Comprar um imóvel é, para muitos brasileiros, um dos momentos mais marcantes da vida. Representa estabilidade, conquista e a certeza de um patrimônio construído com muito esforço. Eu, pai de família, sempre tive esse sonho em mente. Em 2023, após anos de trabalho, decidi investir na compra do meu primeiro imóvel próprio. Fiz o que milhões de brasileiros fazem: recorri ao mercado das grandes construtoras, seduzido pela promessa de um financiamento direto, prático e, em tese, menos burocrático.
Foi quando conheci o La Playa Residence, da MRV, em Natal/RN. Um condomínio novo, promissor, localizado em Ponta Negra, um dos bairros mais desejados da capital potiguar. O empreendimento fazia parte da linha Class, vendida pela empresa como uma categoria acima da média — com mais qualidade, melhores acabamentos e diferenciais que prometiam uma experiência superior.
No papel, tudo parecia ideal. Mas, ao longo dos meses, o que deveria ser um marco de tranquilidade e estabilidade se revelou um desafio contínuo, desgastante e, muitas vezes, revoltante. Neste artigo, compartilho uma experiência real e relatos que não são só meus — mas ecoam nas vozes de milhares de brasileiros que passaram pelas mesmas situações com a MRV.
📉 Expectativa e realidade: o começo do financiamento direto
O processo de aquisição começou em 2023, por meio do financiamento direto com a MRV, uma alternativa oferecida a quem ainda não deseja assinar com banco, precisa de tempo para ajustar a documentação ou com taxas menores de juros (segundo eles). A proposta inicial previa uma entrada fracionada e parcelas mensais que, segundo a vendedora, teriam reajustes “normais” e “esperados”.
A primeira parcela foi de R$ 1.750,00. Valor aceitável. Mas com o passar dos meses, percebi que aquele número só crescia. Hoje, em abril de 2025, a mesma parcela já custa R$ 2.290,00 — um aumento de R$ 540,00 em menos de dois anos. Um reajuste de mais de 30%, que chega sem renegociação e sem alternativa ao comprador.
O motivo? A MRV aplica correção com base no IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) + 1% de juros. O IPCA, medido pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), reflete a variação dos preços no comércio para o público final e, de acordo com o contrato, as parcelas são ajustadas mensalmente com o índice de dois meses anteriores. Ou seja, para a parcela que vence no mês atual, o índice aplicado é o de dois meses antes, considerando a variação acumulada desde a assinatura do contrato de compra e venda.
📊 O IPCA e os aumentos disfarçados de cláusulas “padrão”
É verdade: o reajuste está no contrato. Mas o que a MRV não explica com transparência durante a venda é o impacto real que esse índice terá no seu bolso. O IPCA é um índice que pode variar consideravelmente, e mesmo que sua renda não acompanhe a inflação, a MRV seguirá cobrando — e cobrando caro.
Esse é um dos principais motivos que tornam o financiamento direto arriscado e muitas vezes insustentável, principalmente para famílias de classe média que contam com orçamentos apertados.
E não há diálogo. Ao tentar renegociar, a empresa oferece apenas pacotes prontos com multas, juros acumulados e ameaças de rescisão imediata do contrato.
⚠️ A pressão psicológica começa cedo
A MRV não dá trégua. Mesmo com no máximo dois meses de atraso, o cliente começa a ser bombardeado por mensagens automáticas, ligações de cobrança com tom ameaçador e e-mails com prazos apertados.
“Seu contrato poderá ser cancelado.”
“Evite a perda do imóvel. Pague imediatamente.”
“Consulte o setor jurídico.”
A abordagem ignora qualquer histórico de pagamento ou bom relacionamento. Clientes que nunca atrasaram sequer uma prestação são colocados no mesmo patamar de inadimplentes reincidentes. Não há sensibilidade. Não há empatia. É pressão psicológica constante.
🧱 Quando as chaves chegam, os problemas continuam
Depois de enfrentar as primeiras parcelas reajustadas antes mesmo de morar oficialmente no condomínio, vem a entrega do imóvel. No meu caso, o La Playa Residence. A expectativa era de entrar em um lar novo, estruturado, confortável. Afinal, tratava-se da linha Class, com valor acima do Minha Casa Minha Vida e apelo de sofisticação.
