média da América Latina, que gira em torno de 21%. A perspectiva de aumento da taxa Selic em 2025, que pode desestimular investimentos, agrava a situação. A Selic está atualmente em 11,25% ao ano, com expectativa do Focus de chegar a 12,63% ao ano ao final de 2025. Ferrari complementa que para o crescimento ser sustentável é preciso expansão da capacidade de produção da economia, e não apenas dependência de exportações e gastos do governo.
Impacto na qualidade de vida: Para que o crescimento do PIB se traduza em melhoria da qualidade de vida da população, é fundamental reduzir as desigualdades, afirma Juliana Trece. Ela destaca a importância de programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, mas enfatiza a necessidade de investimentos em educação como um fator crucial para a diminuição das disparidades e o aumento da produtividade a longo prazo. “Investir em educação não é custo. É realmente um investimento para ter um país mais sólido”, afirma.
Descompasso entre PIB e Ibovespa: O crescimento do PIB (3,3% de janeiro a setembro) contrastou com a queda de 6,35% do Ibovespa em novembro. Juliana Trece explica que a bolsa de valores se baseia em expectativas, considerando variáveis além do PIB. Ela destaca a taxa de desemprego em mínimos históricos (6,2% no trimestre encerrado em outubro), mas também aponta a pressão inflacionária e a provável alta de juros como fatores negativos para a economia. O pacote de corte de gastos do governo, incluindo a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, gerou incertezas no mercado.
O pacote de cortes de gastos e o Congresso: O governo encaminhou ao Congresso Nacional um pacote de cortes de gastos que inclui limitação do aumento real do salário mínimo e restrições ao acesso a programas sociais como o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada (BPC). A proposta visa aprovação ainda em 2024.
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