As contas externas do Brasil apresentaram um saldo negativo de US$ 3,060 bilhões em novembro, segundo dados divulgados pelo Banco Central (BC) nesta segunda-feira (23). Este resultado contrasta com o déficit de US$ 3 milhões registrado no mesmo mês de 2023 nas transações correntes, que incluem a compra e venda de mercadorias, serviços e transferências de renda com outros países. A piora na comparação anual é atribuída principalmente à queda no superávit comercial, impulsionada pelo aumento das importações.
Adicionalmente, os déficits nas áreas de serviços e renda primária (pagamento de juros, lucros e dividendos de empresas) também contribuíram para o resultado negativo, com aumentos de US$ 922 milhões e US$ 603 milhões, respectivamente. O superávit na renda secundária, por outro lado, teve um aumento de US$ 140 milhões.
Em um período de 12 meses encerrado em novembro, o déficit em transações correntes atingiu US$ 52,417 bilhões, equivalente a 2,37% do Produto Interno Bruto (PIB). Esse valor representa um aumento em relação ao déficit de US$ 49,360 bilhões (2,22% do PIB) do mês anterior e um crescimento ainda maior quando comparado ao déficit de US$ 25,844 bilhões (1,19% do PIB) registrado no mesmo período de 2023.
O Banco Central destacou que, embora as transações correntes tenham apresentado uma tendência de redução nos déficits em 12 meses até março deste ano, houve uma inversão desse padrão. Contudo, o déficit externo ainda é considerado baixo para os padrões da economia brasileira e tem sido financiado por capitais de longo prazo, especialmente por investimentos diretos no país, que mantêm fluxos robustos e um estoque recorde de US$ 1,4 trilhão.
No acumulado de janeiro a novembro, o déficit nas transações correntes chegou a US$ 46,830 bilhões, um aumento significativo em relação ao saldo negativo de US$ 18,929 bilhões no mesmo período de 2023.
Balança Comercial e Serviços
As exportações de bens totalizaram US$ 28,199 bilhões em novembro, um aumento de 0,4% em relação a novembro de 2023. As importações, por sua vez, somaram US$ 21,872 bilhões, com um crescimento de 8,9% na mesma comparação. Como resultado, a balança comercial fechou o mês com um superávit de US$ 6,327 bilhões, inferior ao saldo positivo de US$ 7,999 bilhões registrado em novembro do ano anterior.
O déficit na conta de serviços, que inclui viagens internacionais, transporte, aluguel de equipamentos e seguros, atingiu US$ 4,664 bilhões em novembro, um aumento de 24,6% em relação ao déficit de US$ 3,742 bilhões no mesmo mês de 2023. Segundo o BC, houve um crescimento na corrente de comércio de serviços, com diversificação na conta. Um dos maiores aumentos foi no déficit em serviços de propriedade intelectual, ligados a serviços de *streaming*, que totalizou US$ 641 milhões, e serviços de telecomunicação, computação e informações, impulsionados por operações de plataformas digitais, que chegaram a US$ 802 milhões.
Outro ponto de destaque foi o aumento das despesas líquidas com transportes, que cresceram 63,3%, atingindo US$ 1,523 bilhão, influenciado pelo aumento na corrente de comércio e nos preços dos fretes. Em viagens internacionais, o déficit fechou com um aumento de 4,5%, somando US$ 550 milhões em novembro, resultado de US$ 616 milhões em receitas (gastos de estrangeiros no Brasil) e de US$ 1,166 bilhão em despesas de brasileiros no exterior. No acumulado do ano, a receita de viagens alcançou US$ 6,620 bilhões, o recorde histórico desde 1995.
Rendas
O déficit em renda primária, que inclui lucros e dividendos, pagamentos de juros e salários, chegou a US$ 4,974 bilhões em novembro de 2024, um aumento de 13,8% em relação aos US$ 4,371 bilhões de novembro de 2023. A conta de renda primária costuma ser deficitária devido ao maior volume de investimentos estrangeiros no Brasil em comparação com investimentos de brasileiros no exterior.
As despesas líquidas com juros somaram US$ 1,621 bilhão em novembro, US$ 533 milhões a mais do que no mesmo mês de 2023, com aumento concentrado em operações intercompanhia. Os lucros e dividendos associados aos investimentos direto e em carteira resultaram em um déficit de US$ 3,395 bilhões, ligeiramente superior aos US$ 3,324 bilhões registrados em novembro de 2023.
A conta de renda secundária, que engloba doações e remessas de dólares sem contrapartida de bens ou serviços, apresentou um resultado positivo de US$ 251 milhões no último mês, ante um superávit de US$ 111 milhões em novembro de 2023.
Financiamento
Os investimentos diretos no país (IDP) registraram um aumento na comparação interanual, atingindo US$ 6,956 bilhões em novembro, contra US$ 6,668 bilhões no mesmo período de 2023. O IDP é composto por ingressos líquidos de US$ 6,892 bilhões em participação no capital e retiradas líquidas de US$ 926 milhões em operações intercompanhia. O IDP acumulado em 12 meses totalizou US$ 66,313 bilhões (3% do PIB) em novembro.
O financiamento do saldo negativo das transações correntes é essencial, e o IDP é considerado a melhor forma, pois os recursos são aplicados no setor produtivo e costumam ser investimentos de longo prazo. No mercado doméstico, houve entrada líquida de US$ 4,999 bilhões em investimentos em carteira em novembro, composta por receitas líquidas de US$ 5,522 bilhões em títulos da dívida e saídas líquidas de US$ 532 milhões em ações e fundos de investimento. Nos 12 meses encerrados em novembro, os investimentos em carteira somaram ingressos líquidos de US$ 8,2 bilhões.
O estoque de reservas internacionais atingiu US$ 363,003 bilhões em novembro, um aumento de US$ 3,093 bilhões em comparação com o mês anterior.
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