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Apostadores das bets apresentam risco de crédito maior, aponta Banco Central

O presidente do Banco Central reiterou que a investigação do segmento de bets teve início devido ao aumento da renda das famílias que não se refletia em consumo ou poupança.

O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, declarou durante a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado sobre apostas virtuais, popularmente conhecidas como bets, que indivíduos que participam desses jogos apresentam um risco de crédito consideravelmente elevado. A afirmação foi feita nesta terça-feira, 8 de abril de 2025.

Segundo Galípolo, um estudo do Banco Central revelou que “o levantamento posterior realizado pelo Banco Central concluiu que as pessoas que realizam a aposta apresentam um risco de crédito significativamente maior do que as pessoas que não realizam a aposta, o que permanece significativo controlado por diversos fatores, como faixa de renda e risco de operação em crédito subjacente.” Essa análise pode impactar a forma como os bancos avaliam o risco de crédito.

Durante sua apresentação, Galípolo enfatizou que compete ao BC avaliar os procedimentos e controles das instituições financeiras, incluindo as de pagamento, no que tange às práticas de conheça seu cliente e conheça seu parceiro de negócio. Ele adicionou que tais procedimentos já estão inclusos no Plano de Ação de Supervisão (PAS) e devem considerar variados indícios de transações suspeitas, não se limitando apenas àquelas envolvendo *bets* não autorizadas.

O presidente do BC esclareceu que, ao identificar irregularidades que são da competência de outros órgãos, como o Ministério da Fazenda no caso de transações com bets legalizadas, essas devem ser comunicadas de “forma legítima e protegida”. Galípolo reiterou que a missão primordial do Banco Central é garantir a estabilidade monetária e financeira, acompanhando de perto os dados de pagamento para obter uma visão mais precisa dos indicadores macroeconômicos, como a atividade econômica.

Galípolo mencionou que, durante os estudos preparatórios para uma reunião do Copom, chamou a atenção do colegiado para o fato de que parte da renda familiar não estava sendo direcionada nem para o consumo nem para a poupança. Ele relatou que “alguns participantes do mercado já haviam nos alertado que fluxos financeiros para sites de aposta estavam se tornando significativos, com potencial impacto na atividade econômica“. Esse desvio da renda para apostas levanta questões sobre o endividamento dos brasileiros, um tema já abordado pelo Serasa, que aponta que mais de 57 milhões de brasileiros estão endividados em 2025.

Embora algumas instituições tenham produzido relatórios específicos sobre o tema, o presidente do BC observou que as estimativas sobre o tamanho do mercado de apostas virtuais apresentam grande variação. Ele ressaltou a importância de o BC avaliar os potenciais impactos na estabilidade financeira e na transmissão da política monetária, colaborando com o debate a partir de seu interesse em analisar o impacto desse mercado na atividade econômica.

Galípolo lembrou que, quando o estudo do BC foi conduzido em agosto de 2024, a regulamentação do setor ainda não estava totalmente implementada, com muitas empresas ainda não estabelecidas no país e recebendo recursos por meio de intermediários não sujeitos à regulação. Segundo ele, “dessa forma, não era trivial o cálculo do movimento financeiro para o setor. Identificamos, então, o padrão das transações desses tipos de pagamentos e, a partir daí, foram consideradas essas transações com esses padrões em facilitadores de pagamentos”.

O Banco Central tem colaborado com a Secretaria de Prêmios de Apostas do Ministério da Fazenda na regulamentação do setor, fornecendo esclarecimentos sobre o funcionamento do sistema financeiro e dos arranjos de pagamentos que podem auxiliar no monitoramento dos mercados de *bets*. A instituição também está colaborando com órgãos de controle em suas auditorias. 

Galípolo assegurou aos senadores o compromisso legal do Banco Central em manter o sigilo bancário e a proteção de dados pessoais, garantindo que “o Banco Central guardará o zelo pelos dados obtidos pela supervisão ou gerado na operação de suas infraestruturas”.

Ainda segundo Galípolo, os bancos já estão considerando esse hábito ao realizar análises de crédito para verificar se há um risco mais elevado. Ele também mencionou que as pesquisas continuam em andamento para coletar mais dados e entender como o comportamento dos apostadores está evoluindo.

Um estudo especial do BC, intitulado “Análise técnica sobre o mercado de apostas online no Brasil e o perfil dos apostadores”, publicado no ano passado, apontou que famílias de baixa renda são as mais afetadas pelas apostas esportivas. “É razoável supor que o apelo comercial do enriquecimento por meio de apostas seja mais atraente para quem está em situação de vulnerabilidade financeira”, concluiu o estudo, acrescentando que o BC permanece atento ao tema e necessita de mais dados e tempo para avaliar com maior precisão suas implicações para a economia, a estabilidade financeira e o bem-estar financeiro da população.

O presidente do Banco Central reiterou que a investigação do segmento de bets teve início devido ao aumento da renda das famílias que não se refletia em consumo ou poupança. “Nossa porta de entrada foi o lado macroeconômico. Estávamos vendo a renda crescer, a renda das famílias cresceu muito nos últimos dois anos, um crescimento tanto em velocidade quanto em nível, historicamente mais elevado aí a gente percebia que existia um certo vazamento dessa renda: a gente não encontrava essa renda nem em consumo, nem em poupança”, explicou. 

De acordo com Galípolo, o alerta sobre o aumento dos jogos pelo BC teve como foco a questão econômica. “Fizemos um estudo antes mesmo da atividade estar regulada, porque a gente estava percebendo que isso podia ter algum tipo de impacto.”

Do ponto de vista normativo, ele enfatizou a abertura da instituição para participar e trocar informações, ressaltando que o Banco Central é autônomo, mas não isolado. “O Banco Central produz informações e essas informações têm que estar disponíveis para o Senado, para a Câmara dos Deputados, para a população em geral. Então, por isso que a gente sempre tenta dar tanta transparência.”

Galípolo concluiu explicando que o tema não é exclusivo do BC, mas reflete uma série de transformações no mercado que geraram novos serviços e que exigem a atenção do Banco Central para atender às necessidades da população.

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Brunna Mendes

Gestão Hospitalar (UFRN), 31 primaveras, sagitariana e apaixonada por uma boa leitura, séries, filmes e Netflix.

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