Mas logo nos primeiros meses, surgiram os problemas. Muitos problemas.
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Portas internas empenadas, que não fecham corretamente
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Piso com desnível visível em vários cômodos
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Azulejos mal cortados e rejuntes abertos
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Janelas do tipo persiana bem frágeis
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Ralos que entopem com frequência, mesmo sem uso intensivo
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Vedação de áreas molhadas mal feita, causando infiltrações precoces
Quando tentei acionar a MRV, a resposta foi padrão:
“Não está mais coberto pela garantia. Não podemos ajudar.”
Isso, repito, com menos de 11 meses de uso real.
🛑 Áreas comuns também decepcionam
Engana-se quem pensa que os problemas ficam dentro dos apartamentos. No condomínio, as áreas comuns também apresentaram defeitos crônicos.
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Portões quebram com frequência — tanto o social quanto o de veículos. Mesmo com garantia, os reparos são paliativos, e em pouco tempo os equipamentos voltam a apresentar defeitos. O risco de invasões ou acidentes é real.
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A área gourmet, que deveria ser um espaço de convivência, apresenta rachaduras, má vedação, infiltrações e acabamento precário.
- Hall de entrada sempre com problemas na estrutura das portas. Isso não se restringe ao La Playa. Na própria internet você encontra vários relatos em diferentes imóveis do Brasil.
Mesmo com tudo isso, a MRV se exime de responsabilidades e empurra a conta para o condomínio, mesmo durante o período de garantia legal.
📉 Atendimento pós-venda: uma queda livre
Após a entrega das chaves, o atendimento da MRV muda completamente. Se antes os canais eram rápidos para vender e cobrar, agora se tornam lentos, burocráticos e impessoais.
O aplicativo de atendimento técnico é confuso. Solicitações são negadas sumariamente ou encaminhadas para técnicos que não aparecem, desmarcam visitas ou dizem que “não têm autorização para consertar o problema”.
O contato com o SAC não leva a nada. O jurídico terceirizado repete o discurso padrão. E o cliente, mais uma vez, se sente invisível.
📑 Garantias que só funcionam no papel
Segundo o Código Civil e o Código de Defesa do Consumidor, imóveis possuem garantias claras:
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90 dias para acabamentos
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1 ano para instalações elétricas e hidráulicas
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5 anos para estrutura
A MRV até menciona essas garantias no contrato, mas cria barreiras administrativas para que o cliente não consiga usá-las. A maioria das solicitações recebe resposta negativa com base em interpretações forçadas do que é “uso indevido”.
O resultado? Você compra um imóvel novo e já precisa contratar encanador, eletricista, marceneiro e pedreiro para corrigir falhas que não são suas.
🗣️ Relatos semelhantes por todo o Brasil
A experiência que compartilho aqui não é isolada. No portal Reclame Aqui, há milhares de registros com as mesmas queixas:
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Aumento abusivo das parcelas
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Negligência no pós-venda
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Recusa em cobrir problemas sob garantia
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Descaso com áreas comuns
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Atendimento robotizado e sem solução
📌 Confira você mesmo: 👉 Reclame Aqui – MRV Engenharia
🧠 O que aprendi com essa experiência
O objetivo deste artigo não é atacar gratuitamente. É relatar uma experiência real, vivida por mim e por milhares de brasileiros, com base em documentos, boletos, e-mails e protocolos. Financiamentos são compromissos longos. E a forma como uma empresa trata seu cliente no momento mais difícil, diz muito sobre seu modus operandi corporativo.
A MRV, com seu modelo de venda agressiva, reajustes pouco transparentes, garantias quase fictícias e pós-venda ausente, não é hoje uma opção segura para quem deseja tranquilidade e respeito.
🛡️ Se você pensa em financiar com a MRV, pense de novo
Minha recomendação é clara:
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Se possível, financie com bancos tradicionais, como a Caixa Econômica, onde há previsibilidade e contratos mais equilibrados.
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Exija por escrito todas as garantias prometidas oralmente pelos corretores.
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Antes de assinar, converse com moradores de outros empreendimentos da MRV na sua cidade. Ouça quem vive na prática.
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Leia o contrato com calma e entenda o impacto do IPCA mês a mês.
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