A sétima edição do Encontro Nacional e Internacional de Mulheres na Roda de Samba, idealizado pela cantora e compositora Dorina, acontecerá neste sábado (30), no Renascença Clube, no Rio de Janeiro. O evento, que celebra o protagonismo feminino no samba, será transmitido simultaneamente por meio do Instagram @coletivotemmulhernarodadesamba para 32 cidades brasileiras e para alguns países, mantendo o mesmo horário e repertório.
Para Dorina, aos 65 anos, a iniciativa é muito mais que um evento musical: “Não é só um tipo de música; É também uma filosofia de vida que abastece as energias de quem está na roda. Achei que seria uma ótima cama para fazer esse projeto”, afirmou à Agência Brasil.
Com seis horas de duração, o Encontro reunirá 30 mulheres, entre cantoras e instrumentistas, incluindo nomes como Ana Costa, Nina Rosa, Dayse do Banjo, Renata Jambeiro, Nina Wirtti, Lazir Sinval, Tia Surica, os grupos Herdeiras do Samba e Mulheres da Pequena África. A direção musical fica a cargo de Ana Paula Cruz e Roberta Nistra.
Dorina destaca a importância da união e da filosofia do samba: “O mais importante disso é que elas não abraçaram só o samba, mas a filosofia que o samba dá, que é essa coisa de se trabalhar junto, estar junto. Prevalece a história contra o racismo, contra a misoginia, contra a xenofobia. A gente trata disso tudo para poder fazer uma corrente que seja um mundo melhor, não um mundo da gente chegar ao poder, de ser mais que o homem no samba. Não é isso. A gente quer participar e passar essa coisa de afeto mesmo com segurança”.
A escolha da data, próxima ao Dia Nacional do Samba (2 de dezembro), foi estratégica: “A gente não pode ir muito para dentro de dezembro por causa das outras cidades, principalmente as fora do Brasil, quando é mais frio. A gente procura acertar uma data que seja boa para todas, porque o horário tem que ser o mesmo. Todo mundo no mesmo tom, com as mesmas músicas. A gente trabalha isso o ano inteiro para passar as músicas para elas ensaiarem”, explicou Dorina.
O crescimento do projeto é significativo: “O projeto foi abraçado por todas as mulheres, tanto que a gente começou com 11 cidades, já chegamos a 43 e este ano estamos com 32. Possibilitou muitas mulheres a se conectarem com elas mesmas, se conectarem com a nossa história, que a gente não é só isso que falam, mas muito mais”. A edição deste ano inclui participação de mulheres de cidades como Toronto (Canadá), Portugal, Uruguai e Argentina.
Dorina relaciona este evento com outros projetos, como “Suburbanistas”, em parceria com Luiz Carlos da Vila e Mauro Diniz, e “Mulheres de Zeca”, um bloco carnavalesco e espetáculo musical em homenagem a Zeca Pagodinho. Sobre o Encontro, ela afirma: “As minhas ideias surgem sempre para movimentar, para que as coisas melhorem”.
A organização utiliza recursos online para manter o contato com as participantes internacionais: “Hoje em dia, com a internet e o Whatsapp, a gente vai costurando, fazendo workshop através de YouTube para elas, que participam também de reuniões por meeting. Durante o ano, continuam fazendo atividades. A gente está sempre em contato e também para a gente trocar experiências, por exemplo, o governo uruguaio estabeleceu o Dia das Mulheres no Samba, que é o dia do nosso encontro. Elas conseguiram através do nosso movimento. Aqui no Brasil a gente não conseguiu”.
Homenagens
O evento prestará homenagem a duas cantoras: Clementina de Jesus (in memoriam), representada por sua neta Vera de Jesus, e Áurea Martins, que estará presente.
Vera de Jesus, neta de Clementina, expressou sua gratidão pela homenagem: “Eu estou muito grata, primeiro que o projeto da Dorina é uma coisa linda e ela homenageia várias mulheres. Agora é a vez da vovó e da Áurea Martins, em vida. Eu estou muito feliz e me sinto muito grata. Dorina me convidou agora para representar a vovó e só tenho que dizer obrigada por essa homenagem belíssima. A vovó tem tudo a ver com esse movimento, porque quando ela surgiu teve um protagonismo feminino, trouxe isso com ela em uma época que era dominada pelos homens. Ela chegou, chegando mesmo e desde lá já tinha essa visão de estar desbravando o lugar da mulher no samba. Por ser aquariana, é uma mulher que enxerga lá na frente, dizem isso, né?”
Vera destacou a importância do legado de Clementina: “Comparo à ligação entre Mãe África e Brasil. Uma voz que veio e deveria ter mostrado mais na época, mas chegou um tempo que para a indústria [fonográfica] não era mais interessante Clementina de Jesus, mas até hoje o nome dela está firmado, está aí respeitado. Ela está sempre sendo homenageada”.
Áurea Martins também se manifestou sobre a homenagem: “Uma homenagem dessa, com mulheres especiais que estão aí nas rodas, tocando, compondo e valorizando o legado deixado desde Tia Ciata, passar por Elza Soares, Clara Nunes, Beth Carvalho, Dona Ivone, Jovelina, e a minha madrinha Elizeth Cardoso, que mostrou com o icônico álbum ‘Elizeth sobe o Morro’, o valor da voz feminina no mundo do samba, estou muito feliz com essa conexão”. Ela enfatizou que “Ninguém quer duelar com as rodas dos homens, só queremos somar, pra juntos defendermos esse patrimônio que é o samba. Simples assim”.
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