A economia brasileira apresentou estagnação em fevereiro, sinalizando uma possível desaceleração após um período de crescimento. A constatação é do Monitor do Produto Interno Bruto (PIB), estudo mensal elaborado pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV), divulgado nesta segunda-feira (14).
O Monitor do PIB serve como uma prévia do desempenho da economia brasileira, estimando o comportamento do PIB, que representa a soma de todos os bens e serviços produzidos no país. O dado oficial é divulgado trimestralmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O mercado financeiro, inclusive, eleva constantemente as projeções de crescimento do PIB para 2025 e 2026.
O resultado de fevereiro (0%) reflete um ajuste sazonal, eliminando as variações típicas do período para permitir uma comparação mais precisa com outros meses. Em comparação com fevereiro de 2024, houve um crescimento de 2,7%. No acumulado dos últimos 12 meses, o PIB apresentou uma alta de 3,1%.
Análise dos fatores internos e externos
De acordo com Juliana Trece, economista e coordenadora do estudo, a estagnação observada em fevereiro, em relação a janeiro, é resultado do equilíbrio entre o crescimento da indústria e dos investimentos, que foram compensados pelas retrações no consumo, na agropecuária e nas exportações. O setor de serviços, por sua vez, manteve-se estável no período.
“Esses resultados mostram que, apesar de alguns destaques positivos, há perda de força na economia, com retrações em componentes importantes do PIB”, avalia Trece.
Apesar do cenário complexo, marcado por incertezas no mercado externo e uma possível elevação da taxa de juros interna, a economia brasileira conseguiu evitar uma retração, conforme apontado pela economista. Nesse contexto, o dólar abre em baixa e Ibovespa sobe com as últimas notícias.
No cenário externo, a guerra tarifária liderada pelo então presidente americano, Donald Trump, é motivo de preocupação. A medida afeta principalmente a China, mas também impõe tarifas de importação a outros países, incluindo o Brasil. Para o Brasil, foi estabelecida uma taxa mínima de 10% sobre a maioria dos produtos exportados, com taxas de 25% para aço e alumínio. Em resposta, a China adotou medidas semelhantes, com tarifas superiores a 100%.
O Brasil respondeu a essas medidas com a aprovação de uma lei de reciprocidade comercial.
Estratégias de combate à inflação
No âmbito interno, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) tem adotado uma postura de elevação da taxa básica de juros, a Selic, desde setembro. O objetivo é conter a inflação. A última alta ocorreu em março, e o Copom já sinalizou um novo aumento, em menor magnitude, na reunião de maio. A inflação, inclusive, força brasileiros a cortar gastos com alimentos e remédios.
Em 12 meses, a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo IBGE, acumula 5,48%, superando o teto da meta estabelecida pelo governo (4,5%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual). Esse é o maior patamar desde fevereiro de 2023, quando a inflação atingiu 5,60%.
O aumento das taxas de juros encarece o crédito, o que tende a reduzir o consumo e os investimentos, levando a um desaquecimento da economia, com o objetivo de controlar a inflação.
Desempenho dos setores
No período analisado, o consumo das famílias apresentou um crescimento de 2,7% em relação ao mesmo período do ano anterior. No trimestre móvel encerrado em novembro, a alta havia sido de 4,8%.
A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), um indicador do nível de investimento das empresas, registrou um aumento de 8,2% no trimestre móvel encerrado em fevereiro, demonstrando uma perda de força em relação ao período anterior, quando a expansão havia sido de 10%.
As exportações apresentaram uma queda de 2,8% no acumulado de 12 meses, em comparação com uma alta de 2,7% registrada em novembro. O desempenho negativo das exportações de produtos agropecuários e da indústria extrativa mineral foi o principal responsável por essa retração.
Em termos monetários, a FGV estima o PIB do país em R$ 2,203 trilhões.
Outros indicadores
Além do Monitor do PIB, outros indicadores também são utilizados para avaliar o desempenho da economia brasileira. Um deles é o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), que apontou uma expansão de 0,4% na passagem de janeiro para fevereiro e de 3,8% em 12 meses.
O resultado oficial do PIB é divulgado trimestralmente pelo IBGE. A próxima divulgação, com os dados do primeiro trimestre de 2025, está prevista para 30 de maio.
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