Economia no Governo Lula 3: semelhanças com Dilma 1 e pressões inflacionárias

Economia no Governo Lula 3: semelhanças com Dilma 1 e pressões inflacionárias
© Arquivo/Agência Brasil

As recentes turbulências no cenário fiscal brasileiro, que se intensificaram em 2024, trouxeram à tona comparações entre o terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva e os governos de Dilma Rousseff, marcados por crises econômicas. Especialistas apontam semelhanças com o primeiro mandato de Dilma, e não com o segundo, que culminou em seu impeachment, mas também destacam diferenças importantes.

Uma das principais similaridades reside na trajetória econômica. A taxa básica de juros, a Selic, deve ultrapassar os 14%, patamar semelhante ao teto atingido na segunda gestão Dilma (2015-2016). O Comitê de Política Monetária (Copom) já sinalizou duas novas altas de 1 ponto percentual nas próximas reuniões. As expectativas do mercado, reunidas no Boletim Focus, apontam para uma Selic de 15% ao final de 2025.

Inflação e dívida: semelhanças e distinções

Apesar das comparações, há nuances importantes. Segundo Samuel Pessôa, pesquisador da FGV/Ibre, o governo Lula 3 se assemelha mais ao primeiro mandato de Dilma. Ele destaca três pontos cruciais: inflação em alta, importações líquidas em queda e crescimento salarial acima da produtividade. Essa dinâmica pressiona a inflação, forçando o Banco Central a elevar os juros, o que agrava o problema da dívida pública.

Rodrigo De Losso, professor da FEA-USP, aponta que, embora a inflação de 2024 tenha sido menor do que a de 2014, ano que antecedeu a crise do governo Dilma, ela se distancia da meta estabelecida. Em 2014, o IPCA fechou em 6,41%, dentro da margem de tolerância da época. Já em 2024, a inflação atingiu 4,83%, ultrapassando o teto da meta de 3%.

Banco Central autônomo: um diferencial

Um ponto de divergência marcante é a autonomia do Banco Central, estabelecida em 2021. Especialistas acreditam que a independência da autarquia e seu compromisso com as metas inflacionárias podem resultar em maior capacidade de controle. Samuel Pessôa avalia que a atuação do Banco Central em 2025 deve desacelerar a economia e alinhar-se com a política fiscal do governo.

No entanto, reformas para solucionar o problema da dívida pública (cerca de 61% do PIB) devem ficar para um próximo governo. De Losso alerta para o risco de dominância fiscal, quando a política monetária perde a capacidade de controlar a inflação devido aos altos juros da dívida.

Cenáriointernacional e desafios adicionais

O cenário internacional também exerce pressão sobre os juros brasileiros. Em 2014, os juros dos Estados Unidos estavam em 0,25%, enquanto hoje atingem 4,5%. Essa diferença torna os títulos americanos mais atrativos, elevando o prêmio sobre os títulos brasileiros. A desvalorização do real frente ao dólar, acelerada nos últimos meses de 2024, também contribui para o cenário de incertezas.

Em 2015, durante a crise, o dólar disparou 48% após um aumento de 13% no ano anterior. No fechamento de 2024, a divisa havia aumentado 27,34%, influenciada por fatores internos e externos, como a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos.

A combinação de alta inflação, juros elevados, dívida pública persistente e um cenário internacional desafiador torna a tarefa do Banco Central ainda mais complexa, exigindo coordenação entre as políticas monetária e fiscal para evitar uma nova crise econômica.

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