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Campanha eleitoral ou poluição sonora? O dilema dos carros de som

Acredito que é hora de repensar como fazemos as campanhas políticas no Brasil. O uso de carros de som em volumes exagerados não deveriam ser a norma.

Com a proximidade do primeiro turno das eleições de 2024, os carros de som seguem tomando as ruas do Rio Grande do Norte. Para muitos, essa é uma das formas mais tradicionais de propaganda política, mas para uma parte significativa da população, esse barulho é um verdadeiro pesadelo. Os jingles repetitivos e o volume excessivo, que muitas vezes ultrapassa os limites recomendados, acabam gerando não só irritação, mas também sérios problemas para grupos mais vulneráveis.

Por morar em um condomínio aqui em Natal, acredito que sou protegido – um pouco, desse incômodo diário. No entanto, ao visitar familiares em áreas como os bairros de Felipe Camarão e Cidade da Esperança – na zona Oeste da capital, e Nova Descoberta (na zona Sul), percebo claramente o quanto o som ensurdecedor desses carros de propaganda impacta o cotidiano das pessoas.

O mesmo acontece quando percorro outros bairros da cidade, onde o caos sonoro é quase inescapável. Nessas regiões, os carros de som circulam incessantemente, muitas vezes acompanhados de centenas de motos sem escapamento (soltando aquele barulho infernal), criando um cenário que ultrapassa os limites do razoável.

O impacto em grupos vulneráveis

É aqui que quero fazer uma pausa para refletir sobre um ponto importante: o impacto desse barulho nas pessoas mais vulneráveis. Quando falamos de idosos, pessoas doentes, recém-nascidos e pessoas no espectro autista, principalmente aqueles com hipersensibilidade auditiva, o efeito dos carros de som vai muito além do incômodo. Para essas pessoas, o barulho pode ser mais do que irritante – pode se tornar um verdadeiro gatilho para crises de ansiedade, dores de cabeça e, em casos mais graves, problemas de saúde.

Tenho um familiar (sobrinho de minha mulher) que está no espectro do autismo, e ele é extremamente sensível a barulhos altos. Da última vez que passamos por lá, percebi o quanto esses carros de som podem causar desconforto extremo. O barulho é tão alto e tão constante que ele se fecha, evita interações, e isso impacta diretamente seu bem-estar. Para quem convive com pessoas hipersensíveis a ruídos, o som excessivo não é apenas um detalhe incômodo da campanha eleitoral – é um fator que prejudica a qualidade de vida.

Além disso, penso nas mães de recém-nascidos que precisam lidar com o estresse diário de tentar acalmar seus bebês enquanto o som dos carros de propaganda política invade suas casas. Qualquer pai ou mãe sabe o quão sensível um bebê é a ruídos altos, e quando esse barulho chega sem aviso, em volumes absurdos, fica difícil manter o ambiente calmo. Falo isso com propriedade, por ser pai de dois.

E não posso deixar de mencionar os idosos e as pessoas que enfrentam problemas de saúde, como doenças crônicas ou que estão em recuperação de uma cirurgia. Para essas pessoas, o descanso é essencial. Mas como conseguir isso quando os carros de som circulam pelas ruas com volumes altíssimos durante o dia todo? O impacto emocional e físico desse tipo de poluição sonora é devastador, e me preocupa muito a falta de consideração com esses grupos mais vulneráveis.

A regulamentação existe, mas é cumprida?

A legislação até tenta regular o uso dos carros de som nas campanhas eleitorais. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) estipula que o volume máximo permitido é de 80 decibéis, a uma distância de sete metros, e que a circulação só pode ocorrer entre 8h e 22h. Mas, na prática, o que vejo é uma clara falta de fiscalização. Muitos candidatos ultrapassam esses limites e circulam pelas ruas com o volume acima do permitido, carregando multidões e guiados por um paredão, ignorando completamente as normas que deveriam proteger a população desse tipo de poluição.

Para quem se sente incomodado, o aplicativo Pardal do TSE oferece uma maneira de denunciar esses abusos. As denúncias são anônimas e rápidas, mas confesso que, em algumas áreas, parece que a fiscalização não dá conta da quantidade de infrações. É difícil garantir que todos os abusos sejam punidos, principalmente em regiões periféricas, onde a fiscalização tende a ser mais fraca.

Uma reflexão sobre a propaganda eleitoral

Como alguém que vive e acompanha de perto as eleições, acredito que precisamos reavaliar o uso de carros de som nas campanhas políticas. Não estou sugerindo que a propaganda política deva ser silenciosa, mas ela precisa evoluir. Estamos em um momento em que as redes sociais e outras formas de comunicação digital são extremamente eficientes para atingir os eleitores sem causar transtornos à população.

Quando penso no impacto que esses carros de som têm sobre pessoas idosas, doentes, recém-nascidos e aqueles no espectro do autismo, fico me perguntando: será que esse é o tipo de comunicação que os candidatos realmente querem associar às suas campanhas? Causar desconforto e poluição sonora parece mais uma maneira de afastar os eleitores do que de engajá-los.

Acredito que é hora de repensar como fazemos as campanhas políticas no Brasil. O uso de carros de som em volumes exagerados não deveriam ser a norma. A propaganda eleitoral deve ser informativa, sim, mas não à custa do bem-estar de quem vive nas cidades. Respeitar o sossego e o espaço público é crucial. Existem maneiras mais modernas, eficientes e menos invasivas de engajar os eleitores, e é nisso que deveríamos focar.

As opiniões expressas nesta coluna, “Panorama”, são exclusivamente do autor e não refletem necessariamente as visões do Portal N10. Os conteúdos aqui apresentados visam estimular o debate e o pensamento crítico entre os leitores. Convidamos todos a participar da discussão com respeito e abertura às diversas perspectivas apresentadas.

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Rafael Nicácio

Co-fundador e redator do Portal N10, sou responsável pela administração e produção de conteúdo do site, consolidando mais de uma década de experiência em comunicação digital. Minha trajetória inclui passagens por assessorias de comunicação do Governo do Estado do Rio Grande do Norte (ASCOM) e da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), onde atuei como estagiário. Desde 2013, trabalho diretamente com gestão de sites, colaborando na construção de portais de notícias e entretenimento. Atualmente, além de minhas atividades no Portal N10, também gerencio a página Dinastia Nerd, voltada para o público geek e de cultura pop. MTB Jornalista 0002472/RN E-mail para contato: [email protected]

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