O Pelourinho, em Salvador, recebe até este sábado (14) o Festival Uma Casa de Palavras, evento que celebra a gastronomia presente na obra de Jorge Amado e a reinauguração da Fundação Casa de Jorge Amado, após reforma.
A comida como elemento central na obra de Jorge Amado
A gastronomia baiana é um elemento recorrente e essencial nas narrativas de Jorge Amado. Seus personagens, frequentemente, preparam e apreciam pratos típicos como acarajé, vatapá, moquecas e carurus, imbuindo a culinária de significado e simbolismo. Paloma Jorge Amado, filha do escritor e autora de livros sobre a relação entre a literatura e a gastronomia na obra do pai, destaca a importância da comida na vida dos personagens: “Os personagens, como o papai dizia, são vivos, têm sangue, carne e osso e precisam comer para se manter em pé. Esses personagens traduzem exatamente a importância da comida na vida das pessoas”.
Paloma cita ainda uma passagem marcante de Os Subterrâneos da Liberdade, onde a personagem Mariana, em meio a uma conversa política durante o exílio do pai na Tchecoslováquia, é oferecida um vatapá, revelando a saudade da culinária baiana: “A Mariana tem um encontro com um dirigente comunista, um homem baiano. E aí, depois de conversarem sobre política, ele diz para ela: ‘vem cá, você já comeu um vatapá?’ E ela diz, ‘não, eu nunca comi’. Ele diz ‘não é possível, você tem que comer, é uma delícia, minha mulher faz’. O papai escreveu esse livro no exílio. Ele morava na Tchecoslováquia. Ele já estava na Europa há cinco anos, sem comer um vatapazinho. Aí eu fiquei pensando, ‘meu Deus, que saudade que papai tinha para, nesse momento de uma conversa política, botar um vatapá”.
Merendas de Dona Flor: uma feira gastronômica no Largo do Pelourinho
O Festival Uma Casa de Palavras inclui a feira gastronômica Merendas de Dona Flor, com comidas inspiradas na obra de Jorge Amado, oferecidas por moradores do Centro Histórico. Angela Fraga, diretora executiva da Fundação Casa de Jorge Amado, destaca a intenção de promover a obra do escritor através da união de literatura, gastronomia e música, estimulando a leitura por meio do paladar.
Dona Dica, 65 anos, vendedora de acarajés há 30 anos em frente à Fundação, relata que o próprio Jorge Amado era cliente: “Jorge Amado já comeu no meu outro ponto. Ele comia minhas cocadas. E só gostava da branca”, disse ela à Agência Brasil. “E ele dizia que era diabético. Ele comia escondido da Zélia (Gattai, escritora que foi sua companheira)”, brinca ela. Seu segredo para o sucesso? “O segredo do meu acarajé é o coração da baiana”, responde ela, com uma gargalhada.
Além da gastronomia, o festival apresenta shows musicais. Neste sábado (14), às 16h, o grupo PUMM-Por Um Mundo Melhor apresenta uma programação especial para o público infantil. Gerônimo se apresenta hoje (13), às 19h.
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