Cultura

Clubes de leitura: um refúgio para leitores e um desafio para o Brasil

Uma pesquisa recente revelou um cenário preocupante: mais da metade dos brasileiros não lê livros. A 6ª edição do estudo “Retratos da Leitura no Brasil”, divulgado em 2024 pelo Instituto Pró-Livro, apontou uma redução de 6,7 milhões de leitores e, pela primeira vez, um número de não-leitores superior ao de leitores. Nos três meses anteriores à pesquisa, 53% da população não leu sequer parte de um livro, qualquer que fosse o gênero. Considerando apenas livros inteiros, o índice sobe para 27%.

Em meio a esse contexto desafiador, os clubes de leitura emergem como importantes iniciativas para promover a leitura e fortalecer laços comunitários. Para a escritora Jarid Arraes, autora de obras como Redemoinho em dia quente e Heroínas Negras Brasileiras em 15 cordéis, esses grupos desempenham um papel fundamental na criação de comunidades leitoras, expandindo o alcance da literatura e atraindo novos participantes. “Para mim, a coisa mais importante dos clubes de leitura é o fator da comunidade”, afirma Arraes, destacando como a participação de conhecidos pode incentivar outros a se aproximarem dos livros.

O papel dos clubes na formação de leitores

A professora Marcia Lisbôa Costa de Oliveira, do Departamento de Letras da UERJ, corrobora essa visão. Ela ressalta a natureza histórica dos clubes como espaços de encontro coletivo e dialógico, independentemente de sua organização por instituições públicas ou privadas. “Os clubes de leitura podem aproximar dos livros aqueles que atualmente se posicionam como não-leitores”, afirma a professora. A interação em grupo, segundo ela, estimula o desenvolvimento de uma postura crítica em relação aos textos e ao mundo, promovendo o contato com diferentes conhecimentos e perspectivas.

O Clube de Leitura do CCBB-RJ, por exemplo, experimentou um crescimento significativo desde sua criação em 2022. Com a mediação de Suzana Vargas, autora de Leitura: Uma Aprendizagem de Prazer, o clube passou de um pequeno grupo para 1.243 participantes em 2023, representando um aumento de 163% no público. Entre março e novembro de 2024, cerca de 1.100 pessoas participaram dos encontros. Vargas destaca o objetivo de despertar o prazer pela leitura: “O objetivo é despertar as pessoas para o prazer da leitura. Sempre defendi a tese que não importa o suporte da leitura, o importante é que o leitor perceba que ler é prazeroso, que ler é uma questão de formação e aprendizagem”, destaca. Afinal, como aponta um estudo recente, a leitura modifica o cérebro, impactando positivamente a estrutura cerebral.

Ao longo de 2024, o clube recebeu autores renomados como Itamar Vieira Junior, Jefferson Tenório e Frei Betto, enriquecendo as discussões e atraindo um público diverso. “Acredito muito na leitura como prazer, então, quando colocamos a leitura no CCBB, tanto na forma de roda de leitura como na forma de clube, estamos colocando a leitura como forma de lazer dentro de um centro cultural”, afirma Vargas.

Desafios para a promoção da leitura no Brasil

Apesar dos esforços de iniciativas como os clubes de leitura, a realidade brasileira apresenta desafios significativos à promoção da leitura. Para Jarid Arraes, o acesso aos livros é um obstáculo crucial: “É conseguirmos transformar a literatura em algo interessante e acessível para todas as pessoas, porque muitas têm ideia que os livros e a literatura são coisas muito intelectuais, muito inalcançáveis e só pessoas de determinada classe podem se relacionar com a literatura”, diz a escritora. Ela defende a necessidade de desmistificar a literatura e torná-la mais inclusiva.

Marcia Oliveira aponta para fatores socioeconômicos como limitações de tempo, baixos salários e acesso precário à educação de qualidade. “Quem trabalha muito, ganha pouco, passa horas no deslocamento entre casa e trabalho, tem pouco acesso à educação de qualidade e a livros sem custo ou a baixo custo, sejam impressos ou digitais, dificilmente se apropriará da leitura, quando sequer lhe sobra tempo para viver”, observa a professora. O preço médio dos livros, segundo o 9º Painel de Varejo de Livros no Brasil, atingiu R$ 51,48 em 2024, representando um desafio considerável para muitas famílias, especialmente considerando o salário mínimo de R$ 1.412,00.

Ana Isabel Borges, professora da UFF, enfatiza a importância da interação nos clubes de leitura: “qualquer atividade que aproxime as pessoas à leitura é positiva, sem dúvida”, incluindo os clubes de leitura. “Acredito que os clubes de leitura podem funcionar bem, se conseguirem reunir pessoas para conversar sobre o que estão lendo. Não basta informar ‘estou lendo isso’ ou ‘estou lendo aquilo’: é preciso trocar ideias”. Para ela, o aumento do número de leitores requer melhorias nas condições de vida, incluindo jornadas de trabalho mais curtas, salários justos e maior segurança financeira, permitindo que as pessoas disponham de tempo para atividades não relacionadas ao trabalho.

Dados da pesquisa sobre leitura no Brasil

A pesquisa do Instituto Pró-Livro também forneceu dados sobre o consumo de livros em relação a gênero, idade e região. As mulheres correspondem à maioria dos leitores (50,4%), com a faixa etária de 11 a 13 anos apresentando a maior taxa de leitura (81%), fato que pode ser atribuído à inclusão de livros didáticos na pesquisa. A região Sul apresentou a maior proporção de leitores (53%), seguida pelo Norte (48%), Centro-Oeste (47%), Sudeste (46%) e Nordeste (43%). Marcia Oliveira observa que a disparidade entre as regiões pode ser relacionada a fatores como renda e analfabetismo.

Diante desse cenário, a professora defende políticas públicas que fomentem a leitura, com foco na formação de professores e bibliotecários, implementação de bibliotecas públicas, ampliação de acervos literários em escolas e espaços comunitários, além de campanhas que valorizem a leitura como fonte de prazer e conhecimento.

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Romário Nicácio

Administrador de redes, estudante de Ciências e Tecnologia (C&T) e Jornalismo, que também atua como redator de sites desde 2009. Co-fundador do Portal N10 e do N10 Entretenimento, com um amplo conhecimento em diversas áreas. Com uma vasta experiência em redação, já contribuí para diversos sites de temas variados, incluindo o Notícias da TV Brasileira (NTB) e o Blog Psafe. Sua paixão por tecnologia, ciência e jornalismo o levou a buscar conhecimentos nas áreas, com o objetivo de se tornar um profissional cada vez mais completo. Como co-fundador do Portal N10 e do N10 Entretenimento, tenho a oportunidade de explorar ainda mais minhas habilidades e se destacar no mercado, como um profissional dedicado e comprometido com a entrega de conteúdo de qualidade aos seus leitores. Para entrar em contato comigo, envie um e-mail para [email protected].

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