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O Google está matando os produtores de conteúdo; e fingindo que está tudo bem

O Google diz lutar contra o conteúdo de baixa qualidade. Mas seu algoritmo tem recompensado justamente isso.

Por anos, o Google foi visto como uma das maiores vitrines digitais do mundo. Um mecanismo de busca que prometia entregar as melhores respostas, priorizando sites que ofereciam conteúdo útil, confiável e original. Mas essa promessa tem se esvaziado a cada nova atualização do algoritmo.

O que está acontecendo hoje — em especial com as mudanças recentes nos core updates e com a entrada das respostas automatizadas por IA — é uma das maiores ameaças que já enfrentamos no ecossistema digital. E quem está pagando o preço são os pequenos e médios produtores de conteúdo.

Um cenário caótico: atualizações imprevisíveis, tráfego em queda e muita desinformação

Se você mantém um site, blog ou portal de notícias, provavelmente já sentiu o baque: perda de tráfego orgânico repentina, queda no posicionamento de páginas que antes estavam no topo, artigos originais sendo superados por conteúdos rasos, repetitivos, repletos de palavras-chave jogadas artificialmente.

As atualizações de algoritmo do Google — especialmente as dos últimos meses (como os core updates de novembro de 2023, março de 2024 e março de 2025) — afetaram duramente quem produz conteúdo legítimo. Segundo a própria central de atualizações do Google, o objetivo é “melhorar a forma como nossos sistemas avaliam o conteúdo em geral”, mas na prática o que se viu foi uma reestruturação que privilegiou portais gigantes, conteúdos duvidosos e, pasmem, sites recheados de spam e clickbait.

Muitos produtores sérios, com anos de trabalho investido e bibliotecas de conteúdo confiável, viram seus acessos despencarem da noite para o dia — sem explicação concreta, sem aviso, sem diálogo.

Google Discover: de vitrine democrática a feed descontrolado

Se o buscador principal já não anda confiável, o Google Discover virou um verdadeiro território selvagem. O que antes funcionava como um espaço para recomendar conteúdos personalizados de qualidade, agora parece manipulado por critérios obscuros.

Publicações repletas de sensacionalismo, manchetes genéricas e textos automatizados estão sendo impulsionadas com frequência, enquanto conteúdos profundos, bem escritos e embasados mal chegam ao feed dos usuários.

Sites que antes recebiam centenas de milhares de visitas vindas do Discover agora brigam por migalhas. E o motivo é claro: o algoritmo não está priorizando qualidade — está priorizando engajamento barato.

A ascensão dos conteúdos de baixa qualidade: o spam venceu?

Uma busca simples no Google hoje já basta para entender a dimensão do problema: textos genéricos, copiados uns dos outros, com títulos exagerados e promessas que não se cumprem dominam os primeiros resultados.

Sites que aplicam práticas de “SEO sujo”, com sobrecarga de palavras-chave, linguagem repetitiva, e zero originalidade, estão vencendo a guerra do posicionamento. Enquanto isso, produtores que se preocupam em checar fontes, construir uma narrativa confiável e entregar valor são soterrados por essa avalanche de ruído.

O Google afirma estar combatendo o “conteúdo não útil” com a atualização Helpful Content Update. Mas a realidade mostra o oposto: quem sabe jogar o jogo sujo tem mais chances de vencer do que quem trabalha honestamente.

O impacto das respostas geradas por IA: o conteúdo virou matéria-prima descartável

A chegada dos “AI Overviews” — resumos automáticos gerados por inteligência artificial nas buscas do Google — trouxe um novo golpe para quem já estava fragilizado. Agora, o buscador entrega as respostas direto na SERP, com base em conteúdos que ele próprio varre da web.

Sim, o Google está pegando informações de sites independentes, sintetizando com IA e apresentando sem que o usuário precise clicar em nada. Resultado? Menos tráfego, menos exposição, menos retorno para quem realmente criou aquele conteúdo.

E o pior: sem garantia de crédito, sem links diretos, sem remuneração, sem contexto. O Google está usando os produtores como base de conhecimento para treinar seus sistemas de IA — e jogando fora o elo mais importante da cadeia: quem produziu a informação.

Quem ganha com isso?

Os grandes conglomerados de mídia. Os sites que podem investir pesado em SEO técnico. As páginas que aceitam criar conteúdo massivo, mesmo que irrelevante. Os que priorizam quantidade, não qualidade.

Quem perde? O professor que escreve artigos para educar. O jornalista que investiga e constrói matéria original. O blogueiro que compartilha experiências reais. O analista que escreve de forma autoral. Em resumo, todo o ecossistema de produtores de conteúdo que formava a alma da internet.

A hipocrisia do discurso do Google

O Google diz lutar contra o conteúdo de baixa qualidade. Mas seu algoritmo tem recompensado justamente isso.

O Google diz priorizar autoridade e relevância. Mas frequentemente quem aparece nos primeiros resultados são páginas com conteúdo raso, reciclado, e muitas vezes errado.

O Google diz querer diversidade de fontes. Mas concentra tráfego em grandes sites ou em respostas automatizadas, matando a visibilidade de pequenos produtores.

O discurso não casa com a prática. A promessa de um buscador justo, que democratiza o acesso à informação e recompensa o melhor conteúdo, está ficando cada vez mais distante da realidade.

Para onde vamos agora?

O momento exige reflexão — e ação.

  1. O Google precisa urgentemente rever sua política de priorização de conteúdo. A comunidade que sustenta a internet aberta não pode ser engolida por IA genérica e resultados de spam.

  2. Produtores de conteúdo precisam diversificar seus canais. Apostar em redes sociais, comunidade própria. A dependência cega do Google não é mais sustentável.

  3. É hora de pressionar por mais transparência. Não é aceitável que mudanças de algoritmo que afetam negócios inteiros sejam feitas sem clareza, sem documentação detalhada e sem diálogo com os afetados.

  4. A discussão precisa ir além do SEO. O que está em jogo não é apenas tráfego: é a pluralidade de ideias, é o direito à informação de qualidade, é o futuro da web como espaço aberto, colaborativo e justo.

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Rafael Nicácio

Co-fundador e redator do Portal N10, sou responsável pela administração e produção de conteúdo do site, consolidando mais de uma década de experiência em comunicação digital. Minha trajetória inclui passagens por assessorias de comunicação do Governo do Estado do Rio Grande do Norte (ASCOM) e da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), onde atuei como estagiário. Desde 2013, trabalho diretamente com gestão de sites, colaborando na construção de portais de notícias e entretenimento. Atualmente, além de minhas atividades no Portal N10, também gerencio a página Dinastia Nerd, voltada para o público geek e de cultura pop. MTB Jornalista 0002472/RN E-mail para contato: rafael@oportaln10.com.br

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