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Crise bilionária leva Bombril a pedir recuperação judicial

A defesa da Bombril aponta três fatores principais que culminaram no pedido de recuperação judicial.

A Bombril, marca tradicional presente em lares brasileiros, agravou sua crise financeira e solicitou recuperação judicial nesta semana. A medida foi motivada por uma combinação de fatores, incluindo uma estrutura de capital inadequada, limitações operacionais, disputas judiciais e uma pesada carga de dívidas tributárias. Vale lembrar que os pedidos de recuperação judicial disparam em 2024, atingindo um recorde histórico, segundo a Serasa Experian.

De acordo com o documento judicial obtido, a E.Munhoz Advogados, assessora da Bombril, aponta que a crise é resultado de uma “estrutura de capital inadequada e uma capacidade operacional limitada“. A defesa também destaca a existência de problemas judiciais, bloqueios de bens e pressão no caixa da companhia, amplificados por um volume bilionário de dívidas tributárias.

A crise se agrava com acusações direcionadas à Cragnotti & Partners, empresa do empresário italiano Sérgio Cragnotti, que assumiu o controle do Grupo Bombril no início dos anos 2000, após o falecimento do fundador Roberto Ferreira.

Os filhos do fundador venderam suas participações na empresa para a Cragnotti & Partners, que, segundo a defesa da Bombril, passou a adotar práticas que contrariam as boas práticas empresariais que eram implementadas desde a fundação da empresa.

A empresa acusa os novos administradores de “incorrer em diversos atos de má gestão“, incluindo transações financeiras no exterior, como a aquisição de títulos de dívida norte-americanos (T-Bills e T-Bonds) e argentinos (Argentine Global Bonds) transferidos a título de mútuo para a Bombril.

Tais operações resultaram em autuações bilionárias da Receita Federal, que, mesmo após décadas marcadas por disputas administrativas e judiciais, continuam a impactar severamente a estrutura de capital do Grupo Bombril“, detalha o documento.

A defesa da Bombril aponta três fatores principais que culminaram no pedido de recuperação judicial: Para entender mais sobre acordos judiciais, veja sobre a extensão do prazo para credores da 123Milhas.

  • Bloqueios na Justiça: As fábricas da empresa em São Bernardo do Campo (SP), Sete Lagoas (MG) e Abreu e Lima (PE), juntamente com suas máquinas, estão sendo utilizadas como garantia em processos judiciais e administrativos. Isso impede que esses bens sejam usados como garantia para novos financiamentos e dificulta investimentos para manutenção e modernização da operação.
  • Pressão no Caixa: A companhia alega que já enfrenta dificuldades financeiras e precisa reservar parte de seu faturamento (mais de 0,5% da receita operacional líquida) para cumprir decisões judiciais.
  • Incertezas sobre o futuro dos negócios: A empresa herdou problemas financeiros da antiga gestão, que se agravaram com o aumento das dívidas.

Dívida total

As dívidas e passivos da Bombril somam aproximadamente R$ 2,3 bilhões em um total agregado, sendo a maior parte dívidas tributárias.

O documento oficial da empresa detalha: “Conforme detalhado nas Demonstrações Financeiras, no Formulário de Referência e em informações periódicas e eventuais prestadas pela Companhia ao mercado, a Bombril possui contingências tributárias relevantes, especialmente as relacionadas a autuações da Receita Federal por suposta falta de recolhimento de tributos incidentes em operações de aquisição de títulos de dívida estrangeiros (T-Bills), realizadas no período entre 1998 e 2001 pela Companhia e por veículo do grupo empresarial italiano Cragnotti & Partners, que era controlador da Bombril naquela época“.

A diretoria da empresa considera que o risco de perda nos processos judiciais representa uma ameaça aos resultados contábeis da Bombril, expondo a companhia a riscos elevados. 

Histórico de gestão judicial

Em meados de 2002, Ronaldo Sampaio Ferreira, um dos herdeiros da Bombril, acusou o veículo de investimento italiano de não realizar o pagamento de aquisição de ações da empresa e ajuizou execução perante a 10ª Vara Cível de São Paulo.

Com isso, foi requerida intervenção judicial, para que os administradores da Bombril indicados pela Cragnotti & Partners fossem afastados, nomeando-se gestor judicial até o encerramento do processo. O pedido foi acatado, no mesmo ano, pelo juízo da execução.

Somente em 2006, após cerca de quatro anos de gestão judicial, a 4ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) determinou o fim do regime excepcional. Foi quando Ronaldo Sampaio Ferreira, filho do fundador do Grupo Bombril, recuperou o controle das empresas da família.

Atualmente, a estrutura de capital consiste na Bombril, que é dona da Bril Store, e também da Brilmaq, que por sua vez detém Bril Cosméticos e BB Logística.

Geração de caixa comprometida

O documento ressalta que a geração de caixa é um ponto crítico para a Bombril. Uma auditoria externa constatou que a empresa apresentava prejuízo acumulado, ao fim de 2023, de R$ 1,018 milhão, excesso de passivos sobre ativos circulantes no encerramento do exercício no montante de R$ 66,7 milhões na controladora e R$ 58,5 milhões no consolidado, e passivo a descoberto no valor de R$ 55,5 milhões.

Parte substancial desse passivo a descoberto se refere a empréstimos e financiamentos, os quais precisam ter seus prazos de pagamento renovados para permitir um alinhamento entre os fluxos de pagamentos de principal e juros com a disponibilidade e a geração de caixa da Bombril. Essa situação, entre outras, indicam a existência de incerteza relevante que pode levantar dúvida significativa sobre a sua continuidade operacional“, conclui o documento da E.Munhoz Advogados.

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Rafael Nicácio

Co-fundador e redator do Portal N10, sou responsável pela administração e produção de conteúdo do site, consolidando mais de uma década de experiência em comunicação digital. Minha trajetória inclui passagens por assessorias de comunicação do Governo do Estado do Rio Grande do Norte (ASCOM) e da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), onde atuei como estagiário. Desde 2013, trabalho diretamente com gestão de sites, colaborando na construção de portais de notícias e entretenimento. Atualmente, além de minhas atividades no Portal N10, também gerencio a página Dinastia Nerd, voltada para o público geek e de cultura pop. MTB Jornalista 0002472/RN E-mail para contato: [email protected]

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