Um novo estudo, lançado na quarta-feira (4) em Feijó, Acre, na Terra Indígena Katukina Kaxinawá, revela o potencial e os desafios do etnoturismo na Amazônia Legal. A pesquisa, desenvolvida pelo Instituto Samaúma a pedido do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), analisou 14 iniciativas em cinco estados da região, envolvendo 23 etnias indígenas.
Segundo o secretário de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria, Rodrigo Rollemberg, os dados servirão de base para a criação de uma cadeia de serviços de turismo comunitário em terras indígenas. “A partir dos contatos realizados e das informações sistematizadas serão estruturadas visitas técnicas com protocolos adequados, para dar suporte ao desenvolvimento de políticas públicas, boas práticas e possível estruturação de Rotas de Etnoturismo”, explicou ele.
Para João Francisco Maria, coordenador-geral de Cadeias Produtivas da Amazônia do MDIC, a criação dessas rotas é crucial para o desenvolvimento econômico sustentável e justo da região. “A condição para essa cadeia existir é a preservação ambiental, então, a gente vê nesse potencial econômico, dentro do grande guarda-chuva que é a bioeconomia, a possibilidade de conciliar preservação com desenvolvimento. Além disso, é um modelo muito mais distributivo, um morador faz uma hospedaria, outro um restaurante comunitário, outro vira guia. Então, assim, é um turismo que beneficia toda a comunidade”, afirmou.
O estudo do Instituto Samaúma indica um crescimento de 30% no interesse pelo etnoturismo na Amazônia entre 2018 e 2023, com 60% dos visitantes sendo brasileiros. A pesquisa envolveu visitas de campo e um questionário com 150 perguntas, analisando o sucesso de iniciativas já existentes e a geração de renda para as comunidades.
Lana Rosa, líder da equipe de diagnóstico do Instituto Samaúma, destaca a diversidade de cenários encontrados: desde iniciativas que formam a base da economia de povos inteiros até aquelas que complementam a renda de parte da comunidade. Em comum, há uma vocação natural para o turismo: “O turismo acontece naturalmente dentro das comunidades em diversos aspectos. O da hospitalidade; os atrativos, que são muitos; a questão cultural é um atrativo, a alimentação; a natureza. Então, muitas fases do turismo acontecem de forma muito fluida dentro dos territórios”, disse Lana.
Entre os desafios, Lana aponta dificuldades na gestão administrativa e financeira das comunidades indígenas, como o acesso a bancos, internet e serviços de contabilidade e assessoria jurídica, devido à localização remota de muitos territórios.
Para abordar esses desafios, o estudo resultou em um Guia de Boas Práticas para o turismo de base comunitária em terras indígenas. Este guia, estruturado em três passos, orienta as comunidades sobre diagnóstico de potenciais e infraestrutura, transparência e consentimento comunitário, e construção de planos de visitação.
O guia enfatiza a importância de considerar as iniciativas de etnoturismo como pequenos negócios comunitários, fornecendo orientações práticas para fortalecer a gestão administrativa e financeira dessas atividades. A representante do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Elisa Calcaterra, elogiou a iniciativa do governo brasileiro, destacando seus benefícios para as comunidades, a floresta e o Brasil como um todo, promovendo a troca de conhecimento com outros países e o turismo responsável.
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